Equipamento fornece água potável e gratuita enquanto utiliza energia solar
Um quarto da população mundial ainda não possui acesso a água potável, segundo relatório das Nações Unidas. Em graus diferentes, tal acesso está intimamente relacionado à pobreza. Na África Subsaariana, por exemplo, apenas 24% da população consegue a substância limpa e segura. É neste contexto que surge um poço solar para fornecer água potável em um vilarejo no Senegal: a infraestrutura hidráulica é capaz de extrair, purificar e armazenar água gratuita localmente.
O projeto consiste na instalação de um poço de 32 metros de profundidade, equipado com painéis solares e uma unidade de descontaminação e esterilização UV (ultravioleta), de forma a torna-la apropriada para consumo humano. O processo aplica filtros de osmose, além da esterilização eliminar os vírus e bactérias presentes na água.
Capitaneado pela organização humanitária Balouo Salo, a ação foi desenvolvida com doações privadas em Kenewal, área rural do sul do Senegal.
Os recursos do poço solar contribuem para garantir água realmente limpa e, desta forma, evitar as contaminações e reduzir os casos de diarreia. A aldeia de Kenewal é habitada por mil pessoas e há três outras aldeias nas proximidades, totalizando cinco mil pessoas ao redor.
Poço solar
O modelo de poço proposto pela organização Balouo Salo pode atingir até 40 metros de profundidade, dependendo do lençol freático e do tipo de subsolo. A escavação é feita com máquinas de perfuração e depois o buraco é protegido da erosão e desmoronamentos. Na abertura, uma bomba hidráulica é inserida. Devido à pressão do aquífero subterrâneo, o interior se enche de água e se recarrega sazonalmente, dependendo do ciclo de chuvas. Por ser uma fossa profunda, a água é menos poluída e há menos resíduos.
O poço também é equipado com uma bomba submersível alimentada por energia solar através de uma estação fotovoltaica. Os painéis solares, de 250 a 500w, e baterias permitem armazenar e reutilizar a energia a qualquer hora do dia.
A água extraída pela bomba é enviada para um sistema de filtragem em etapas: um pré-filtro com membranas remove sedimentos, passa então através de um tubo de aço inoxidável com uma lâmpada UV que esteriliza e elimina as bactérias (esta é a mesma esterilização normalmente usada em instrumentos cirúrgicos). Posteriormente, a água é enviada para um filtro de membrana osmótica que elimina 95-98% de bactérias, incluindo cólera, estafilococo e giardia.
Por fim, o líquido é enviado para bacias esterilizadas e está pronto para consumo. A água é conectada a torneiras para facilitar o acesso da comunidade. Parte dela disponibilizada aos moradores não passa pelo processo de filtragem, sendo destinada para outros usos, como para a agricultura.
Situação precária
A acessibilidade aos serviços e infraestruturas é inexistente na aldeia de Kenewal. Segundo a Balouo Salo, 88% dos habitantes da região vivem em habitações que descartam os resíduos domésticos na rua, no mato ou em aterros ilegais. A expectativa de vida local é inferior à média nacional, sendo que duas em cada três crianças correm risco de desnutrição e, consequentemente, de mortalidade. Além disso, cerca de 80% das crianças com menos de cinco anos correm o risco de contrair diarreia, giardíase e cólera, o que se deve também à ausência de vacinas e à inacessibilidade a cuidados médicos.
“A situação é alarmante e temos que agir. As alterações climáticas, o avanço do deserto, a falta de água e de redes de esgotos, a pobreza e a falta de infraestruturas significam que a água potável é agora uma mercadoria de luxo e uma raridade”, afirma a Balouo Salo. A organização estima que a construção dos poços modernos, com purificação, 60 a 70% das doenças em decorrência da água contaminada sejam reduzidas.
Este projeto foi desenvolvido na aldeia de Kenewal, município de Baghere, região de Sedhiou, mas várias outras iniciativas semelhantes já foram levadas para outras áreas no Senegal. Acompanhe o trabalho da Balouo Salo aqui. Neste vídeo documentário é possível ver a construção do poço em Kenewal.
Fonte: CicloVivo
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