As mudanças climáticas, cada vez mais reconhecidas como uma ameaça global, assumiram uma posição predominante nas preocupações econômicas no Brasil, conforme indica a pesquisa Allianz Risk Barometer 2024. Este estudo, que consultou 3.069 especialistas de 24 setores em 92 países, destacou as mudanças climáticas como um dos dez principais riscos para negócios globalmente. No Brasil, este risco avançou dez posições em um ano, marcando-se como o principal desafio para a economia em 2024.
O relatório sobre Clima e Desenvolvimento para o Brasil, divulgado pelo Banco Mundial em maio de 2023, aponta que eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e inundações devastadoras, têm o potencial de agravar a pobreza, ameaçando empurrar entre 800 mil e 3 milhões de brasileiros para abaixo da linha de pobreza. Esses eventos afetam diretamente o emprego e a renda, especialmente em comunidades já vulneráveis.
David Colmenares, diretor-geral da Allianz Commercial para a América Latina, enfatiza que o risco climático para as empresas no Brasil é tripartite. Inclui riscos físicos, como perda ou danos a ativos e interrupções de negócios; riscos de transição, que envolvem a adaptação a uma economia mais sustentável sob pressões regulatórias e de mercado; e riscos de responsabilidade relacionados a litígios climáticos que podem acarretar danos financeiros e de reputação.
Em termos econômicos, as catástrofes naturais seguradas registraram perdas acima de US$ 100 bilhões em 2023 pelo quarto ano consecutivo. Só as tempestades severas foram responsáveis por prejuízos na ordem de US$ 60 bilhões, segundo dados destacados pelo Valor.
O setor de agricultura, seguido pela indústria pesada e a mídia, são identificados como os mais vulneráveis às mudanças climáticas.
Além dos impactos diretos, as mudanças climáticas também devem inflacionar custos de alimentos e energia. Estudos conjuntos do Banco Central Europeu e da Universidade de Potsdam apontam que a inflação global de alimentos pode subir até 3,2% ao ano, com o Brasil enfrentando um aumento projetado de 1,9% ao ano na próxima década.
O panorama é especialmente grave em áreas urbanas marginalizadas. O Brasil, com suas 11,4 mil favelas onde 16,6 milhões de pessoas (8% da população) vivem em condições precárias de habitação e saneamento, enfrenta riscos exacerbados pelas mudanças climáticas. Helio Santos, presidente do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais, destaca a intersecção de questões raciais e ambientais, com uma predominância da população negra nessas comunidades.
Este cenário exige uma resposta urgente e coordenada, tanto em nível nacional quanto global, para implementar estratégias de mitigação e adaptação eficazes. As políticas devem não apenas abordar os impactos econômicos e sociais das mudanças climáticas, mas também considerar as desigualdades preexistentes que esses eventos exacerbam. A situação atual reforça a necessidade de uma abordagem holística e inclusiva para proteger as comunidades mais vulneráveis e garantir um desenvolvimento sustentável de longo prazo.
*Com informações CLIMA INFO
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