Por isso não temos ciclovias em muitas cidades, os ônibus urbanos são intragáveis para os usuários e não rentáveis para os operadores, as calçadas são removidas, ao invés de ampliadas e os transportes ao invés de impulsionarem os desenvolvimentos nacionais e regionais se transformam em grandes travas.
Por Augusto Rocha
____________________
Sistemas de transportes possuem alguma complexidade, pois não podemos olhar qualquer dos elementos sem considerar a sua relação com os demais. Como exemplo, ao percebermos um aeroporto, não podemos analisar apenas aquela instalação de uso público, com sua ampla complexidade, envolvendo sua pista, aeródromo, terminais de passageiros, terminais de cargas, estacionamento. Há uma relação ampla entre todo o sistema, desde empresas aéreas, até operadores logísticos, reguladores do transporte, operadores de tráfego e todo um complexo arranjo técnico e operacional. Não é possível dissociar nada.
Este texto está em complementação a este anterior:
O aeroporto internacional de Manaus, construído em 1976, com uma grande reforma que custou mais de R$ 444 milhões, no entorno da Copa do Mundo de 2014, foi concedido para a operadora francesa Vinci, que o administra desde janeiro de 2022, em uma concessão de 30 anos – até 2051. Para ser um negócio rentável, ele precisa ter mais frequências de voos, mais passageiros, mais cargas e este é também o interesse da cidade. Todavia, sua lucratividade é também possível, se ele for mais caro a cada dia, mesmo tendo como contrapartida um uso declinante.
A atratividade para as companhias aéreas se dará por outros fatores, que em grande parte transcendem ao terminal em si. Acontece que estacionar está cada vez mais caro, como exemplo singelo, até pouco tempo atrás fazia sentido deixar o carro no aeroporto para viagens curtas, mas hoje não faz mais. Aconteceu na última sexta e na segunda-feira, 05/02, nova audiência pública para um incompreensível aumento de preços adicional.
Antes esperávamos um ganho de eficiência pela concessão pública, agora se vê aumento de até 6,75% sobre valores CIF para armazenagem. Não faz sentido, pois o produto em si já sofre aumentos, o frete também e o aeroporto insere custos sobre custos, sendo mais danoso do que os pesados impostos. Como exemplo adicional, a capatazia de carga importada sofre, na “proposta” (sic), aumento de preço de R$ 0,0771 por quilograma para R$ 0,8792, incompreensíveis 1.040,34%, num eventual erro de escrita ou um absurdo aumento de improvável justificativa.
Audiências públicas que ignoram o que o público fala é algo inaceitável, mas é o que tem virado tradição nos Sistemas de Transporte nacionais. Por isso não temos ciclovias em muitas cidades, os ônibus urbanos são intragáveis para os usuários e não rentáveis para os operadores, as calçadas são removidas, ao invés de ampliadas e os transportes ao invés de impulsionarem os desenvolvimentos nacionais e regionais se transformam em grandes travas.
Ainda não percebo em nada o ganho de eficiência no aeroporto de Manaus concedido para a Vinci. Certamente haverá vários ganhos para o operador interno, onde a gestão do que não vemos estará melhor – inclusive na rentabilidade. Todavia, o que interessa aos usuários: melhor serviço, menores custos, maior frequência de voos não é o que se vê. Ainda faltam 28 anos, tomara que os próximos sejam melhores para todos, por ora não é o que se constata.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
Comentários