O que ocorria no Amazonas, no contexto histórico de agosto de 1960, quando foi fundada a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam)? A figura de Cosme Ferreira, um cearense que aqui chegou aos primeiros anos de vida, resume um clima de debate obstinado pela recuperação da economia do látex. Cosme liderava e acreditava que seria possível, como fizeram os ingleses, cultivar a seringueira em seu habitat natural, melhor que na Ásia. Por isso, mobilizou cientistas e cobrou políticas públicas para resgatar o protagonismo e o orgulho deste Ciclo de Prosperidade.
Além da Companhia Nacional de Borracha, ele criou mais duas empresas focadas em guaraná e em cultivo de outras espécies demandadas pelo mercado mundial. Era o período vibrante da Associação Comercial, a partir da qual preparou dois de seus pupilos, Antônio Simões e Petrônio Pinheiro, ambos formados pelos Salesianos do Colégio Dom Bosco, uma agência de educação qualificada e enraizamento de valores. Omnia vincit labor, o trabalho vence tudo, era a palavra de ordem.
Presença judaica
Naquele momento já estava em operação a Refinaria da Copam, a Companhia de Petróleo do Amazonas, da família Sabbá, de onde saiu o fundador e primeiro presidente, Abrahão Sabbá, juntamente com os delegados dos sindicatos industriais dos setores de serrarias, carpintarias e tanoarias, panificação e confeitarias, cerveja e bebidas em geral, extração da borracha e calçados.
A presença judaica, representada também pelos Benchimol, Bezecry, Benarroós, entre outros, teve em Moysés Israel, que nos deixou há um ano, um ícone da resistência. Ele foi também um dos fundadores e emblemático signo de luta do empresariado amazonense pela defesa do desenvolvimento local. A aquisição da Copam, uma refinaria trazida de Los Angeles, sob sua coordenação e determinação do tio, e sócio, Isaac Sabbá, trouxe também na bagagem a amizade de Roberto Campos e Arthur Amorim que atuavam no Consulado do Brasil na Costa Leste americana. Os dois escreveram, em 1967, por decisão do presidente Castelo Branco, o projeto ZFM ( Zona Franca de Manaus), um marco no desenvolvimento regional do país. Os judeus na Amazônia desencadearam múltiplas ações pioneiras para promover e transformar os itens da indústria e da bioindústria emblemas e poemas naturais amazônicos, a flora do tesouro genético, o leite e o mel da promessa bíblica milenar.
O desafio do conhecimento
No prefácio do livro, ‘Amazônia em novas dimensões’, de Cosme Ferreira, de 1960, escrito pelo historiador e ex-governador do Amazonas, Arthur Cezar Ferreira Reis, eclode uma denúncia de extrema atualidade e gravidade: “Não se criou ainda, no Brasil, uma consciência, fora do emotivismo ou do sensacionalismo de romance e de jornal, elaborada com serenidade e com realismo acerca da Amazônia. Temos preferido conhecê-la, quando não nos deixamos dominar pela frase macia, as sentenças euclidianas, pelas mãos dos homens de ciência do estrangeiro, que não se cansam de frequentá-la e de investigá-la com os propósitos de bem servir ao conhecimento humano, mas, também, aos interesses políticos de suas pátrias”.
Cosme Ferreira foi um profeta que ainda não teve prioridade das investigações acadêmicas. Seus estudos biológicos, notadamente sobre aquicultura, a potencialidade agrícola das várzeas, suas pesquisas etnográficas, de geografia humana, social, econômica e cultural do imenso Vale Amazônico, deveriam ser retomados no âmbito educacional/acadêmico na perspectiva de uma consciência amazônica.
A batuta de Antônio Silva
Sob a presidência do empresário e administrador Antonio Silva, que também faz parte da cúpula nacional da CNI, Confederação Nacional da Indústria – na condição de segundo vice-presidente – a Fieam congrega 27 sindicatos patronais que representam o segmento industrial do Amazonas, merecedores de todas as honrarias. Na construção naval, gráficas, serrarias, carpintarias e tanoarias, fiação e tecelagem, metalúrgicas, mecânicas e de material elétrico, olaria, alimentação, químicas e farmacêuticas, instalações elétricas, gás, hidráulicas e sanitárias, madeiras compensadas e laminadas, marcenaria, artefatos de borracha e recauchutagem, massas alimentícias e biscoitos, bebidas em geral, gravuras e encadernação, panificação e confeitaria, aparelhos elétricos, eletrônicos e similares, construção civil, calçados, extração da borracha, serralheria, pequenas metalúrgicas, mecânicas e similares, brinquedos, material plástico, empresas jornalísticas, meios magnéticos, relojoaria e ourivesaria, confecções de roupas e chapéus, material de segurança e proteção.
Está, ainda de parabéns, portanto, todo o Sistema Fieam, constituído também pelo Serviço Social da Indústria – SESI, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai e Instituto Euvaldo Lodi – IEL, instituições que atuam em educação e qualidade de vida, serviços técnicos e tecnológicos para a indústria e como elo entre os centros de conhecimento e o mercado de trabalho gerado pela indústria.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected] |
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