Isolamento geográfico pode levar dourados e pintados à extinção
Estudos realizados na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) alertaram para uma provável extinção do dourado (Salminus brasiliensis) e do pintado (Pseudoplatystoma corruscans), peixes que fazem a alegria dos pescadores, em consequência do isolamento geográfico decorrente das barragens dos reservatórios de usinas hidrelétricas.
A separação das populações de dourado causa uma redução da troca genética entre elas e, em cada uma, uma perda de diversidade genética estimada em 60% nos próximos 100 anos, de acordo com o estudo conduzido pela engenheira de pesca Josiani Ribolli e publicado em julho de 2021 na revista científica Neotropical Ichthyology. “Baixos valores de variação genética podem limitar a sobrevivência de qualquer população”, afirma o biólogo Pedro Galetti, coordenador do grupo de pesquisa na UFSCar.
Peixes que migram, como o dourado, formam subpopulações geneticamente distintas dentro da mesma bacia hidrográfica. “Os que sobem o rio Uruguai em outubro são geneticamente diferentes dos que migram em novembro ou no fim da época de reprodução, em dezembro”, diz Galetti. “Vimos que um grupo não encontra o outro e se reproduz em momentos diferentes, ainda que seja da mesma espécie.”
O isolamento causado pelas barragens desorganiza as populações de pelo menos três formas, indicaram os estudos do grupo da UFSCar. Em primeiro lugar, os peixes permanecem sexualmente imaturos, porque, sem nadar rumo às nascentes dos rios, o desenvolvimento dos órgãos sexuais não é ativado. Outro efeito é que as diferenças genéticas e morfológicas entre os grupos de um lado e de outro das barragens podem aumentar, a longo prazo, dificultando a reprodução. Por fim, cai a variação genética entre os indivíduos de cada população por cruzarem entre si e não com integrantes de outros grupos.
“Quanto menor a variação genética, mais os indivíduos se tornam suscetíveis à seleção natural, com chance menor de sobreviverem se, por exemplo, aumentar a temperatura”, diz Galetti.
A bióloga Carolina de Barros Machado, da equipe de UFSCar, verificou que o pintado vive uma situação similar, como relatado em um artigo de dezembro de 2021 na Freshwater Biology.
Para Galetti, o risco de extinção de peixes migratórios poderia ser amenizado com planejamento mais acurado antes da construção das barragens e um monitoramento de longo prazo dos efeitos da hidrelétrica. “Não podemos fazer aleatoriamente o fechamento de um rio nem o repovoamento de peixes”, diz ele.
Fonte: Revista FAPESP
Comentários