“Especialista em pessoas, Silvana Aquino é nascida e nutrida nas margens do caudaloso e majestoso Rio Solimões, e carrega nas veias o DNA da etnia Mura, a mais guerreira das etnias amazônicas. Escolhida pelo CIEAM para coordenar a Comissão de Recursos Humanos, ela tem demonstrado que tudo começa a partir da compreensão dos Recursos Humanos, e para eles devem ser direcionados os frutos de todas as lutas”. Confira o bate-papo.
Entrevista por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
Coluna follow-up – Quais os principais serviços e suportes que a comissão de RH ja oferece aos associados do CIEAM?
Silvana Aquino – Hoje a Comissão de Recursos Humanos do Centro da Indústria do Estado do Amazonas está com aproximadamente 5 meses de instalação. Temos proporcionado encontro mensais usando diversas dinâmicas para aflorar informações, reflexões e aprendizagens em torno dessa questão fundamental chamada Recursos Humanos, seja no Amazonas, no Brasil ou mundo afora. Temos priorizado algumas ações através dos subcomitês: Relações Trabalhistas e de Desenvolvimento Humano e de Saúde e Segurança no Trabalho.
No comitê de Relações Trabalhistas, tivemos palestra com especialista, debatemos e analisamos a questão complexa do assédio sexual e moral e seus impactos na organização. O comitê de Desenvolvimento Humano tem trabalhado, no âmbito do CIEAM, ABRH Amazonas e FIEAM, para inventariar, através de pesquisas, as demanda de profissionais do Polo industrial de Manaus. O trabalho se encontra em execução e será apresentado a entidades e instituições diretamente ligadas ao tema. A ideia é diagnosticar problemas e buscar soluções. O Comitê de Saúde do Trabalhador começou nesta semana tivemos palestra sobre o Transtorno de Burnout com Leuza Medeiros. Nos próximos passos vamos abordar a questão da ansiedade e da depressão.
FUp – Problemas emocionais como síndrome de Burnout, ansiedade e depressão não podem ser considerados desafios muito complicados para enfrentar em nível de Comissão?
Silvana Aquino – Entendo que é nas Comissões da entidade que devemos focar e encaminhar essas questões do cotidiano de nossos associados. Os problemas emocionais como a Síndrome ou Transtorno de Burnout, ansiedade ou depressão fazem parte de nossa realidade. Os dados confirmam, principalmente ansiedade e depressão, como uma realidade dentro das empresas e não necessariamente são problemas gerados na empresa, mas são problemas gerados na sociedade como um todo e que temos vivenciado. Temos exemplos na própria família dos funcionários, e isso os afeta diretamente diretamente em seu desempenho produtivo nas organizações. E se é um embaraço nas organizações temos que ter empatia com esse colaborador. Essa é a realidade da maioria das empresas do PIM
FUp – Acompanho desde 2013 os esforços do CIEAM para aproximar a economia da academia estadual, a UEA, que recebe das empresas do Polo Industrial de Manaus os recursos para seu funcionamento. Que avanços e obstáculos você tem encontrado neste desafio?
Silvana Aquino – A parceria com a UEA, Universidade do Estado do Amazonas, também tem sido prioridade da Comissão de Recursos Humanos do CIEAM. Quanto maior essa aproximação mais todos saem ganhando, as empresas, os alunos, a sociedade e a economia. Precisamos conhecer com mais profundidade o que a UEA está oferecendo nessa comunhão imperativa da comunidade estudantil com as empresas locais, suas demandas de recursos humanos, tecnológicos e de inovação.
Falamos em avançar na Indústria 4.0 e sem a Academia isso se torna inviável. Ou seja, precisamos saber das empresas o perfil dos colaboradores requisitados e identificar na Universidade o melhor jeito de atender a demanda. De certa forma, com a pesquisa, já começamos a fazer isso. Essas aproximações já começaram por parte do CIEAM e elas precisam ser mais detalhadas e necessariamente permanentes. De quebra, esse movimento vai permitir um planejamento mais detalhado de parte a parte e ainda assegurar que os alunos, além de vislumbrar seu mercado de trabalho e oportunidades, ajudem a diversificar, adensar e interiorizar a economia, o processo produtivo na direção do desenvolvimento regional.
FUp Problemas de gênero, discriminação, preconceitos podem ser considerados graves no cotidiano das empresas?
Silvana Aquino – Os problemas de gênero, discriminação, assédio e que tais ganharam destaque é reconhecimento com a edição da NR5 que traz orientação para as mudanças nas questões de assédio moral e sexual. A CIPA, nesse contexto, passa a ser também um apoio no olhar dessa temática dentro das empresas. Mas essas questões vão além, porque estamos falando de preconceito, discriminação dentro das organizações de uma forma muito generalizada.
Seguiremos a metodologia que nos parece mais adequada ou viável, que é identificar bons especialistas para assessorar a discussão. Aí também a parceria com a Academia faz mais ainda todo sentido. Por isso, precisamos nos atualizar e trazer esse tema cada vez mais para dentro das organizações para preparar os mais jovens no enfrentamento do assédio, preconceito, discriminação, bullying. Ninguém terá motivos, assim, para empurrar essas questões para debaixo do tapete. É fundamental que cada colaborador, num momento de necessidade, saiba que pode pedir ajuda e se sentir acolhido no enfrentamento de suas dificuldades. Obviamente que isso implica em preparo das organizações e suas liderança para dar esse acolhimento, esclarecimento e amparo.
FUp – Na etnia Mura, quando o líder da comunidade por motivo de falecimento ou doença não consegue continuar governando, a escolha do novo líder se dá entre os indígenas que mais conhece as demandas da comunidade? O que esta tradição milenar te ensinar para a cultura branca?
Silvana Aquino – As lições das populações tradicionais da Amazônia são múltiplas e preciosas. A primeira deles se refere ao fato de vivermos e trabalharmos no coração da Amazônia, ícone sagrado que habita o inconsciente e ocupa as atenções da Humanidade. Por isso, essa relação cultural, natural e ambiental é necessária. No exemplo que você dá o alerta central se refere à Democracia representativa. Precisamos aprender com os Mura que autoridade de verdade é quem conhece as necessidades da comunidade.
E esse conhecimento pode ser apropriado pelas organizações, e ajudar a melhorar a qualidade dos recursos humanos, especialmente para dar as mãos para pessoas que estão em dificuldades. O líder é aquele que sabe o que importa com o que se passa com cada colaborador. Outra lição desmonta a moda insana do etarismo, segundo a qual quem é velho precisa ser descartado.
As pessoas que se dedicam a identificar e equacionar os problemas na relações do cotidiano valorizam as experiências alheias, priorizam observação e se dedicam ao desafio de compreender o universo sideral que pulsa em cada indivíduo. Essas premissas fundamentais que aproximam e unem as gerações e ajudam a solucionar os embaraços da vida social, demonstram que o sujeito, objeto e razão das organizações e instituições da vida social são as pessoas e tudo se resume na compreensão e gestão da condição humana. Afinal, tudo começa a partir da compreensão dos Recursos Humanos, e para eles devem ser direcionados os frutos de todas as lutas.
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Esta Coluna follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras pelo Jornal do Comercio sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes
Silvana Aquino é Diretora de Recursos Humanos e ESG na Visteon Brasil, Presiente da ABRH Amazonas e membra do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas
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