“No contexto do Polo Industrial de Manaus, cabe à Comissão ESG do CIEAM garantir que essas políticas se traduzam em mudanças concretas e duradouras. A ação proativa e o comprometimento contínuo são essenciais para evitar que o discurso pró-equidade caia em descrédito, fortalecendo o papel das empresas da região como protagonistas na agenda de sustentabilidade e inclusão social”
Por Régia Moreira Leite
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A questão da igualdade de gênero no universo corporativo tem sido um tema central nos debates sobre sustentabilidade, especialmente à medida que a pressão por práticas inclusivas e transparentes aumenta. No Polo Industrial de Manaus (PIM), essa demanda ganha ainda mais relevância com a atuação da Comissão ESG do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), que busca alinhar as empresas da região às melhores práticas globais de governança ambiental, social e corporativa.
A análise transversal do recente relatório “Perfil Social, Racial e de Gênero das 1.100 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas”, divulgado pelo Instituto Ethos, confirma que, apesar da crescente conscientização sobre a importância da diversidade, ainda existe um descompasso entre discurso e prática. Publicado em 18 de setembro de 2024, o estudo revela que 94% dos líderes das maiores empresas brasileiras concordam que é essencial promover políticas afirmativas para aumentar a representatividade feminina, e 78% já adotam medidas nesse sentido. No entanto, a mudança tem ocorrido de forma lenta, o que limita o impacto dessas iniciativas no cenário corporativo.
No contexto do PIM, os relatórios de sustentabilidade indicam o aumento das iniciativas voltadas à promoção da igualdade de gênero. Muitas empresas da região já incorporam a diversidade como parte de sua estratégia corporativa, refletindo os avanços observados em nível nacional. De acordo com o estudo do Instituto Ethos, 78,2% das empresas pesquisadas desenvolvem políticas para ampliar a presença feminina, e 51,6% possuem metas para aumentar a participação de mulheres em cargos de liderança. Esse movimento é visível em conselhos de administração, cuja presença feminina passou de 11% em 2015 para 18,6% em 2023.
Porém, como no restante do país, o Polo Industrial de Manaus enfrenta desafios similares quanto à efetividade dessas políticas. A desigualdade em posições de liderança permanece significativa, com o fenômeno do “degrau quebrado” — a dificuldade de ascensão de mulheres aos cargos mais altos, mesmo que estejam bem representadas em posições iniciais. A baixa presença de mulheres pretas em cargos executivos é outro exemplo dessa disparidade, com apenas 7,4% das empresas estabelecendo metas para esse grupo, evidenciando uma lacuna entre intenção e resultado.
Essa realidade indica que, apesar do compromisso com a igualdade de gênero expressado nos relatórios de sustentabilidade, as ações nem sempre atingem a profundidade necessária para impactar as estruturas de poder dentro das organizações. Além disso, o enfoque em uma “hierarquia de diversidades” — tratando a desigualdade de gênero separadamente da racial, por exemplo — fragmenta a abordagem e limita o impacto das políticas afirmativas.
Para o PIM e as empresas associadas à Comissão ESG do CIEAM, entidade pioneira neste compromisso, essa análise reforça a necessidade de um esforço mais abrangente e integrado. O desafio não é apenas promover a diversidade em níveis operacionais, mas também garantir que essa inclusão se estenda aos níveis estratégicos e de liderança. A inclusão de uma visão interseccional, que compreenda as múltiplas dimensões da diversidade — gênero, raça, orientação sexual, entre outras —, é fundamental para que as políticas tenham um efeito transformador real.
Em suma, embora os relatórios de sustentabilidade indiquem avanços na direção da igualdade de gênero, a eficácia dessas iniciativas ainda é limitada. No contexto do Polo Industrial de Manaus, cabe à Comissão ESG do CIEAM garantir que essas políticas se traduzam em mudanças concretas e duradouras. A ação proativa e o comprometimento contínuo são essenciais para evitar que o discurso pró-equidade caia em descrédito, fortalecendo o papel das empresas da região como protagonistas na agenda de sustentabilidade e inclusão social.
Régia é economista, administradora, empresária, coordenadora da Comissão ESG e conselheira do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas
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