Muitas lições ainda precisamos assimilar ao meditar sobre 2017: celebração do Cinquentenário da Zona Franca de Manaus, uma festa invadida semanalmente pela agressão de jornais e mídias sociais por conta de uma isenção bem sucedida. As origens do ataque são segmentos industriais gananciosos do Sudeste que patrocinam a injúria da comunicação distorcida para atacar as isenções fiscais do Norte, agora com a adesão de setores do próprio governo federal. O mais preocupante é detectar internamente, entre companheiros das entidades do setor produtivo e laboral, a partilha dessa insídia, que faz o jogo, consciente ou não, da difamação. Precisamos conhecer as regras desta trama sórdida, cortá-la na raiz, em lugar de repercutir a agressão.
Na ponta da língua
Foi proposta, na última reunião do ano de Planejamento Estratégico do Cieam, mapear as principais agressões contra a ZFM, e responder com fatos, números e argumentos a defesa de nossa economia e a disseminação de seus acertos. E mais: deixar rigorosamente claro que as agressões continuas, promovidas pelos bolsões históricos da incompreensão e má-fé, se baseiam em fatos decorrentes do confisco da riqueza aqui construída e da desarticulação e precariedade da gestão federal na região.
Manipulação grosseira
A última futrica, dessa vez de um jornalismo adesista, veiculou uma Carta com perversão Capital que associa o segmento de concentrados e a própria ZFM a crimes de sonegação e falsificação de documentos. E os argumentos da notícia, fake news, são os mesmos dos demais veículos que transformaram, há menos de um mês – as três linhas do Relatório Ajuste Justo, do Banco Mundial – dedicadas a recomendar mais eficácia ao desempenho da ZFM – em motivos para acabar de vez com as isenções fiscais do Amazonas. Aos veículos e aos arautos do extermínio pouco importa se as demais 163 páginas do documento versam sobre desperdício e gestão aloprada da economia brasileira. O mote é sempre eliminar o Norte, desde o genocídio da Cabanagem.
Matança da dignidade
Antes da eclosão do Ciclo da Borracha, que respondeu durante 30 anos pela metade do PIB nacional, e que havia se implantado por ingerência da cobiça estrangeira, notadamente inglesa, o Brasil resolveu sufocar a insurgência da Amazônia, influenciada pelos ares libertários da Revolução Francesa. Colonial, monarquista e escravagista, o Império Brasileiro promoveu a matança de 40% da população da Amazônia, sendo 60% da população masculina, no episódio pouco estudado da Cabanagem que se estendeu até 1850. Desde então, o Brasil tem tratado esta região como uma Terra sem rosto, sem alma, portanto, sem necessidade de interlocução ou integração pátria. Hoje, na cabeça dos burocratas de Brasília, isto não passa de um território a ser “integrado”, ocupado e desenvolvido de fora para dentro, por projetos grandiosos de colonização, mineração, agricultura ou de exploração madeireira.
Carreiristas e aloprados
Esses jovens burocratas, carreiristas e aloprados, interessados em fazer de iniciativas regionais, como o CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia, o polo industrial mais coerente com nossa vocação de bionegócios, buscam apenas a chance imperdível de autopromoção e de projeção no paradigma político-partidário-eleitoral. Por isso que o Brasil não entende a Amazônia, muito menos a necessidade e os acertos da Zona Franca de Manaus, cujo mérito é sobreviver pelos avanços que conquistou e, por conta disso, mobilizou a inteligência local em sua defesa. Não faz sentido tanta pressão por aqueles que a espiam à distância sem enxergar seu papel, assimilar suas contradições e demandas.
A disseminação insana da futrica
Para agredir a ZFM, o jornalismo adesista trouxe uma disputa judicial, já decidida pela Suprema Corte, em favor dos acusados, que reconhece não apenas os direitos constitucionais do Amazonas – apenas 9% no bolo dos incentivos fiscais – o único que presta contas, contra 53% de São Paulo, a unidade mais rica da Federação. Além dos direitos, a justiça também se ampara nos acertos, e reconhece os benefícios da proteção florestal. A justiça tem orientado as entidades de classe, através da Procuradoria Geral da República do Amazonas, a entrar no STF, com ADPFs, Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental, para reter na região os recursos gerados pelas empresas para pesquisa, desenvolvimento e investimentos em atividades econômicas no interior. Sobre isso, nenhuma linha na matéria. As empresas incentivadas recolheram R$2,4 bilhões em verbas P&D entre 2012 e 2016, e pouco mais de R$ 1 milhão de reais(sic!) foi destinado para instituições de pesquisa no Amazonas no período. Para os cofres estaduais, nos últimos cinco anos, foram repassados R$ R$7,1 bilhões para Turismo e Interiorização do Desenvolvimento, Micro e Pequenas Empresas e pagamento integral da Universidade do Estado do Amazonas. Isso não importa na campanha sinistra. O que não pode é fazer o jogo da intriga em casa, tratando matérias falsificadas como a expressão da verdade.
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