“Agora estamos mais uma vez ilhados, isolados do resto do país, do mesmo jeito que estávamos na crise de oxigênio de 2021, que matou muita gente no Amazonas porque o Brasil, como sempre, está nem aí para a Amazônia.”
Por Belmiro Vianez Filho
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Virou uma aventura, ou desventura, a necessidade de viajar de Porto Velho a Manaus por via aérea ou rodoviária? Unilateralmente, a Gol suspendeu o voo tradicional entre duas das principais cidades da Amazônia Ocidental, sob a alegação de que os usuários estão reclamando demais na justiça. Reclamando de seus direitos, da ganância a qualquer custo que tenta encobrir o excesso de molecagem com seus clientes regionais.
Porto Velho e Manaus estão ligadas por miríades de negócios, laços familiares e outras séries de motivos que justificaram a frequência das companhias que servem a conexão, Gol e Azul, há tantos anos. Empinaram seus lucros com os preços exorbitantes de seus serviços. A Azul, por sua vez, e na mesma toada, já informou que fará o mesmo: vai tirar o time de campo, sem qualquer pudor. Ou seja, quem estiver em Porto Velho e quiser viajar até Manaus, vai precisar fazer conexão até Brasília, ali na esquina, com 8:50 horas de acréscimo na viagem. O trecho sempre girou em torno de 1:25 hora. Que loucura é essa?
De outra parte, segue a imoralidade da novela recuperação da BR-319. A posição do Brasil é a mesma de sempre, de cócoras e de costas para a população do Amazonas, e da Amazônia Ocidental, como se todos fôssemos um gigantesco e incomodo apêndice nacional, e não importa se os envolvidos estão inflamados pela indignação. Vejamos a posição da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que não chove nem molha, e nos reafirma há anos que este tema precisa de uma revisão estratégica. Sabe o que quer dizer isso? Nada, multiplicado por nada. No máximo, uma desconversa para nada resolver.
Entra ministro e sai ministro, e ficamos ouvindo promessas de intervenção e findamos com a mesma entrega da decepção. O fato real é que os governos estão nem aí para nossa expectativa, necessidades e direitos de quem recolhe três vezes mais do que recebe e ainda fica em silêncio quando os teclados de aluguel nos acusam de consumir mais de R$50 bilhões a cada ano de recursos federais. Contem outra, arautos da injúria e da dissimulação. Não há um centavo de recurso público dos cofres federais na estruturação e funcionamento da ZFM. Tudo corre por conta do investidor. Aposto qualquer valor a meu alcance com quem apresentar um pix que traduza essa fakenews.
Deixar a rodovia como está, sem recuperação, significa liberar o desmatamento que o atual governo prometeu estancar. Os grileiros e os contrabandistas de madeira, animais silvestres, metais e pedras preciosas atuam livremente. Se recuperassem e fiscalizassem, seria viável conter a grilagem e o desmatamento. Para isso, os países e os beneficiários da floresta deveriam pagar a conta. Mas falta compromisso, vontade política, tratar a Amazônia com decência e responsabilidade.
E sabe quem é o maior responsável por isso, pra começo de conversa de esclarecimento essa esculhambação? Somos nós mesmos que, desde o Ciclo da Borracha, silenciamos com a omissão federal em aplicar na região, ao menos parte da receita, a maçaroca de repasses da Amazônia para os cofres da União. Contribuímos com 45% do PIB por três décadas. Quanto foi agregado para a região produtora da riqueza no período? Nicas de pitibiriba, além do Teatro Amazonas.
Poderíamos ter beneficiado a borracha no Brasil, na Amazônia, bem mais perto dos centros consumidores do Rio e São Paulo, e vender os artefatos de borracha que enriqueceram ingleses e companhia até que eles resolveram fazer o aproveitamento científico da seringueira.
Agora estamos mais uma vez ilhados, isolados, do mesmo jeito que estávamos na crise de oxigênio de 2021, que matou muita gente no Amazonas porque o Brasil, como sempre, está nem aí com a Amazônia. O oxigênio foi despachado para Manaus por carreta, sob a alegação de que o transporte aéreo era perigoso para os tripulantes do cargueiro da FAB. Veio pelo atoleiro da BR-319 e demorou 8 dias. O avião que as empresas da ZFM contrataram não era perigoso. Ainda bem.
A lista demonstrativa da negligência, portanto, não se restringe a Gol, Azul, BR-319, crise do oxigênio. Ela é enorme e será eterna se nós seguirmos aplaudindo a narrativa da proteção da Amazônia sem exigir nada em troca nem trabalharmos em mutirão pra dizer basta a tanta encenação.
Belmiro Vianez Filho é empresário do comércio, ex-presidente da ACA e colunista do portal BrasilAmazôniaAgora e Jornal do Commércio
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