E se árvores pudessem gerar eletricidade? Nós não precisaríamos mais de combustíveis fósseis, de usinas hidrelétricas ou nucleares. Este sonho que mais parece utopia tem condições técnicas de se tornar realidade, mas a discussão é: “só porque podemos fazer, devemos fazer?”
Pesquisadores da China, Itália e Japão têm trabalhado nessas árvores especiais a partir de experimentos que envolvem o efeito triboelétrico na folhagem das plantas. O fenômeno acontece quando certos materiais são atritados e depois são separados, gerando eletricidade.
Folhas, que são positivamente carregadas, produzem pequenas quantidades de eletricidade quando entram em contato com o tronco da árvore ou com qualquer outro material negativamente carregado. A equipe pretende captar esta capacidade energética em uma microrede biológica.
Para transformar árvores em geradores eficientes de eletricidade, os pesquisadores usaram técnicas de biologia sintética, também conhecido como engenharia genética, em uma árvore olmo. Eles interferiram na formação dos galhos, aumentaram a grossura e densidade das folhas, adicionaram genes que repelem pragas e aceleraram a taxa de crescimento da planta.
A eletricidade coletada das folhas seria conduzida pelo tronco da árvore até uma estrutura subterrânea que contém uma bateria que pode armazenar até 103kH/h de eletricidade.
“Quando totalmente grande, uma árvore pode alimentar sete casas americanas, e americanos consumem muita energia!”, diz Catalina Lotero, designer industrial integrante da equipe multidisciplinar. O projeto foi apresentado em uma conferência recente na África do Sul.
O resultado final deste trabalho provavelmente só será visto daqui e algumas décadas, já que é necessário esperar pelo ciclo de crescimento de árvores, e Olmos levam 40 anos para chegar à fase madura.
Fazer ou não fazer? Eis a questão
Enquanto isso, a equipe reflete sobre as implicações éticas deste trabalho.
Se o mundo tivesse acesso a esse tipo lucrativo de árvore, isso poderia impactar negativamente a diversidade de vários biomas.
“E se as pessoas se empolgarem com essas árvores e retirarem plantações, árvores frutíferas e todo o resto… O que aconteceria com a vida selvagem?”, indaga ela. “É eticamente correto usar algo que está vivo e alterá-lo como um produto?”
Empresas de tecnologia têm se voltado cada vez mais para etinicistas que podem refletir sobre implicações éticas de produtos de Inteligência Artificial antes que os projetos sigam em frente. Uma empresa especializada nesse serviço é a Unintended Consequences of Tecnology Lab, em São Francisco (EUA).
Uma das financiadoras da pesquisa, a Tokyo Gas, não está pressionando a equipe para que desenvolva logo a árvore, o que é muito importante. “Eu acho que como designers, pesquisadores, arquitetos, cientistas e todos os outros que estão projetando o futuro, temos que reservar um tempo para pensar no pior cenário de cada projeto”, defende Lotero.
Fonte: Quarts Africa
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