Com a decretação da intervenção na Segurança e suspensão por 90 dias do governador do Distrito Federal, os três poderes foram hábeis e expeditos para conter a tentativa do golpe, preparado desde sempre pelos emissários do ódio. O Estado Democrático do Direito segue altaneiro mas exige rigor na vigilância, julgamento e punição sumária de seus desafetos. Eles estão, em sua absoluta maioria, à solta, alguns no Exterior, mas não podem ser esquecidos. O ódio não se desmancha por auto-degeneração. Ele precisa ser identificado, conhecido em suas nuances malditas para ser dissolvido e eliminado.
Por Alfredo Lopes
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Dia 8 de janeiro de 2023 será lembrado como a celebração do caos, turbinada pelo revanchismo doente e pelo ódio deletério e demagógico que predominou no país nos últimos anos. Disseminação do ódio foi ilustrada pelo espetáculo perverso da destruição dos símbolos e instalações institucionais da Democracia. Os atos do vandalismo foram batizados e protocolizados por instruções detalhadas pelo código Festa da Selma, menção camuflada à saudação Selva!, utilizada como identificação da presença militar no recinto.
Era com a saudação Selva! que os recrutas eram identificados no acesso aos quartéis da Amazônia nos anos 60. Como uma instituição tão considerada pela gente humilde da floresta se deixou, mais uma ver, corromper a própria reputação nessa aventura do desvario por um Capitão que a própria caserna tratou de expulsar. Ele já ensaiava o ódio desde então.
O mantra da Pasionaria
Militares com cargo de confiança – que passaram de 6 ml nos cargos estratégicos do governo Bolsonaro – e respectivos familiares já foram identificados entre os terroristas deste Domingo infernal. Foi na guarida dos acampamentos instalados, com pompas e circunstâncias militares, à frente dos quartéis em todo o país que a poderosa energia do ódio foi amadurecendo a trama anti-democrática que eclodiu e explodiu nas instalações do Congresso, do Palácio do Planalto e da Suprema Corte.
Um planejamento sórdido, minuciosamente desenhado por golpistas qualificados e financiado por empresários que se recusaram a aceitar as regras democráticas das últimas eleições presidenciais. Não passarão!!!, como reza a palavra de ordem antifascista usada nos grandes movimentos pela Democracia no Século XX, abençoada por La Pasionaria, combatente da Guerra Civil Espanhola, 1936-39.
“Haverá banho de sangue”
Como uma intimidação calculada, este foi o mote mais ouvido durante os momentos que antecederam o final das eleições, no dia 30 de outubro 2022, caso Bolsonaro não fosse reeleito. O alarde foi disparada pelas redes sociais, e nas conversas pescadas no ecossistema “patriota”. Essa já era a estratégia-símbolo da extrema direita para radicalizar o ódio, a destruição, o sangue da morte.
Anderson Torres, secretáriao de Segurança do DF, um Bolsonarista raiz, ex-ministro da Justiça, jura não ter nada a ver com o planejamento do caos. Os fatos o contradizem e as apurações estão a galope. Foram quatro anos de combate da Democracia, da distorção constante no papel constitucional das Forças Armadas, encurraladas pelo projeto patológico de um ex-militar aloprado e efetivamente despreparado.
O ensaio na diplomação
O ensaio da destruição fatal começou no dia 12 de dezembro último, da diplomação dos novos dirigentes do país. Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin. O vandalismo impune até o momento foi um incentivo mais do que estimulante para o ataque deste domingo. Uma turba, estimada em 5 000 golpistas, desembarcados com proteção policial do Distrito Federal se espalhou, a partir das 14, pelos acessos aos três símbolos principais da Democracia. Congresso, Suprema corte e Palácio do Planalto.
Como defesa preventiva meia dúzia de guardas aterrorizados, enquanto levavam porretada, tentavam acertar o rosto dos golpistas com spray de pimenta.
O que vimos pelas emissoras de TV, a partir de então, foi o retrato eloquente da destruição com a conivência explícita das autoridades responsáveis. A mídia mundial, estarrecida como todos os cidadãos decentes do país, passou a lamentar, condenar e ironizar a fragilidade da estrutura de segurança preventiva, inexistente e conivente, por quem deveria fazê-lo com rigor e competência, o governo do Distrito Federal.
O país sabia do plano
A estrutura de disparo da desinformação em massa, atuante desde 2018, quando conseguiu eleger Bolsonaro, enfim espalhou sem dó nem avareza, a informação procedente. A festa da Selma, o convite aberto e explícito do comando bolsonarista, instruído ao que se sabe pelos próprios organizadores do ódio, já estava esboçado nas redes sociais desde o Dia dos Mortos, em novembro passado. O que foi feito? Além do bizarro grupo de guardas de segurança do Congresso, que tentavam impedir os criminosos, com spray de pimenta, cavalarianos assustado tentaram empurrar os terroristas em vão. Foram repelidos e alguns cavaleiros derrubados. Ficou evidente a cumplicidade velada das autoridades responsáveis pela prevenção.
Democracia se impôs
Com a decretação da intervenção na Segurança e suspensão por 90 dias do governador do Distrito Federal, os três poderes foram hábeis e expeditos para conter a tentativa do golpe, preparado desde sempre pelos emissários do ódio. O Estado Democrático do Direito segue altaneiro mas exige rigor na vigilância, julgamento e punição sumária de seus desafetos. Eles estão, em sua absoluta maioria, à solta, alguns no Exterior, mas não podem ser esquecidos. O ódio não se desmancha por auto-degeneração. Ele precisa ser identificado, conhecido em suas nuances malditas para ser dissolvido e eliminado.
“Não há salvação fora da Lei”, isso vale para todos, em princípio, meio e fim, posto que Democracia está baseada no bem comum: quem ameacá-lo deve ser submetido e legalmente punido.
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