Cobrando autoridades políticas para que cumpram os acordos climáticos, 18 cientistas do mundo se reuniram para revisar os conhecimentos e reafirmar a necessidade de ações urgentes, e que as crises de mudança climática e de biodiversidade sejam tratadas de maneira integrada.
Em novo grande estudo publicado pela Science, considerada o maior periódico científico do mundo, 18 cientistas se juntaram para publicar uma revisão dos conhecimentos existentes ao longo de 167 artigos compilados. No estudo, os pesquisadores se debruçaram sobre a relação entre as duas crises ambientais da nossa era: a climática e da biodiversidade, a relação entre as duas, e as soluções possíveis.
O artigo, denominado “Superando as crises combinadas de clima e biodiversidade e seus impactos sociais” (tradução livre), ou “Overcoming the coupled climate and biodiversity crises and their societal impacts” em inglês, reforça que a espécie humana está induzindo um aquecimento do planeta para níveis superiores ao do Holoceno – período em que o Homo Sapiens evoluiu e se espalhou pelo planeta, há 12 mil anos e que dura até hoje. E que esse fato está causando uma perda enorme de biomassa, biodiversidade e de habitats para os humanos.
Além disso, o aquecimento do planeta está aumentando de forma jamais vista e aumentará ainda mais a frequência dos chamados eventos climáticos extremos – como os que aconteceram esse verão no litoral norte de São Paulo, com chuvas recordes.
Leia o artigo em inglês no site da revista Science clicando aqui
A temperatura da superfície do planeta já aumentou 1,09 °C desde a época pré-industrial – mais rápido do que em qualquer outro momento, pelo menos, nos últimos 2000 anos.
Também é mencionado o fato que o acirramento das mudança climática se dá num momento onde se encontra cada vez mais soluções econômicas na diversidade biológica para problemas sociais, ambientais e climáticos: nunca houve tantas razões e tantas formas de preservação o meio ambiente e gerar desenvolvimento – mesmo que esse setor esteja relativamente incipiente frente ao seu colossal potencial, da economia circular até a bioeconomia.
O estudo ainda afirma que a inação frente a urgência da crise climática aumentará a vulnerabilidade de diversos povos na terra, geralmente os mais pobres que habitam regiões mais suscetíveis aos eventos climáticos; poderá aumentar a pobreza e a insegurança alimentar diante das mudanças dos ciclos de secas e chuvas e impactando a agricultura; poderá aumentar o deslocamento involuntários de povos de suas regiões e que tudo isso deverá causar instabilidade política e conflitos.
Diante desse cenário, os cientistas apontam que as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, de descarbonização da economia, que foram assinadas pelos países nos acordos climáticos nos últimos anos não estão em trajetória de serem cumpridas até suas datas limites: 2030 e 2050.
As crises globais do clima e da biodiversidade e seus impactos sociais dizem respeito aos ecossistemas terrestres, de água doce e oceânicos, mas são insuficientemente enfrentados pelas ações políticas atuais, conforme registrado e descrito pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change – órgão da ONU para sobre as mudanças climáticas) e IPBES (Intergovernamental Science-Policy – Plataforma sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos).
Adalberto Val, o único brasileiro entre os autores do estudo, honrou o portal BrasilAmazôniaAgora com um depoimento exclusivo:
“As novas metas globais para a conservação da biodiversidade, clima e sustentabilidade previstas para as próximas décadas apresentam grande chance de fracasso se continuarem a ser tratadas de forma insuficiente e independente. É isso que analisamos nessa publicação. Ações concretas para cumprir os acordos e metas políticas atuais precisam aumentar em ritmo e escala.
A diversidade biológica da Terra e as sociedades humanas enfrentam a poluição, consumo excessivo de recursos naturais, urbanização, mudanças demográficas, desigualdades sociais e econômicas e perda de habitat, muitas das quais são exacerbadas pelas mudanças climáticas. Já temos 75% da superfície terrestre e 66% dos oceanos comprometidos de alguma forma. Isso resultou até aqui em uma perda de 80% da biomassa vegetal e 50% da biomassa de mamíferos selvagens.
Temos que limitar o aquecimento a 1,5°C e efetivamente conservar e restaurar ecossistemas funcionais em 30 a 50% da terra, água doce e ambientes oceânicos. A promoção da saúde humana, ecossistêmica e planetária interligada para um futuro habitável requer urgentemente a implementação ousada de intervenções políticas transformadoras, por meio de instituições interconectadas, governança e sistemas sociais desde o nível local até o global.“
Leia o artigo de Adalberto Val para o portal Brasil Amazônia Agora clicando aqui
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