Em artigo sobre o futuro que precisa olhar pelo retrovisor para não repetir as trilhas tortuosas do passado, o empresário-acadêmico Augusto César Barreto Rocha inicia o debate da indústria descuidada que somos para a indústria inovadora que queremos. Sem sócios perdulários, porém. Eles não sabem quanta mão de obra ampara o recurso que gastam de qualquer jeito, sem freio nem eficiência. A hora é de sentar para conversar, com transparência, equidade e competência, para o bem-estar geral do tecido social. Confira!
Reiniciar a indústria
Augusto César Barreto Rocha*
Em computação, o termo reiniciar é usado para indicar um novo começo. É isso que a indústria de Manaus necessita: reiniciar. O mundo está em um momento de profundas transformações na atividade industrial: inteligência artificial, robôs, drones, cidades inteligentes, mobilidade, smartphones, nuvem, veículos autônomos, internet pervasiva, biotecnologia e tantas outras iniciativas. Nenhuma delas está verdadeiramente na pauta de nosso Polo Industrial. Se estas novas questões não adentrarem no nosso cotidiano urgentemente seremos tragados pela insignificância.
Dialogar é reiniciar crescendo
Os números já representam isso. O celebrado número de US$ 21.9 bilhões para o período janeiro a novembro de 2017 aponta uma tendência de US$ 23.89 bilhões para 2017, o que superaria apenas 2006, onde o Polo faturou US$ 23.74 bilhões. Em todos os demais anos entre 2007 e 2015 a indústria faturou mais. É um desalento. Faltam iniciativas que apontem para o futuro. E qual é este futuro? Um futuro de diálogo entre as lideranças das instituições que possuem este papel: MDIC, Suframa, Antaq, Anac, ANTT, Seplancti, Fieam, Cieam, Universidades e Institutos de Pesquisas Científicas. Falta diálogo.
O sócio perdulário
As ações recentemente tomadas seguem a apontar para um aprofundamento da crise instalada. Não há ações de estímulo e são abundantes as ações de desestímulo para a indústria do futuro. Há uma tendência na queda dos impostos mundo afora. Enquanto o Brasil tributa 34% dos lucros das empresas, os EUA apontam para 21%, o Reino Unido para 17% e a Rússia 17%. O governo é o maior sócio e ele só quer saber de gastar.
Localmente, Manaus segue com menos infraestrutura de transporte do que nos anos 1980. Além de não recuperar a BR-319, que voltaria a ligar Manaus com o resto do país pelo modal rodoviário, não temos mais porto público, que originalmente foi construído pelos ingleses para a exploração da borracha, nem são permitidos novos empreendimentos portuários privados para a cidade.
Taxação sem discussão
Quando se pensava que teríamos boas novidades com um hub para o aeroporto de Manaus, a Infraero anuncia a direção para a concessão do Terminal de Cargas. Logo em seguida, um aumento absurdo das taxas para movimentação de cargas no terceiro maior aeroporto de cargas do Brasil. Na tabela, apenas para fazer a Geração de Documentação de Arrecadação de Importação (DAI), haverá uma taxa de R$ 300! Para gerar uma cobrança, cobrarão R$ 300. O que deveria ser feito por menos de um centavo em um sistema computacional, custará R$ 300 para o importador: cobra-se para emitir uma cobrança. É como se uma loja de departamento me cobrasse R$ 300 para eu pagar um carnê de compra de uma geladeira à vista. Felizmente em uma reunião no dia 05/02 chegamos a uma possibilidade de entendimento. Em breve esperamos boas notícias, com um coro pela manutenção do TECA como operação estatal por meio da Infraero.
Precisamos de indústria do futuro
De outra forma, seguirão sendo feitas ações para desincentivar a indústria em Manaus. A quem interessa? Este texto faz um convite para que as instituições comecem a conversar no sentido de enfrentar o futuro com ações compatíveis com a necessidade da indústria, ao invés de seguir o velho formato de atrair empresas de grande porte para a indústria do passado. Precisamos de startups e de indústrias do futuro, com condições melhores e mais econômicas para a movimentação de cargas, enquanto a infraestrutura não vem. De outra forma, seguiremos a nos tornar cada vez mais insignificantes. Afinal, o pico da produção do Polo Industrial foi US$ 41.2 bilhões e conseguem celebrar 42% de queda. Lamento, mas eu tenho dificuldade de celebrar: privatização com aumento de custos, onde se cobra até para fazer cobrança e 42% de queda como um bom resultado. Precisamos reiniciar, deu tilt.
* Doutor em Engenharia dos Transportes, professor da Ufam e Coordenador da Comissão de Logística Fieam e Cidam – [email protected]
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