O futuro da Amazônia — e do Brasil — depende das escolhas que fazemos agora. Quem diz isso são cientistas a partir dos fatos. O tempo para agir é curto, mas as soluções estão ao nosso alcance. Como destacou Paulo Artaxo, “não temos tempo para achismos nem ideologias. É hora de arregaçar as mangas e agir de verdade”.
Anotações de Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
Diante dessa situação climática tão alarmante, o Brasil tem uma oportunidade única de liderar a adaptação climática e a transição para uma economia de baixo carbono. Especialistas e representantes da indústria reunidos no Estadão Summit ESG 2024 foram unânimes em afirmar – no debate com Carlos Nobre na abertura do evento – que as empresas precisam assumir um papel protagonista na mitigação dos impactos ambientais, com foco em práticas mais sustentáveis e na economia circular.
Além disso, as metas de adaptação e transição energética precisam ser revisadas e aceleradas, em especial para responder ao agravamento da crise climática. O Brasil, anfitrião da COP 30 em Belém, terá a chance de rever suas metas climáticas, e espera-se que a conferência seja um marco na luta global contra as mudanças climáticas.
Carlos Nobre reforçou que o Brasil tem todas as condições de ser o primeiro país a zerar as emissões líquidas e destacou a importância da economia circular como um dos pilares da transição energética. No entanto, essa transição exige uma mudança estrutural que envolva tanto o governo quanto o setor privado. Investimentos em energias renováveis, reflorestamento e inovação tecnológica são essenciais para transformar o modelo econômico atual e garantir um futuro sustentável para a Amazônia.
Cientista especializado em mudanças climáticas, um dos mais respeitados do mundo, reforça esse chamado, apontando caminhos concretos para mitigar a crise. Artaxo ressalta que o Brasil precisa ir além das metas atuais, adotando políticas mais ousadas. Segundo ele, a solução passa por uma transformação estrutural na economia, uma transição energética urgente e um combate implacável aos crimes ambientais.
1 – Reduzir a dependência do Agronegócio
Para Artaxo, é urgente reduzir a dependência do agronegócio, especialmente de monoculturas como soja e cana-de-açúcar, que impulsionam o desmatamento e as queimadas no Cerrado e na Amazônia. O cientista sugere uma diversificação da economia, promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis e conciliando produção com preservação ambiental.
2-Acabar com a exploração de petróleo
É outro ponto crucial, especialmente em áreas sensíveis como a Foz do Amazonas. Continuar explorando combustíveis fósseis é incompatível com qualquer esforço sério de mitigação das mudanças climáticas. Essa atividade deve ser substituída por investimentos em energias renováveis, acelerando a transição energética no país.
3 – COP 30 deve pressionar a comunidade internacional
Com a realização da COP 30 em Belém, o Brasil tem a oportunidade de liderar as negociações climáticas globais. Artaxo sugere que o país use a conferência para pressionar as nações mais poluidoras a adotar metas mais ambiciosas de redução de emissões. Esse papel de liderança global é fundamental para garantir compromissos sólidos e ações efetivas em escala mundial.
4 – Eliminar o desmatamento até 2030
A meta de zerar o desmatamento até 2030 é uma das medidas mais urgentes. A destruição da Amazônia não apenas libera grandes quantidades de CO₂, mas também compromete a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos que a floresta oferece, como a regulação do clima. O combate ao desmatamento deve ser uma prioridade absoluta para o Brasil.
5 – Combater os crimes ambientais na Amazônia
A começar pela exploração ilegal de madeira e o garimpo que têm avançado sobre a Amazônia, exacerbando a crise climática. O fortalecimento da fiscalização e a punição severa dos crimes ambientais são medidas essenciais para proteger o bioma e conter o desmatamento. Sem uma ação firme contra essas atividades, a destruição continuará, com impactos irreversíveis.
6 – Acelerar a Transição Energética
Para Artaxo, o Brasil precisa acelerar a transição para uma matriz energética limpa. Investir em energias renováveis, como solar e eólica, é fundamental para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e criar oportunidades econômicas sustentáveis. Esse movimento também impulsionaria a criação de empregos e o desenvolvimento de tecnologias verdes.
O Tempo para Ação é Agora
Tanto Carlos Nobre quanto Paulo Artaxo concordam que o Brasil está em uma encruzilhada. A resposta para a crise climática não pode mais ser adiada. As sugestões da comunidade científica são claras e viáveis, mas exigem coragem política para serem implementadas. O negacionismo climático e a polarização política representam obstáculos significativos, mas a realidade dos desastres ambientais é inegável. As queimadas, vazantes e ondas de calor que assolam o país não são fenômenos isolados — são sintomas de um colapso iminente.
A ciência oferece um roteiro para reverter esse quadro, e o Brasil tem a chance de se reposicionar como líder global na luta contra as mudanças climáticas. No entanto, isso exigirá um compromisso real com a sustentabilidade, a implementação de políticas públicas robustas e a participação ativa da sociedade civil. A transição para uma economia verde não é apenas uma questão ambiental, mas de sobrevivência.
O futuro da Amazônia — e do Brasil — depende das escolhas que fazemos agora. Quem diz isso são cientistas a partir dos fatos. O tempo para agir é curto, mas as soluções estão ao nosso alcance. Como destacou Paulo Artaxo, “não temos tempo para achismos nem ideologias. É hora de arregaçar as mangas e agir de verdade”.
Na semana passada Paulo Artaxo apresentou alguns dos principais fatos científicos que impactam atualmente e que irão impactar ainda mais o futuro do Brasil em reunião com os presidentes dos três poderes da República e demais lideranças políticas. Veja o impressionante vídeo:
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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