Publicado na semana passada sob o título ‘A nova fronteira do desenvolvimento rentável e sustentável do Brasil’, no portal de economia Infomoney/Bloomberg, o artigo do professor Augusto Rocha, empresário do Polo Industrial de Manaus e titular da disciplina Biotecnologia e Empreendedorismo da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), é mais um item da prestação de contas ao Brasil da renúncia fiscal como fator de desenvolvimento regional no Amazonas, para redução das desigualdades regionais do Brasil.
Estas iniciativas do Cieam em abrir espaço na mídia do Sudeste, busca aproximar o Brasil dos acertos da ZFM, acolher críticas, integrar esta economia no sumário de uma política industrial, ambiental e de ciência e tecnologia.
http://www.infomoney.com.br/mercados/na-real/noticia/6799352/nova-fronteira-desenvolvimento-rentavel-sustentavel-brasil
Selênio, proteína e outros bionegócios na Amazônia
Augusto César Barreto Rocha(*) [email protected]
Todos os brasileiros entendem que a Amazônia faz parte de um patrimônio importante e com grande potencial econômico, devendo ser preservado para as gerações futuras. A unanimidade começa a reduzir quando se fala em aproveitamento econômico imediato, trazendo oportunidades do futuro para o presente, pois há uma sensação ampla de que não é possível usar os recursos da natureza sem a destruição da floresta, o que é uma ignorância compreensível para o grande público, mas não compreensível no meio de especialistas em desenvolvimento.
Experiências científicas e empreendimentos já testados autorizam eleger atividades – podemos exemplificar com cinco aglomerados de produtos – que demonstram a possibilidade de acessar os recursos naturais com segurança ambiental e taxas atraentes de retorno. Os vetos ao uso dos recursos na Amazônia costumam ter interesses confessáveis – a proteção da biodiversidade – e não confessáveis. Estes estão associados ao temor na mudança do centro de geração de riqueza natural.
Não é preciso muita ciência para a certeza de que a Amazônia pode trazer benefícios para a humanidade, desde a produção de alimentos até a produção de fármacos ou fibras naturais e que isso será muito bom para o país. Isso precisa ficar claro para todos, porque há aqui um interesse nacional e que, em princípio, deve ser um interesse de toda a sociedade. Não será unânime, pois temos que contar com ambientalistas sectários que gostam de condicionadores de ar e computadores – cujos resíduos são preocupantes – mas não podem tolerar o uso sustentável de recursos naturais da Amazônia. Essa restrição, entretanto, cumprirá o papel de reforçar a vigilância em torno de uma economia de baixo carbono como fator de incentivo ao empreendedorismo na floresta.
Estratégia geopolítica
A criação da economia da Zona Franca de Manaus estava também vinculada a um interesse geopolítico, assegurando a presença brasileira na região, com atividade econômica não-predatória. Precisamos agora dar o próximo passo com o uso dos recursos da biodiversidade da região, sob o manto da sustentabilidade, ou seja, ambientalmente correto, com respeito às sociedades envolvidas e também com retorno econômico.
Dissociar qualquer destes elementos vai contra o interesse maior do país. Somos um país financeiramente pobre e pouco competitivo, inserido em uma crise sem precedentes, o que torna oportuno este momento para início da criação de uma nova frente de desenvolvimento, contrapondo o pessimismo dominante e os modelos mentais atuais para a geração de riqueza. Há uma grande oportunidade de criar uma nova fronteira para o desenvolvimento do Brasil, seguindo os padrões da sustentabilidade e do compliance corporativo, tão importante neste momento de nossa história.
A ZFM gera recursos da mudança
De onde virão os recursos para desenvolver este conceito? Eles advêm da riqueza produzida na Zona Franca de Manaus, uma modelagem acertada de negócios que, originalmente, se destinava a substituição de importações, e que começa a inserir recursos na criação de alternativas ao desenvolvimento da região. Aliás, estes recursos já existem e são abundantes e suficientes, desde que eles não sejam – como tem sido – desencaminhados e alocados para outros fins.
O conceito estratégico que propomos é a criação de cinco áreas de desenvolvimento e que cada uma destas áreas deve ser desdobrada em mais cinco áreas, dividindo-se em 25 sub-áreas voltadas para o desenvolvimento de produtos da região. Insistimos: produtos que sejam vendáveis no mercado local, regional, nacional e global. Só a venda poderá levar a sustentação econômica de um projeto de tal envergadura, atraindo investidores e capital de risco, movimentando o dínamo da geração de riqueza.
Os ovos em pé do Inpa
Alguns números para inspirar o leitor: o Amazonas, o maior estado da federação, possui 155.915.900 hectares. A indústria vinícola francesa possui 861.075 hectares de plantação, o que representaria cerca de 0,55% da área do estado do Amazonas.
Há no acervo do INPA, referência mundial de pesquisas tropicais, inúmeros produtos da natureza amazônica que possuem impacto econômico compatível, além dos demais centros de investigação sobre a região. Todavia, para chegar a estes produtos é necessário investimento em pesquisa básica e pesquisa aplicada ao longo de alguns anos, fomentando toda a sua cadeia produtiva. Para tal é necessário a concentração de esforços para que os recursos não sejam desperdiçados. Castanha-do-Brasil, ou do Pará, açaí, andiroba, copaíba ou pescados são produtos com um potencial extraordinário, mas pouco é feito para transformar este potencial em riqueza. Daqui a pouco existirá a plantação de açaí em outros países e lamentaremos, como se deu na borracha, quando foi contrabandeada para os países asiáticos (atualmente uma indústria de pneus de Manaus chega a importar borracha da Malásia!).
A cura das moléstias
A Castanha é reconhecida como a maior fonte natural de selênio. Já fomos os maiores exportadores do mundo e atualmente este posto pertence a Bolívia. Pesquisas da Embrapa, USP, e de diversas instituições estrangeiras, associam o consumo diário de uma castanha ao combate de doenças cardiovasculares, diabetes do tipo 2, câncer, obesidade e Mal de Alzheimer. Sequer conseguimos equacionar, satisfatoriamente o método de teste adotado pelo regulamento europeu que diz respeito ao controle da aflatoxina, um fungo cancerígeno.
Isso ilustra o baixo investimento nas potencialidades das cadeias produtivas com significativas taxas de retorno na Amazônia. Nos anos 1960 éramos praticamente os únicos exportadores. Por conta de nossa incompetência interna, nos últimos anos, tanto a Bolívia, quanto o Peru passaram a exportar mais que o Brasil… muito mais. Nosso maior inimigo é interno, por isso precisamos resolver entre nós como usar de maneira responsável os recursos naturais da região. Será que faremos com a castanha e com o guaraná e o açaí o mesmo que fizemos com a borracha? Hoje o maior produtor mundial do tambaqui é a China e os países asiáticos vendem diversos produtos farmacêuticos a partir da copaíba e andiroba compradas na Amazônia e no futuro produzidas por lá.
Propomos construir uma nova história em cinco arranjos produtivos. Fica o convite para os investidores de capital de risco: venham para a Amazônia – a nova fronteira de desenvolvimento – rentável e sustentável do Brasil.
(*) Doutor em Engenharia de Transportes, empresário, professor do Doutorado em Biotecnologia da UFAM e Diretor da Federação e do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected] |
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