“Com precauções e revisões legislativas adequadas, podemos promover uma agenda ESG que vá além do marketing e não se confunda com greenwashing , gerando impactos positivos reais e duradouros na região amazônica. A verdadeira sustentabilidade exige compromisso e transparência, e a Amazônia, com sua importância climática e social, precisa ser respeitada”.
Por Rildo Silva
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Desde a Conferência da ONU no Rio de Janeiro, em 1992, a Sustentabilidade tornou-se referência obrigatória para a operação de grandes empresas globais. Por sua vez, a Agenda ESG (Environmental, Social, and Governance) ganhou destaque no contexto do Acordo do Clima, em Paris, 2015, prometendo um modelo de negócios mais ético e ambientalmente consciente.
No entanto, na prática, muitas dessas iniciativas são criticadas por serem apenas superficiais, um fenômeno conhecido como greenwashing. Num programa de desenvolvimento regional como a Zona Franca de Manaus, alvo de difamações disfarçadas, este é um risco a ser evitado e combatido. Vamos pontuar aqui os desafios da agenda ESG na Amazônia, recomendando precauções e revisões legislativas para combater o greenwashing nos relatórios de sustentabilidade das grandes empresas.
O que é Greenwashing e qual o problema dele?
A urgência climática deveria inibir iniciativas publicitárias inconsistentes, mas não é isso que ocorre. Greenwashing tem sido prática frequente de empresas que promovem uma imagem ambientalmente responsável sem realmente implementar ações efetivas de sustentabilidade. Essas empresas produzem relatórios de sustentabilidade que destacam ações ambientais e sociais positivas, mas que muitas vezes são exageradas ou enganosas. O greenwashing pode enganar consumidores e investidores, fazendo-os acreditar que estão apoiando práticas sustentáveis, quando na verdade estão apenas perpetuando práticas nocivas ao meio ambiente.
Greenwashing na Amazônia
A Amazônia, com sua rica biodiversidade e importância global, tornou-se um foco para iniciativas ESG. No entanto, a região também é palco de diversas práticas de greenwashing. Empresas que operam na Amazônia frequentemente destacam seus compromissos ambientais, mas continuam a contribuir para o desmatamento e a degradação ambiental. Por exemplo, algumas empresas promovem projetos de reflorestamento que não compensam adequadamente o impacto de suas operações ou exageram os benefícios de suas iniciativas ambientais.
Premissas da Contrapartida Fiscal
É relevante recordar que a contrapartida fiscal que dá suporte e atratividade para as empresas de Manaus tem duas premissas básicas: integrar a Amazônia ao resto do Brasil e proteger a floresta. Essas premissas são fundamentais para garantir que os benefícios econômicos não venham às custas da destruição ambiental. A Zona Franca de Manaus, por exemplo, foi criada com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico da região enquanto preserva seu patrimônio ambiental. No entanto, se as empresas se engajam em greenwashing, essas premissas são comprometidas e as vantagens fiscais legitimamente questionadas.
Consequências
As práticas de greenwashing enganam consumidores e investidores e, o que é pior, também minam os esforços genuínos de conservação e, não raro, são praticadas por empresas com reputação mundial. Elas criam uma falsa percepção de progresso ambiental, enquanto os problemas reais continuam a ser ignorados ou exacerbados. O desmatamento, a perda de biodiversidade e a degradação dos ecossistemas amazônicos são frequentemente mascarados por relatórios que enfatizam iniciativas menores e menos impactantes. Isso não só prejudica a credibilidade das empresas, mas também desacelera o progresso necessário para enfrentar a crise climática.
Precauções e revisões legislativas
Para combater o greenwashing, é crucial implementar precauções e revisões na legislação de sustentabilidade, a começar pela auditoria independente. Relatórios de sustentabilidade devem ser auditados por entidades independentes para garantir a veracidade das informações apresentadas. Isso ajuda a assegurar que os dados divulgados sejam precisos e reflitam ações reais e impactantes. Neste contexto, o estabelecimento de critérios claros e mensuráveis para as iniciativas ESG, com indicadores específicos, vão permitir a avaliação do impacto real das ações ambientais e sociais. Esses critérios devem ser desenvolvidos em colaboração com cientistas e especialistas em sustentabilidade.
Crime e castigo
Implementação de sanções rigorosas para empresas que divulgam informações falsas ou enganosas em seus relatórios de sustentabilidade. Multas significativas e outras penalidades podem dissuadir práticas de greenwashing. Em compensação, devem ser cogitados incentivos para empresas que demonstram práticas verdadeiramente sustentáveis, assim como benefícios fiscais e acesso a financiamentos verdes. Isso pode incluir subsídios para tecnologias limpas e apoio a projetos de conservação que gerem resultados mensuráveis. Em todos os casos, a propósito, o envolvimento das comunidades locais na elaboração e monitoramento das iniciativas ESG são fundamentais. As comunidades devem ter voz ativa na definição das prioridades ambientais e sociais.
Compromisso, Transparência e Respeito
A Amazônia precisa de ações concretas e sustentáveis para preservar sua biodiversidade e apoiar as comunidades locais. Combater o greenwashing é essencial para garantir que as iniciativas ESG realmente contribuam para um futuro mais sustentável. Com precauções e revisões legislativas adequadas, podemos promover uma agenda ESG que vá além do marketing, gerando impactos positivos reais e duradouros na região amazônica. A verdadeira sustentabilidade exige compromisso e transparência, e a Amazônia, com sua importância climática e social, precisa ser respeitada.
Rildo Silva é empresário e presidente do SINAEES – Sindicato da Indústria de Aparelhos EletroEletrônicos e Similares e membro da Comissão ESG do Centro da Indústria do Estado do Amazonas.
FAQ
O que é greenwashing e por que é problemático?
Greenwashing é quando empresas fingem ser ambientalmente responsáveis, mas na prática não fazem o necessário para proteger o meio ambiente. Isso engana o público e atrasa os verdadeiros esforços de sustentabilidade, prejudicando o planeta.
Por que a Amazônia é alvo de greenwashing?
A Amazônia é vital para o equilíbrio climático global, o que a torna uma “vitrine” para ações ambientais. Algumas empresas se aproveitam disso, exagerando suas iniciativas sustentáveis para melhorar sua imagem, enquanto continuam a causar danos à floresta.
Como as empresas na Amazônia praticam greenwashing?
Elas podem divulgar projetos de reflorestamento ou conservação que não compensam o impacto negativo de suas operações, ou focar em pequenas ações positivas enquanto ignoram os grandes danos que causam, como o desmatamento.
Como a legislação pode combater o greenwashing na Amazônia?
Leis podem exigir auditorias independentes nos relatórios de sustentabilidade, estabelecer critérios claros para práticas ESG e aplicar penalidades a empresas que divulgam informações enganosas. Isso garante que as ações sustentáveis sejam reais e verificáveis.
Quais são as premissas da contrapartida fiscal na Zona Franca de Manaus e sua relação com o ESG?
As premissas são integrar a Amazônia ao Brasil e proteger a floresta. Para que essas premissas se cumpram, as empresas devem adotar práticas ESG autênticas, evitando o greenwashing, para que os benefícios fiscais sejam justificados.
O que pode ser feito para garantir transparência e responsabilidade das empresas na Amazônia?
Empresas devem adotar auditorias independentes e seguir critérios ESG rigorosos. Leis que punem o greenwashing e incentivam práticas genuinamente sustentáveis, além da participação das comunidades locais, são fundamentais para garantir que as ações sejam realmente benéficas.
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