A indústria sobreviveu até aqui, e agora está ameaçada por um governo que enxerga o Amazonas e a Amazônia como terras a serem exploradas de forma desordenada.
Editorial de Amazonas Atual
O ex-superintendente da Suframa Alfredo Menezes trouxe à luz, na semana passada, o pensamento bolsonarista sobre a Zona Franca de Manaus. Jair Bolsonaro, Paulo Guedes e companhia imaginam que é preciso acabar com os incentivos fiscais a qualquer custo e de forma imediata para que o Amazonas busque outras matrizes econômicas que alavanquem o desenvolvimento do Estado.
Essa história das novas matrizes econômicas é uma falácia tão antiga quanto o modelo Zona Franca de Manaus, que neste ano completou 55 anos. Todos os governos estaduais nos últimos 30 anos falam nessas novas matrizes econômicas e praticamente nada se fez até aqui.
O governo federal construiu, no início deste século, ainda na gestão de Fernando Henrique Cardoso, o CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia). Àquela época já se dizia que a biodiversidade amazônica seria o motor do desenvolvimento regional, e o CBA seria a instituição que promoveria essa guinada desenvolvimentista.
Até hoje, o CBA nunca foi nada além de um “elefante branco” no meio da floresta. Nenhum governo (Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro) que sucedeu a Fernando Henrique Cardoso fez qualquer esforço para fazer do CBA uma instituição respeitada e atuante.
Mas o discurso das novas matrizes econômicas estava na boca de todas as autoridades locais: empresários, políticos, pesquisadores, líderes religiosos. O problema é que ninguém botou a mão na massa.
Agora, o governo Bolsonaro acha que liberando o garimpo e a mineração em geral; permitindo a devastação da Amazônia, criando pasto na região será possível substituir a Zona Franca de Manaus. Esse é o caminho apontado e incentivado por ele.
Quando a Zona Franca de Manaus foi criada, havia um tripé de desenvolvimento: a indústria, o comércio e a agropecuária. Passados 55 anos, apenas a indústria sobreviveu.
O comércio sucumbiu no governo de Fernando Collor de Mello, quando se abriram as porteiras para a importação de produtos antes importados apenas pelo comércio da Zona Franca.
A cidade de Manaus era, até a era Collor, um importante polo turístico, exatamente por que aqui se vendiam produtos importados a preços acessíveis. Pessoas de todo o País visitavam a capital amazonense para comprar máquina fotográfica, filmadora, aparelho de vídeo cassete entre outros produtos importados.
A perna agropecuária da Zona Franca fracassou logo nos primeiros anos. O Distrito Agropecuário da Suframa, criado em 1976, ocupando os municípios de Manaus e Rio Preto da Eva nunca apresentou resultados satisfatórios.
Os produtores rurais que ocuparam as terras desse distrito foram abandonados à própria sorte e não conseguiram sair da situação de precariedade da agricultura de sobrevivência.
Não houve investimento público nem privado de grande monta para promover a agropecuária nas terras da Suframa.
A indústria sobreviveu até aqui, e agora está ameaçada por um governo que enxerga o Amazonas e a Amazônia como terras a serem exploradas de forma desordenada.
Como a Zona Franca de Manaus é “vendida” como modelo de desenvolvimento que preserva a floresta, Bolsonaro teve a genial ideia de destruir o modelo de desenvolvimento para justificar o avanço predatório da economia sobre a Amazônia.
Se as previsões dos analistas se confirmarem, Manaus se transformará em uma cidade fantasma. O primeiro a sucumbir será o turismo, com a fuga da indústria. Hoje, Manaus tem uma rede de hotéis ociosa, e perderá drasticamente sua clientela formada por pessoas ligadas às fábricas do Polo Industrial.
Sem os cerca de 100 mil empregos diretos, muitos terão que buscar alternativas em outras regiões do país. Com isso, a economia do Amazonas, principalmente a de Manaus, vai virar cinzas junto com a floresta.
Restaurantes, bares, condomínios, transporte, postos de combustíveis, shoppings, o comércio em geral… Todos sentirão os impactos do fim da Zona Franca.
Alfredo Menezes, em seu texto memorável em defesa de Bolsonaro, afirma que “O Amazonas está sendo conclamado, junto com a sua monocultura econômica, para enfrentar um desafio que há muito tempo deveria ter sido feito: encontrar e desenvolver novos vetores econômicos que possam gerar emprego, renda e novas oportunidades para todos os amazonenses.”
O governo federal deveria embarcar nessa ideia e ajudar a “encontrar e desenvolver novos vetores econômicos”. Mas isso deveria ser feito em paralelo à Zona Franca de Manaus, que deveria ser ainda mais incentivada.
Com a Zona Franca morta, Manaus andará 55 anos para trás e dificilmente conseguirá se erguer nos próximos 55 anos.
Fonte: Amazonas Atual
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