Em meio a uma seca extrema e recorde de queimadas, 174 pessoas foram presas por crimes ambientais na Amazônia em 2024. A falta de fiscalização e práticas ilegais, como desmatamento e queimadas criminosas, agravam a destruição da floresta e ameaçam a biodiversidade.
O estado do Amazonas enfrenta uma das piores crises ambientais em muitos anos. Em 2024, a floresta amazônica sofreu com um aumento expressivo no número de queimadas, agravado pela seca prolongada e práticas agropecuárias insustentáveis. Além dos impactos imediatos sobre o bioma, essa crise reforça o descompromisso de parte da sociedade civil com o meio ambiente, e a fragilidade das políticas públicas e das operações de combate ao desmatamento e aos crimes ambientais, em nível estadual e municipal. A seguir, exploraremos os principais temas relacionados a essa questão crítica.
Seca prolongada e vulnerabilidade da floresta
Outro fator que exacerba a crise ambiental no Amazonas em 2024 é a seca prolongada. Eventos climáticos, como o El Niño, juntamente com as mudanças climáticas globais, têm intensificado as condições de seca, deixando a floresta mais vulnerável ao fogo.
À medida que a seca se prolonga, a floresta amazônica, que naturalmente depende de umidade para sua preservação, se torna cada vez mais suscetível às queimadas. O ressecamento das áreas de floresta facilita a propagação das chamas, principalmente em locais onde já houve desmatamento ou onde há atividade agropecuária. Esse cenário, segundo especialistas, é um dos piores já registrados.
Recorde de queimadas e 174 pessoas presas
Este é o pior mês de agosto em número de queimadas desde 1998, quando os dados começaram a ser registrados. Foram contabilizados 10.328 focos de incêndio durante o mês passado. O recorde anterior era de 8.500, de 2021 e ano passado o registrou apontou 5,474 focos, os dados são do BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Diante da gravidade da situação, em 4 de abril de 2024 foi lançada a Operação Tamoiotatá, uma iniciativa voltada ao combate da devastação ambiental no Amazonas. Essa operação se destina ao enfrentamento de crimes ambientais na Amazônia como desmatamento ilegal e queimadas criminosas. Até setembro de 2024, a operação já havia alcançado sua sétima fase, com resultados expressivos: 174 pessoas foram presas por envolvimento em crimes ambientais, como queimadas ilegais e exploração madeireira.
Além das prisões, a operação também levou ao fechamento de serralherias ilegais, que operavam sem autorização e contribuem para a degradação da floresta. As serralherias, em geral, servem como pontos de escoamento de madeira extraída de áreas desmatadas, agravando ainda mais a situação do bioma amazônico. As prisões foram realizadas pela Polícia Militar e pela Polícia Civil do Amazonas, com os suspeitos sendo encaminhados para as Delegacias Integradas de Polícia nas cidades em que atuavam.
A Operação Tamoiotatá está concentrada principalmente na região sul do Amazonas, que é onde as atividades criminosas ligadas ao desmatamento e às queimadas têm se intensificado. Municípios como Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã, que registraram grande quantidade de focos de calor, são alvos prioritários dessa ação.
A intensificação das queimadas e do desmatamento reflete uma combinação de práticas agropecuárias e a falta de fiscalização, principalmente em áreas remotas e de difícil acesso. No sul do Amazonas, aproximadamente 60% dos crimes ambientais registrados estão relacionados às queimadas e à extração ilegal de madeira. A Operação “Céu Limpo” também está integrada às ações da Tamoiotatá, com foco específico no combate às queimadas.
Fatores estruturais e a falta de fiscalização
Um dos principais desafios enfrentados pelo poder público no combate ao desmatamento e às queimadas é a insuficiência de recursos humanos e materiais. A falta de servidores dedicados à fiscalização ambiental tem sido um dos maiores obstáculos à efetiva contenção das práticas ilegais.
Especialistas denunciam um desmonte das instituições responsáveis pela preservação ambiental, o que resulta em uma fiscalização ineficiente e permissiva. Além disso, há uma forte crítica à “política do fogo”, que, segundo líderes comunitários, está alinhada aos interesses do agronegócio, permitindo o uso indiscriminado do fogo para limpeza de áreas e preparação de pastagens.
Regiões mais afetadas pelas queimadas
Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã estão entre as regiões mais afetadas pela crise ambiental. Esses três municípios, localizados no sul do Amazonas, são responsáveis por uma grande parcela dos focos de calor registrados no estado.
Apuí, por exemplo, contabilizou 2.267 focos de calor em agosto de 2024, representando mais de 58% do acumulado do ano. Lábrea e Novo Aripuanã também apresentam números alarmantes: 1.959 focos (61% do acumulado anual) e 1.208 focos (72% do total anual), respectivamente. Esses dados refletem a combinação de fatores como desmatamento, uso de fogo para agropecuária e a falta de medidas preventivas eficazes.
Impacto nas comunidades
A crise ambiental também tem um impacto profundo sobre as comunidades indígenas e ribeirinhas da região. Além de lidarem diretamente com os efeitos das queimadas, como a fumaça que compromete a saúde e o ar respirado, essas comunidades também sofrem com a destruição de seus territórios, que são constantemente ameaçados pelo avanço do desmatamento.
A construção de ramais ilegais que conectam os municípios à BR-319, facilitando o acesso a áreas de floresta, também tem sido um ponto de preocupação. Esses ramais ilegais aceleram o avanço do desmatamento, pressionando ainda mais as áreas preservadas e colocando em risco a biodiversidade e a subsistência das comunidades tradicionais.
Com informações do G1, da Amazônia Real e RealTime1
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