Muito oportuna a iniciativa da Suframa na promoção do seminário ‘O turismo como vetor de desenvolvimento da Amazônia’, ora realizado pela autarquia. Esta é uma das matrizes econômicas mais promissoras e a mais descuidada pelo poder público, à luz das potencialidades de nosso repertório natural e da atratividade que a Amazônia implica no imaginário do planeta. As imagens de abandono e destruição do Ariaú Tower, o hotel de selva mais emblemático de nossa História, traduz a negligência com o setor. Imaginar, também, o que já representou o Hotel Tropical em nossa memória recente, dos anos 70 pra cá, e vê-lo fechado “por falta de pagamento do fornecimento de energia” resume a inépcia e o descaso público com um dos negócios que geram mais empregos pelo mundo afora.
O Tropical fechou por falta de clientes, porque o Amazonas não abriu mão dos impostos sobre o combustível como fez São Paulo, Pará, Ceará, entre outros, que perceberam que na gestão pública tem hora que abrir mão de dois significa ganhar 10, sobretudo na geração de empregos e novos negócios.
O desafio da interatividade
De acordo com os participantes foi anotado um clima muito entusiasmado, vindos de todos os rincões amazônicos. Um clima solidário de quem faz parte dessa nave amazônica e tem consciência da necessidade de somar esforços. Falta-nos espírito cooperativo em todas as atividades econômicas. Temos problemas comuns e precisamos de criatividade e interatividade nas propostas e soluções. As distâncias não servem de desculpas, mas as carências de toda ordem, sobretudo de infraestrutura, são motivos de integração. Temos que aprender com o Pará, que soube organizar e somar esforços com o Centro-Oeste para oferecer alternativas de exportação. O Amapá deu lições de bons negócios turísticos para o Amazonas, ao ganhar o reconhecimento do segundo maior estado em oferta de emprego formal do país. Entre os itens, o turismo de destaca há dois anos. Por sua vez, o Estado do Pará acertou em cheio ao trazer as duas maiores universidades de gastronomia da Europa para estudar, adotar e divulgar a culinária amazônica.
Inépcia local
A OIT, Organização Internacional do Trabalho declarou recentemente que mais de 3,3 bilhões de pessoas empregadas no mundo em 2018 não tinham níveis adequados de segurança econômica, bem-estar material ou oportunidades para avançar. Cai a oferta de emprego e pioram as condições de trabalho. Insistir na qualificação das pessoas e promover a infraestrutura a de recepção é combater essa tendência global. Um em cada dez empregos no mundo são gerados pelo turismo. No Brasil, o setor impacta R$ 520 bilhões na economia e é responsável pelo sustento de 7 milhões de brasileiros. Somos, entretanto, o país que menos cresce no continente no incremento dos negócios do turismo. Um país continental, praias entre as mais bonitas do mundo, diversidade numa das maiores florestas do planeta, alagados repletos de animais selvagens, centros históricos de tirar o fôlego e gastronomia ímpar. Mesmo com esse cenário paradisíaco, o Brasil não consegue avançar na atração de turistas estrangeiros.
Sobram recursos, faltam iniciativas
As indústrias instaladas em Manaus contribuem anualmente com quase R$ 1 bilhão para os negócios do turismo e Interiorização do desenvolvimento. O órgão oficial responsável pelo setor de turismo recebia 1% deste valor e, recentemente, chegou a 5%. Investir na Interiorização é também promover o turismo na medida em que gera condições de estrutura receptiva. Infelizmente, esse recurso se esgota no custeio da máquina pública. Em 2014, a população de Manaus assumiu as iniciativas de recepcionar a multidão de milhares de turistas que aqui chegaram e deram mostras de como fazer para transformar acolhimento em oportunidades. Tivemos a chance de mostrar o esplendor do Encontro das Águas emoldurando a terceira planta industrial do país. Em nenhum lugar do mundo um turista poderia percorrer as instalações industriais de grandes multinacionais ao mesmo tempo que contemplassem o magnífico fenômeno natural, degustando nossos peixes inesquecíveis. As vias do Polo industrial estavam intransitáveis, mais ou menos como ainda se encontram até hoje.
Felicitações e protestos
Parabéns a Suframa e seu dirigente Alfredo Menezes pela iniciativa e protestos contra o ministro do Turismo que, estando em Manaus, não prestigiou sequer a abertura do Seminário, simbolizando a atenção que a União Federal dispensa a Amazônia, nosso maior potencial de atração e de transformação em negócios as belezas inenarráveis que a Natureza nos presenteou. Mais uma vez, a propósito, a reunião do Conselho de Administração da Suframa foi adiada por conta da agenda presidencial. E, por conta disso, a aprovação de novos negócios, tudo de que precisamos para não naufragar, fica para depois.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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