“Quando as indústrias se assustaram com os custos excessivos pela seca amazônica em 2023, que superaram R$ 1,4 bilhão, esperavam melhor planejamento de toda a cadeia uma grande revisão de custos para viabilizar uma operação mais bem planejada e com custos contidos. Houve reuniões com armadores e interações com os agentes de governo ligados com a infraestrutura e tudo demonstrava algum caminho construtivo de soluções equilibradas. A nota de aumento preventivo e muito superior aos custos do ano passado eliminou a confiança em recuperação. Faz sentido ter esperança no cancelamento da decisão já anunciada?“
Por Augusto Rocha
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Carcará é uma ave que pode ser avistada em diversas regiões das Américas. No Nordeste brasileiro é percebida como uma ave de rapina, que foi imortalizada pela dupla Chico Buarque e João do Vale, denunciando a opressão e ataques covardes. Muito associada com a seca nordestina, em nosso imaginário cultural, podemos neste instante de potencial repetição ou agravamento da seca de 2023, no 2024 amazônico, ver ressurgir a lembrança da ave de rapina com outro tipo de oportunista da seca, que mesmo sem a presença dela, já insere custos adicionais.
Em 02/07/2024 um armador internacional colocou alerta de sobrepreço por “águas baixas” a partir de 15/08/2024, para todas as rotas de ou para Manaus, com US$ 5,900.00 de sobretaxas – independentemente de todas as ressalvas aplicadas à notificação, o fato simples é que a cobrança adicional está posta, por mais que o mesmo grupo tenha noticiado que a restrição de calado possa acontecer entre 15/09/2024 e o início de 2025. A sobretaxa começa antes mesmo da confirmação do problema.
Mesmo que exista uma operação de emergência em curso, com a dragagem da região mais crítica em contratação pelo Governo Federal, pelo DNIT. A atitude do grande armador deixa implícito que não há perspectiva de a ação ser eficaz, mesmo que ela tenha sido apontada como a solução pelos próprios operadores de cabotagem da região. A propósito, no último ano, a mesma empresa cobrou, a partir de 28/08/2023 uma sobretaxa de US$ 1,100.00 para exportação desde Manaus e US$ 700.00 para importação, quando tivemos uma situação extrema e recorde.
O grande aumento me fez lembrar imediatamente do Carcará, afinal a ave de rapina é vista em todas as américas, seja em Manaus, Fortaleza ou algumas cidades do Caribe ou Estados Unidos, tal qual grandes armadores. Em 18/09/2023, o mesmo armador, subiu a tarifa de importação para US$ 2,200.00 de sobrepreço, mas agora em julho, já anuncia para agosto, começar com US$ 5,900.00. Assim, todos que imaginavam condições extremas, podem se preparar para condições ainda mais extremas, pelo lado da natureza humana.
Independente do autor do aumento de custos acima, é importante observar que os grandes navios que operam contêineres na Amazônia são parte de grupos internacionais. A Maersk, por exemplo, que opera longo curso (do exterior para Manaus), controla Hamburg Süd (antiga Aliança Navegação) que opera cabotagem (do Brasil para Manaus) é a maior do mundo, com mais de 600 navios, seguida pela MSC, com cerca de 500 navios e pela CMA CGM (que controla a Mercosul Line, que também opera em Manaus), com pouco mais de 500 navios, mas com menos TEUs do que a anterior.
Quando as indústrias se assustaram com os custos excessivos pela seca em 2023, que superaram R$ 1,4 bilhão, esperavam melhor planejamento de toda a cadeia uma grande revisão de custos para viabilizar uma operação mais bem planejada e com custos contidos. Houve reuniões com armadores e interações com os agentes de governo ligados com a infraestrutura e tudo demonstrava algum caminho construtivo de soluções equilibradas. A nota de aumento preventivo e muito superior aos custos do ano passado eliminou a confiança em recuperação. Faz sentido ter esperança no cancelamento da decisão já anunciada?
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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