O camu-camu, fruto amazônico que possui 100 vezes mais vitamina C que um limão, enfrenta desafios em sua cadeia produtiva, mas estudos recentes apontam grandes oportunidades para seu desenvolvimento e comercialização tanto no mercado brasileiro quanto internacional.
Há muitos anos, o Peru comercializa o camu-camu como um alimento, e esse fruto, chamado de “tesouro da Amazônia” devido à sua alta concentração de nutrientes, enfrenta diversos desafios em sua cadeia produtiva para entrar no mercado brasileiro. Mesmo sendo pouco conhecido no Brasil, o camu-camu é um dos frutos com maior teor de vitamina C do mundo, contendo 100 vezes mais vitamina C que o limão e 20 vezes mais que a acerola.
Originário da Amazônia, ele tem potencial para seguir o exemplo de outros produtos naturais da região, como o açaí e a castanha. “O que temos é uma rede embrionária, formada por ribeirinhos extrativistas, que dependerá muito de estímulos governamentais para solidificar o escoamento da produção. No entanto, identificamos o enorme potencial para no futuro gerar bionegócios de grande valor a partir dele”, observa Fernanda Cidade, mestre em ciência do ambiente e sustentabilidade e analista de projetos do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam).
Para impulsionar a comercialização do camu-camu, o Idesam realizou uma consultoria em Roraima, focada na cadeia produtiva do fruto para identificar os principais obstáculos enfrentados por produtores e comerciantes. O objetivo dessa iniciativa foi desenvolver estratégias logísticas que facilitassem o comércio do fruto em mercados locais, nacionais e internacionais.
“Embora parte da região onde o fruto é nativo não tenha energia elétrica, há muitas oportunidades para estruturar o transporte, a refrigeração e a produção do camu-camu. Algumas dessas oportunidades incluem atrair indústrias de produção de pó, liofilizados ou spray drive para as proximidades, além de usar pequenos barcos equipados com painéis solares para navegar pelos rios estreitos e processar o fruto em polpa, similar ao processamento do açaí, que é uma das referências sugeridas pelo estudo”, destaca Jane Gaspar, engenheira de desenvolvimento da Fundação CERTI, que é parceira do estudo.
Impacto e soluções sustentáveis do Camu-Camu
A área de Roraima onde o camu-camu é natural, assim como grande parte da região amazônica próxima ao Rio Amazonas, sofre intensamente com o desmatamento, o que afeta a estiagem nas áreas onde o fruto aparece após ficar submerso por aproximadamente três meses. “O plantio em terra firme pode ser uma alternativa viável para o reflorestamento, além de usar tecnologias como drones para mapear as regiões e o período das cheias”, aponta Jane Gaspar.
O camu-camu, abundante na Amazônia, é uma fruta silvestre de tamanho pequeno e forma arredondada, com uma coloração que varia entre vermelho e roxo. Sua árvore pode crescer de um a quatro metros de altura. Pertencente à mesma família da jabuticaba, é altamente valorizada por ser uma rica fonte de antioxidantes, que combatem o envelhecimento ao neutralizar radicais livres. “É fundamental estabelecer esta cadeia produtiva, que está bem fragilizada, para aproveitar todas suas potencialidades, tanto na questão de fomentar a economia local como pelos seus benefícios à saúde”, enfatiza Fernanda Cidade.
Um estudo detalhado sobre os principais desafios e oportunidades na cadeia produtiva do camu-camu em Roraima foi realizado pelo Idesam em parceria com a Fundação CERTI. Este projeto contou com a colaboração de profissionais e especialistas de diversas instituições, incluindo a Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (SEADI), o projeto Partnerships for Forests (P4F), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Sebrae de Roraima.
Impulsão da economia local
O camu-camu, conhecido por seu sabor ácido e adstringente, é geralmente consumido em forma processada, mantendo suas propriedades nutricionais mesmo quando congelado. Aldenira Costa Maia, presidente da Associação de Moradores e Agricultores da Área Devoluta do Complexo Caju (AMAADCC) em Bonfim, cidade situada às margens do rio Tacutu, na fronteira do Brasil com a Guiana, trabalha com o fruto há cerca de um ano. Aldenira conheceu a fruta em 2019 em Caroebe, no sul do estado, e hoje faz parte de uma espécie de cooperativa que produz alimentos à base de camu-camu.
“Nosso carro chefe é a polpa, que custa entre 15 e 18 reais. Com a fruta, nós, as mulheres do grupo, preparamos e comercializamos geleias, bolos e doces. Também temos planos para começar a fazer biscoitos”, destaca Aldenira, que vende esses produtos numa feira no quilômetro 58 da BR 401, aos sábados.
Antes de comercializar, o grupo de 40 sócios ao qual Aldenira pertence congela a polpa, descasca e separa as sementes do fruto, que é vendido tanto na versão verde quanto na madura, mais arroxeada. Dentro da associação que ela lidera, dez famílias já cultivam o camu-camu. “Na minha região tem pouco, mas a Embrapa nos ajuda com as mudas. Leva um ano e meio entre plantar e colher o fruto. Uma das nossas dificuldades é melhorar os nossos produtos, o beneficiamento da produção. No plantio um dos fatores que mais nos dificulta é a irrigação, por ser um fruto de rio”, explica.
Perspectivas futuras
Para Aldenira Costa Maia, os estudos realizados pelo Idesam e pela Fundação CERTI são motivadores para a produção do camu-camu e geram expectativa de que, futuramente, o fruto possa ser industrializado e melhor aproveitado. “Eu vejo como um grande passo esse diagnóstico sobre a cadeia produtiva, porque é um produto nosso, mas que é desconhecido para a maioria das pessoas. E ele precisa ser atrativo para o mercado para ter um retorno positivo. Não pode se perder no lavrado”, ressalta.
Na indústria alimentícia, o camu-camu pode ser processado em sorvetes, licores, compotas, entre outras variedades. Contudo, além dos desafios existentes na cadeia produtiva, o ‘ouro do Amazonas’, também conhecido como caçari ou araçá d’água, precisa de regulpara assegurar a qualificação do produto para uma comercialização ampla, tanto no mercado nacional quanto internacional. “As normas de qualidade são essenciais para avançarmos na comercialização. Procedência, volume e frequência são questões que acabam esbarrando na ausência de uma cadeia produtiva sistemática e confiável”, conclui Jane Gaspar.
Potencial de exportação
Atualmente, o Peru se destaca como um dos principais exportadores de camu-camu, tendo alcançado um recorde histórico de 5 milhões de dólares em exportações no ano de 2020. As exportações foram direcionadas principalmente para cinco mercados: Estados Unidos (47%), União Europeia (17%), Japão (8%), Canadá (7%) e Austrália (7%). Apesar dos resultados positivos alcançados pelo Peru no primeiro trimestre de 2023, as empresas exportadoras ainda enfrentam desafios para atender às demandas do mercado internacional de maneira sustentável ao longo do tempo. A crescente popularidade internacional do camu-camu representa uma oportunidade significativa de expansão que poderia ser mais intensamente explorada pelo Brasil, indicando um vasto campo de oportunidades para os produtores e indústrias brasileiras se inserirem nesse mercado em crescimento.
O estudo completo pode ser lido acessando este link
Com informações do Idesam
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