“Na expectativa da velocidade digital do 5G, falamos de quarta revolução industrial, uma onda em frenético movimento, onde o conjunto de tecnologias disponíveis permite harmonizar o universo físico, digital e biológico.”
Por Alfredo Lopes
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Em janeiro de 2019, durante a realização do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o Brasil anunciou e assinou a instalação do primeiro centro de estudos e pesquisa voltado para a indústria 4.0, denominado C4IR Brasil. Estavam presentes o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa e o governador de São Paulo, João Doria. Depois começou a disputa política 2022 e a pandemia e ninguém ouviu mais falar em C4IR Brasil. Nem o Google.
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Três anos antes, em 2016, o fundador do Fórum Econômico Mundial, WEF, Klaus Schwab, conclamou os líderes mundiais a se anteciparem aos fatos: “Ainda não estamos suficientemente preparados para essa quarta revolução industrial, que cairá sobre nós como um tsunami e mudar sistemas inteiros”.
Desde então, o setor privado tem buscado ajustar-se à quarta revolução industrial, mapeando os possíveis caminhos que deverão seguir para o alinhamento quanto à manufatura avançada. Passamos a falar muito de Tecnologia da Informação e em Automação e seus efeitos na capacidade, agilidade e responsividade dos processos industriais. Os Polos Industriais do Brasil, Manaus incluída, com suas limitações, se integraram no processo de transformação digital.
Com participação da Fundação Paulo Feitoza, FPF-Tech, e apoio da FIEAM e CIEAM, Federação e Centro da Indústria do Estado do Amazonas, mais a UFAM, Universidade Federal do Amazonas, começou a medição do grau de maturidade e prontidão da indústria 4.0 em Manaus. Os estudos serviram de base para os roadmaps empresariais e para o entendimento do real posicionamento de nossa indústria diante dos novos conceitos da Indústria 4.0.
Coordenado por Sandro Breval, professor e doutor em Engenharia da Produção da UFAM (Universidade Federal do Amazonas e de Santa Catarina), foi desenvolvido um modelo de medição que leva em consideração as características de nossas operações e as diferentes realidades. Trata-se do PIMM4.0, uma ferramenta matemática que verifica as relações existentes entre as variáveis (dimensões) e faz uma comparação com os parâmetros da Indústria 4.0, permitindo uma visualização clara da posição da empresa e sua aderência aos conceitos da manufatura avançada.
São três grandes eixos de medição: Tecnologia e Operações, Ecossistema de Negócios e Interoperabilidade. Estes três eixos foram subdivididos em: Produtos, Manufatura, Estratégia, Logística e Modelo de Negócios. Um teste piloto foi desenvolvido no Polo Industrial de Manaus e os resultados, além de inéditos, são surpreendentes e desafiadores.
Eis os resultados que nos desafiam: dimensão “Estratégia”, 92% dos colaboradores apresentam pouca ou nenhuma habilidade digital, embora 57% da liderança reconheça importância da indústria 4.0. Na dimensão “Manufatura”, 14% das empresas dizem que atendem a requisitos e estariam preparadas para essa nova fase industrial. Mas apenas 6% possuem tecnologias autônomas. Na “Logística”, 42% das empresas mapeadas possuem estoque em tempo real, com visibilidade em toda a cadeia de suprimento (SCM), o que compromete a interoperabilidade e resulta numa redução do indicador principal.
Com base nas relações de cada variável e suas respectivas dimensões, apurou-se para a amostra das empresas, o grau de maturidade e prontidão consolidado no valor de 2,54 ou seja, no nível de transição. “Isso representa, para a indústria local, alguns desafios a serem resolvidos quanto à indústria 4.0”
O PIMM4.0 é composto por uma plataforma web e aplicativo. Na versão 2020 foi inserida a dimensão “Pessoas e Cultura” que mede as relações sócio-organizacionais, técnicas e gestão do time de colaboradores como também a cultura organizacional e seus impactos na maturidade e prontidão. Para o pesquisador, “…a plataforma está em implantação em algumas plantas industriais no Brasil, o próximo passo é aperfeiçoar a metodologia com introdução de inteligência artificial”.
Concluído seu pós-doutorado na Universidade do Porto, Sandro Breval traz para o campo de luta qualificações adicionais que incluem Universidade de Chicago (EUA) na área de Finanças e Políticas Públicas, Insead (França) em Gestão Estratégica, Wharton School (EUA), Strategy and Business Innovation, ESADE (Madrid) em Alta Performance e Liderança. Sandro estará presente em nossa Webinar do dia 26 próximo, as 15:00, com inscrições abertas, veja abaixo, além de outras duas feras no assunto: Roberto Garcia, da Fundação Paulo Feitoza-Tech e Augusto César Barreto Rocha, pela FIEAM e também UFAM.
A palavra de ordem neste momento – em que nossa economia carece de agregação de valor para consolidar – é a Indústria 4.0, um patamar novo saberes e fazeres que desafia o setor privado e sua interface com o poder público. Na expectativa da velocidade digital do 5G, falamos de quarta revolução industrial, uma onda em frenético movimento, onde o conjunto de tecnologias disponíveis permite harmonizar o universo físico, digital e biológico. Uma prosa que remete aos pensadores pré-socráticos que definiam a Physis grega como um universo em que estamos inseridos em harmonia/articulação à mercê do movimento. A aposta que se impõe é a qualificação dos cérebros diferenciados, capazes de ler e conhecer a realidade e sua evolução.
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