“Tudo começa com os olhos. Ela tem que ter olhos que vejam mais do que meras futilidades, e enxerguem o bem nas pessoas. 20% anjo, 80% demônio. Com os pés no chão. E que não tenha medo, de sujar as mãos trabalhando. “A frase é de Vin Diesel (Dom Toretto – Em Velozes e Furiosos 4).
A frase oferece algumas pistas de mudanças, e se presta a desenhar alguns traços do país que queremos e a necessidade que temos de, em vez de só apontar a miséria alheia, sem mapear as nossas, a contribuição que temos dado para o estado da arte que as manchetes traduzem.
A cada dia demonizamos a classe política, o poder judiciário, a burocracia, a mídia ou as ordens da chefia, mas poucos conversam honestamente diante do espelho, e poucos de nós abrem mão de usufruir de “distraídas” vantagens para se dar bem. Dizendo de outro jeito, esquecemos de olhar nossa contribuição direta para tudo que está em nosso redor. Precisamos “sujar” as mãos, fundamentalmente, trabalhando, assim todos os culpados acima listados – a começar pela conjugação verbal na primeira do singular – podemos começar a fazer o mesmo.
O percentual que divide o perfil adequado na opina dos “Velozes e Furiosos”, que atribui 80% de perversidade nas relações, nada mais é que um dado para meditação. Se sobram 20% de disposição para o trabalho, na boa vontade angelical, num país movido pelo ideal da ‘sombra e água fresca’… até que está de bom tamanho. Então, mãos à obra, mãos à obra!!!
Quanto custa?
Nesta quarta-feira, 30 de agosto, a Folha de São Paulo, destacou em manchete o preço a ser cobrado pelos serviços ambientais ao planeta que determinados países possam prestar. Trata-se de um debate que tem alimentado o cotidiano das entidades de classe da indústria – http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/08/1914158-paises-devem-receber-para-preservar-suas-florestas-diz-diretor-da-onu.shtml . É inadiável a busca de demonstrar e precificar os serviços ambientais que o Estado do Amazonas oferece ao clima, ajudando a hidratar os reservatórios e permitir que a humanidade respire melhor, a despeito das 10 bilhões de toneladas de fuligem e lixo que a Amazônia como um todo ajuda a limpar anualmente.
Quanto deveria cobrar, na contabilidade ambiental planetária, uma planta industrial, instalado há 50 anos em Manaus, que preserva mais de 95% da floresta do Amazonas, o maior estado da federação? Uma empresa como a Honda, que mantém em Manaus a maior fábrica de motocicletas do planeta, verticalizou – ou seja internalizou a produção de partes e peças – mais de 80% da produção de seu modelo mais popular Honda125CC e, antes da crise, empregava em sua fábrica mais de 7 mil colaboradores em Manaus? Sem emprego, esse batalhão humano vai tomar café, almoçar e jantar a floresta. Quanto vale este serviço ou os sucedâneos ambientais que dele advém.
Os rios voadores
Os ventos alísios – que se formam na área boreal do planeta em direção ao Equador – os mesmos que trouxeram as caravelas dos europeus, há mais de 500 anos, fazem uma circulação tropical contrária à tendência de circulação global. Cientistas brasileiros e russos estudaram essa questão ao explicar o efeito do vapor dos jorros verticais amazônicos. Segundo António Nobre, do INPE, http://www.ccst.inpe.br/wp-content/uploads/2014/11/Futuro-Climatico-da-Amazonia.pdf, eles descobriram que, pela física fundamental dos gases, essas condensações de vapor puxam o ar dos oceanos para dentro do continente e criam uma espécie de buraco de água.
É como uma bomba natural. A floresta traz sua própria umidade do oceano e devolve em forma de nuvens tropicais carregadas. São os Rios Voadores que a floresta conservada oferece, sem cobrar um centavo, ao Sudeste do Brasil. Quanto vale isso?
Os ativos esquecidos
O Amazonas tem muitos ativos monetários a seu favor. Entre eles, um que Samuel Benchimol sempre destacava. “Aqui não é paraíso fiscal e sim paraíso do fisco”. Jamais utilizamos estes ativos nas negociações. Talvez por isso, o paraíso do fisco tenha sido transformado em confisco, especialmente de verbas de pesquisa e desenvolvimento com a concordância preguiçosa da classe política.
Entre os ativos confiscado estão verbas de P&D. Em São Carlos-SP, na unidade de Instrumentação, a Embrapa fornece, em seus laboratórios de Nanotecnologia, os clones de seringueira, a árvore da fortuna, que criou, há cem anos, e por três décadas, o Ciclo da Borracha na Amazônia. Investiu R$3 milhões em equipamentos para fornecer respostas de que a indústria do látex precisa.
A estrela das mudas, curiosamente, é a borracha nativa da Calha do Juruá-Amazonas. O Amazonas não recebe um centavo do Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico desde 2012, há 5 anos, embora as empresas de Informática tenham recolhido R$ 2,3 bilhões ao FNDCT neste período. Pode?
Eleições locais reflexões nacionais
De lá, também, com 779.395 votos (59,27%), o caboco Amazonino Mendes (PDT) foi eleito para o quarto mandato de governador do Amazonas, enquanto seu concorrente, Eduardo Braga, cravou 535.598 votos (40,73%), tropeçando na busca do terceira governança. Ambos, porém, perderam para a soma de votos nulos, brancos e abstenção, que totalizaram 1.012.349 neste domingo emblemático. Um motivo para parar e pensar pois traduz um sentimento Nacional.
Nos últimos 20 anos o Amazonas nadou de braçadas na abundância de recursos dos tempos áureos da economia do polo industrial. As eleições do Amazonas e as que virão no Brasil talvez não saibam ainda para onde ir, mas o cidadão já sabe a modelagem política que não quer. Na memória da maioria da população local, com efeito, restou a desaprovação da atual modelagem.
Os fatos mostram que foram governos analógicos, no sentido da semelhança de condutas, incluindo a franciscana do é dando que se recebe, por sob os panos. À luz da crise que desindustrializa a economia do Estado, salta aos olhos que pouco ou nada fizemos para preparar o Amazonas para a convergência da tecnologia digital, simbolizada pelo smartphone e pela impressora 3D, ou ainda para a Quarta Revolução Industrial, da nanobiotecnologia.
Nos últimos anos, desde 1989, com Fernando Collor, não podemos esquecer, os políticos que governaram o Brasil e o Amazonas foram escolhidos e incensados por nós, os eleitores.
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