Recém publicado estudo do Observatório do Clima destaca que a cadeia de produção alimentar é a principal fonte de emissões no Brasil, instigando a necessidade de reformas ambientais e legislativas urgentes.
No ano de 2021, verificou-se que os sistemas alimentares foram responsáveis por emitir 1,8 bilhão de toneladas das 2,4 bilhões de toneladas totais de gases de efeito estufa (GEE) do Brasil, o que equivale a 73,7% das emissões nacionais. Essa foi a conclusão central de uma pesquisa pioneira divulgada na terça-feira (24) pelo Observatório do Clima, a qual analisou detalhadamente as emissões e absorções geradas pela produção, distribuição e consumo de alimentos no Brasil.
As emissões incluem o dióxido de carbono emitido quando a vegetação nativa é removida para dar lugar a campos agrícolas e pastagens; as emissões diretas oriundas da agropecuária, que englobam o metano proveniente do “arroto” do gado; a queima de combustíveis fósseis por equipamentos agrícolas e no transporte de alimentos; o consumo de energia em processos agroindustriais e supermercados, além dos resíduos sólidos e líquidos resultantes dessas atividades.
Principais fontes de emissão
Dentro do contexto brasileiro, as emissões ligadas a estes sistemas são majoritariamente causadas pelo desmatamento, com o setor de mudança no uso do solo contribuindo com 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, representando 56% do total. A agropecuária vem em seguida, com emissões majoritariamente vindas do gado bovino, somando 600 milhões de toneladas, ou 34%, e o setor energético figura em terceiro, com emissões de 100 milhões de toneladas, ou 6% do total.
Inovação e necessidade de atenção
“Esse estudo inova ao trazer um olhar transversal sobre as emissões, conectando numa cadeia todos os setores de emissão que são tratados isoladamente nas metodologias de inventários. E, no Brasil, os sistemas alimentares, e dentro deles a cadeia da carne bovina, respondem pela maior parcela das emissões, merecendo esse olhar especial”, destaca David Tsai, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do OC.
Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, vê o relatório como um alerta para o agronegócio e para as autoridades governamentais. Ele argumenta que o estudo deixa claro que o destino climático do Brasil está nas mãos do setor agropecuário, e até o momento, as ações desse setor apontam para o Brasil no papel de vilão, por meio de tentativas de enfraquecer a legislação de terras indígenas, legalizar ocupações ilegais de terras e eliminar o licenciamento ambiental, além de esforços para se desobrigar de responsabilidades no mercado de carbono.
“Esse relatório deveria ser lido pelos representantes do agronegócio e pelo governo como um chamado à responsabilidade”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Ele demonstra, para além de qualquer dúvida, que está nas mãos do agronegócio o papel do Brasil como herói ou vilão do clima. Até aqui, o setor parece querer que o país encarne o vilão, tentando destruir a legislação sobre terras indígenas, legalizar a grilagem e acabar com o licenciamento ambiental, ao mesmo tempo em que manobra no Congresso para ficar totalmente livre de obrigações no mercado de carbono”, prossegue Astrini.
Com informações do OC e Um Só Planeta
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