Cientistas descobriram que um tipo de solo – chamado Terra Preta da Amazônia – não apenas acelera o crescimento das árvores em até 6 vezes, como também aumenta sua qualidade.
Que a Amazônia é um tesouro do planeta, não há dúvidas. Estima-se que a floresta abriga 390 bilhões de árvores individuais em cerca de 16 mil espécies diferentes, o que faz com que seja a maior e mais diversa extensão de floresta tropical do mundo.
Curiosos com essa grande abundância, pesquisadores brasileiros decidiram estudar o solo da Floresta Amazônica e descobriram algo incrível. A chamada Terra Preta da Amazônia (TPA) é bem diferente de outros tipos de terra. Ela é rica em nutrientes e microrganismos que impulsionam o crescimento das plantas da região.
Os nativos da Amazônia usam a TPA para plantar alimentos há séculos e não precisam de adubação para as plantas – Luis Zagatto, Cena-USP
De acordo com a pesquisa, a TPA apresentou quantidades muito maiores de nutrientes do que amostras de solo comum – 30 vezes mais fósforo e, para todos os demais nutrientes (exceto manganês), de 3 a 5 vezes mais. A TPA também possui uma acidez menor.
Nas análises em laboratório, a terra preta da Amazônia apresentou quantidades muito maiores de nutrientes e microrganismos benéficos para as plantas (imagem: Tábita Hünemeier)
Além disso, os microrganismos da TPA – bactérias, arqueias, fungos e outros – atuam como espécies de cozinheiros, transformando substâncias que as plantas não conseguem ingerir em coisas que elas podem de fato aproveitar. O resultado são árvores que crescem mais saudáveis e mais rapidamente.
Como os pesquisadores descobriram que a Terra Preta da Amazônia é tão especial?
Os cientistas coletaram amostras de TPA no Estado do Amazonas e, como amostra de controle, solo agrícola da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), localizada em Piracicaba.
Depois disso, preencheram 36 vasos com terra e os instalaram em uma estufa com temperatura média de 34 °C – já antecipando os efeitos do aquecimento global, visto que as temperaturas atuais da Floresta Amazônica ainda variam entre 22 e 28 °C.
Um terço dos vasos recebeu apenas o solo agrícola, outro terço uma mistura de ambos os solos, e o último terço foi completamente preenchido com TPA
Sementes de capim braquiária foram plantadas nestes vasos e se desenvolveram durante 60 dias. Depois disso, pesquisadores cortaram o capim e deixaram apenas suas raízes, para simular um cenário de restauração de pastagens degradadas. Por fim, árvores foram plantadas nos vasos e analisadas.
A adição de TPA impulsionou o crescimento das três espécies analisadas pelo grupo: mudas de cedro-rosa e de angico-amarelo cresceram até 6 vezes mais com a terra amazônica. O plantio de embaúba não chegou nem a crescer no solo agrícola, mas prosperou na terra da floresta. E até o capim braquiária, que não era o foco da pesquisa, cresceu 8 vezes mais na TPA.
Quais são as aplicações dessa descoberta?
Todo ano, o Brasil perde uma extensa área florestal, não só no bioma amazônico, mas em todo o território do país. E em paralelo, solos férteis estão sendo esgotados pela atividade agrícola e estão perdendo sua produtividade. Por isso, é necessário, cada vez mais, encontrar maneiras de restaurar essas áreas e fazer as florestas voltarem a crescer rapidamente.
O objetivo final da pesquisa era, portanto, compreender quais são ascaracterísticas químicas e biológicas da TPA que são tão benéficas para as plantas, para então tentar replicá-las em solos degradados e recuperá-los.
Precisamos entender exatamente quais são os microrganismos responsáveis por esses efeitos e de que forma poderíamos utilizá-los sem necessitar da TPA propriamente dita – Luis Zagatto, Cena-USP
Ainda há muito trabalho pela frente, mas os resultados obtidos pela pesquisa são promissores e já mostram que utilizar as características da TPA, seja na produção de mudas ou diretamente no solo, é uma forma eficiente de acelerar os projetos de restauração ecológica em florestas tropicais.
Texto publicado em Tempo. com
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