Em uma notável descoberta científica, pesquisadores do Laboratório de Ecologia de Peixes (LEP) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) identificaram três novos locais de ocorrência dos peixes das nuvens, rivulídeos que englobam mais de 300 espécies no Brasil. Com 130 destas espécies já listadas como ameaçadas de extinção pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), este achado adquire ainda mais relevância.
A Busca pela Conservação
Os locais recentemente descobertos são a Área de Proteção Ambiental (APA) das Brisas, na Baía de Sepetiba, e duas localizações em Seropédica, sendo uma delas no próprio campus da UFRRJ.
Gustavo Henrique Soares Guedes, pesquisador responsável pela descoberta, revelou que a espécie em questão, Notholebias minimus, é endêmica do Rio de Janeiro, não sendo encontrada em qualquer outro lugar do mundo.
A especificidade desse peixe, que alcança no máximo quatro centímetros de comprimento, aliada ao seu risco de extinção, realça a necessidade de medidas protetivas urgentes. Guedes explicou a raridade da espécie ao dizer que, embora tenham sido encontrados anteriormente em locais como o Bosque da Barra e a Reserva Biológica de Guaratiba, a equipe não conseguiu localizá-los em uma visita recente.
O ciclo de vida peculiar destes peixes, alternando entre ambientes aquáticos e terrestres, e o fato de seus ovos serem extremamente resilientes e capazes de sobreviver por até seis meses sem água, os torna únicos. No entanto, essa singularidade não os protegeu da degradação do habitat, mudanças climáticas, poluição e, preocupantemente, do tráfico.
Curiosamente, não são os peixes que são traficados, mas seus ovos. Guedes revelou que os traficantes coletam ovos de ambientes naturais, reproduzem os peixes em aquários e, posteriormente, comercializam esses ovos ao redor do mundo.
Próximos Passos
Em resposta a esses desafios, Guedes e sua equipe planejam mapear a presença dos peixes das nuvens em todo o Brasil para identificar novos locais de ocorrência e estabelecer áreas de conservação. O início dos trabalhos de campo está previsto para outubro, com foco inicial na Região dos Lagos.
Os resultados do estudo foram publicados na revista Neotropical Ichthyology e os novos dados de ocorrência foram inseridos no Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SIBBr) e na Global Biodiversity Information Facility (GBIF).
A pesquisa teve o financiamento de instituições renomadas, incluindo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
Em meio às adversidades e aos desafios crescentes, esta descoberta fornece uma centelha de esperança para a conservação da biodiversidade brasileira e destaca a importância contínua da pesquisa científica para o nosso ecossistema.
*Com informações Agência Brasil
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