Em nova discurso, o presidente decidiu por superar dicotomia entre estado forte e fraco e afirmou que um “estado necessário” para atuar junto com o setor privado é o caminho para o desenvolvimento do país com inovação, sustentabilidade e inclusão social.
No dia 6 de julho, durante a 17ª reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), realizada no Palácio do Planalto, o governo federal anunciou um investimento de R$ 106,16 bilhões ao longo de quatro anos para impulsionar a nova política industrial do Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do evento e ressaltou a relevância do Estado e do setor privado, bem como a necessidade de profissionais mais qualificados para a retomada da industrialização no país.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) será o principal financiador da política, disponibilizando R$ 65,1 bilhões em recursos. Os demais aportes serão realizados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Durante seu discurso, o presidente Lula enfatizou a importância de direcionar recursos para o BNDES e criar condições favoráveis para os investimentos em inovação. Ele destacou que o Estado não deve ser considerado fraco ou forte, mas sim o Estado necessário para orientar e impulsionar o crescimento econômico do país. Lula também ressaltou que o Brasil precisa tanto do setor público quanto do setor privado, e que a formação de profissionais altamente qualificados é essencial para que o país volte a ser industrializado.
Na visão do presidente, a economia brasileira crescerá quando o dinheiro circular nas mãos da população. Ele afirmou que os investimentos em educação não podem ser encarados como gastos, pois pouco dinheiro nas mãos de muitos contribui para a distribuição de renda, redução da pobreza, aumento do poder de consumo e melhoria da qualidade de vida da sociedade. Lula ressaltou que as medidas tomadas pelo governo estão fazendo com que o dinheiro circule, beneficiando o comércio, a indústria e o emprego.
O presidente também ressaltou que o Brasil possui uma janela de oportunidades para atrair novos investimentos, citando a transição energética, a indústria do gás e os modais de transporte como áreas de potencial interesse. Ele destacou que o país não possui contencioso com nenhuma nação, o que contribui para a sua atração como parceiro comercial.
Desindustrialização do país
Durante a reunião, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, alertou para o processo de desindustrialização precoce pelo qual o país vem passando. Dados apresentados por Alckmin mostram que a indústria de manufatura representava mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro na década de 1970, enquanto atualmente essa participação está em torno de 10%. Esse cenário evidencia o tamanho do desafio que o Brasil enfrenta para reverter essa tendência.
O CNDI, vinculado à Presidência da República e presidido pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, tem como missão construir uma nova política industrial para o Brasil, que seja inovadora, sustentável e inclusiva socialmente. Composto por 20 ministros de Estado, pelo presidente do BNDES e por 21 conselheiros representantes da sociedade civil, o conselho retorna após uma pausa de oito anos.
Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ressaltou que países como Estados Unidos, China, Alemanha e França têm investido massivamente no desenvolvimento industrial de seus países já industrializados. Ele argumentou que a indústria é capaz de suprir as necessidades dessas nações em termos de empregos, conhecimento, tecnologia e qualidade de vida. Andrade citou a importância dos novos investimentos no setor industrial brasileiro e marcos da indústria nacional.
Sergio Nobre, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), afirmou que a classe trabalhadora sempre lutou por uma política industrial. Ele destacou a importância de dar atenção à indústria já instalada, que enfrenta desafios diários para se manter e é responsável por regiões importantes do país. Nobre ressaltou que essa indústria está em processo de transição da segunda para a terceira Revolução Industrial e precisa de apoio para alcançar a neoindústria.
Juros continuam altos
Durante a reunião, também foi abordada a questão dos juros altos, representados pela taxa Selic. Os participantes criticaram o alto custo do crédito, argumentando que os investimentos anunciados não serão eficientes para impulsionar a indústria enquanto os juros se mantiverem elevados. A taxa Selic está definida em 13,75% ao ano, no nível mais alto desde o início de 2017. A desaceleração da economia e o encarecimento do crédito são alguns dos efeitos causados pelo aperto monetário.
Robson Andrade defendeu a redução dos juros no Brasil, ressaltando que o país precisa de crédito com taxas mais baixas. Ele também enfatizou a importância da aprovação da reforma tributária. O representante da CUT acrescentou que o tema dos juros precisa ser debatido no Senado Federal, que é responsável pela aprovação das indicações para a diretoria do Banco Central, órgão responsável por definir a taxa Selic.
Além do anúncio dos investimentos na nova política industrial, foi divulgada a ampliação do programa Brasil Mais Produtivo (B+P), lançado em 2016. O programa oferece consultoria técnica com soluções para aumentar a produtividade, promover a inovação e impulsionar a transformação digital das micro, pequenas e médias empresas brasileiras. Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o programa busca impulsionar o setor industrial e melhorar a competitividade das empresas nacionais.
Com essas medidas, o governo federal busca fortalecer a indústria brasileira, impulsionar aeconomia e gerar empregos de qualidade. A nova política industrial visa promover a inovação, a sustentabilidade e a inclusão social, com o objetivo de reverter o processo de desindustrialização pelo qual o país tem passado.
No entanto, os participantes da reunião destacaram a necessidade de reduzir os juros altos, representados pela taxa Selic, para que os investimentos anunciados sejam efetivos. A taxa elevada encarece o crédito e dificulta o crescimento da indústria. Além disso, ressaltou-se a importância da aprovação da reforma tributária para impulsionar ainda mais o setor industrial.
A ampliação do programa Brasil Mais Produtivo também foi anunciada durante a reunião. O programa busca aumentar a produtividade e promover a inovação nas micro, pequenas e médias empresas brasileiras, contribuindo para o fortalecimento do setor industrial e a melhoria da competitividade das empresas nacionais.
Com essas medidas e investimentos, o governo federal espera impulsionar a indústria brasileira, estimular o crescimento econômico do país e gerar empregos de qualidade. Resta acompanhar a implementação dessas políticas e monitorar os resultados alcançados ao longo dos próximos anos.
Nova política industrial
O governo identifica o processo de desindustrialização precoce como resultado de uma estrutura produtiva voltada para setores primários, encadeamentos frágeis nas cadeias produtivas e exportações concentradas em produtos de baixa complexidade tecnológica. A nova política industrial busca superar esse atraso produtivo e tecnológico, visando à inclusão socioeconômica, capacitação profissional, redução de desigualdades regionais e sustentabilidade.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) definiu seis missões para a política industrial, que abrangem áreas como cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais, complexo industrial da saúde, infraestrutura e mobilidade sustentáveis, transformação digital da indústria, bioeconomia e segurança energética, além de tecnologias de interesse para a soberania nacional.
Os membros do CNDI estão divididos em grupos de trabalho, que se envolverão em diálogos com diversos setores da indústria para identificar gargalos e desenvolver estratégias e ações específicas para impulsionar a atividade industrial nessas áreas. Os próximos passos incluem a definição de rotas tecnológicas para os setores, além da escolha e implementação de instrumentos como financiamento, pesquisa e desenvolvimento, e infraestrutura de qualidade.
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