Com o crescente impulso global em direção a uma economia de baixo carbono, o Brasil emerge como um território com um vasto potencial para liderar a transição energética e contribuir substancialmente para a descarbonização global. Abundantes em recursos naturais, o território brasileiro é muitas vezes citado como um exemplo brilhante de como os dons naturais podem ser canalizados para mitigar as mudanças climáticas.
No entanto, apesar de seu imenso potencial, o Brasil ainda está atrás na corrida do mercado de carbono, um domínio que tem o poder de transformar a conservação e recuperação de territórios em créditos de carbono, permitindo que as empresas compensem suas emissões de gases de efeito estufa.
Um recente levantamento intitulado “Unlocking Brazil’s Green Potential” (Desbloqueando o Potencial Verde do Brasil) conduzido pela consultoria WayCarbon, ressalta que o Brasil, apesar de ser um dos três países com a maior área florestal do mundo, juntamente com a Indonésia e a República Democrática do Congo, ainda não está captando investimentos em um ritmo comparável a seus colegas africanos e asiáticos. Essa coalizão de nações ricas em florestas foi informalmente apelidada de “Opep das florestas”, no entanto, a participação do Brasil nesta “Opep” tem sido subestimada.
De acordo com Henrique Pereira, Diretor de Operações do escritório brasileiro da WayCarbon e um dos autores do levantamento, os investimentos em projetos de carbono globalmente totalizaram impressionantes R$ 177,5 bilhões na última década. Deste total, apenas R$ 37 bilhões foram direcionados para a América Latina. A disparidade nos investimentos aponta para uma necessidade urgente de reformular as políticas brasileiras e criar um ambiente favorável para atrair investimentos em projetos de carbono.
O mercado de carbono é um mecanismo robusto que, se bem executado, pode alavancar significativamente os esforços de conservação e restauração no Brasil. Este mercado transforma ações sustentáveis e conservacionistas em créditos tangíveis, fornecendo um incentivo financeiro para conservar e restaurar ecossistemas, ao mesmo tempo que ajuda as empresas a cumprir suas metas de redução de emissões.
A Indonésia e a República Democrática do Congo, apesar de enfrentarem desafios similares, conseguiram captar mais investimentos, evidenciando que o potencial do Brasil no mercado de carbono está longe de ser plenamente realizado. O Brasil, com sua rica biodiversidade e extensas florestas, está em uma posição privilegiada para se tornar um líder no mercado de carbono global, se puder ultrapassar as barreiras regulatórias e operacionais que têm desacelerado seu progresso.
As conclusões do levantamento da WayCarbon servem como um chamado para ação. É imperativo que as autoridades brasileiras, junto com stakeholders do setor privado e comunidade internacional, trabalhem coletivamente para desbloquear o potencial verde do Brasil.
A formulação de políticas favoráveis, incentivos fiscais e esquemas de financiamento robustos podem ser catalisadores poderosos para impulsionar o mercado de carbono no Brasil, permitindo que o país realize seu potencial verde e contribua eficazmente para os esforços globais de descarbonização.
Diante da crise climática que assola o mundo, o mercado de carbono surge como uma ferramenta vital para promover a conservação ambiental e a restauração florestal. O Brasil, com sua vasta extensão florestal, detém um potencial substancial para se destacar nesse mercado. No entanto, desafios econômicos e estruturais têm retardado o progresso do país em captar uma parcela maior dessa receita global.
Potencial verde do Brasil
De acordo com o levantamento “Desbloqueando o Potencial Verde do Brasil” realizado pela consultoria WayCarbon, o Brasil possui um potencial para a emissão de créditos de carbono através da conservação florestal que alcança 860 milhões de toneladas de carbono por ano, o dobro do potencial da Indonésia, que se encontra na segunda colocação.
Adicionalmente, para restauração florestal, o Brasil possui um potencial de 288 milhões de toneladas de carbono em projetos considerados custo-efetivos. Até agora, o país tem 30 projetos registrados no Mercado Voluntário de Carbono, com outros 58 em processo de registro. Isso traduz-se em um potencial de 34 milhões de créditos de carbono ao ano, indicando uma margem significativa para crescimento.
Desafios financeiros e operacionais
Entretanto, o custo de restauração florestal no Brasil é uma barreira. Os custos por hectare para projetos de restauração variam entre R$ 19 mil na Mata Atlântica, R$ 17 mil no Cerrado e R$ 8,6 mil na Amazônia. Esses valores enfatizam a necessidade de escala para garantir a viabilidade financeira dos projetos. No setor agrícola, o desafio é ainda maior devido aos custos de monitoramento. Pereira ressalta que, a menos que o valor do carbono ultrapasse os US$ 25, os projetos de agricultura regenerativa não são viáveis no Brasil, com os valores atuais girando em torno de US$ 10.
Segundo a WayCarbon, há um roteiro claro para amadurecer o mercado de carbono no Brasil. No curto prazo, projetos de REDD+ (Reduced Emissions from Deforestation and Degradation) são vistos como a via mais rápida para atrair investimentos. No médio prazo, iniciativas de agricultura regenerativa como agroflorestas tomam a dianteira, enquanto a longo prazo, projetos de regeneração são os mais promissores.
O governo brasileiro, através do programa “Transformação Ecológica” do Ministério da Fazenda, está trabalhando na criação de um mercado próprio de créditos de carbono. Embora a primeira etapa do programa tenha sido concluída em setembro, ainda há um longo caminho a ser percorrido politicamente, com esperanças de aprovação do Congresso até o final do ano.
A gigantesca oportunidade apresentada pelo mercado de carbono pode propiciar ao Brasil a chance de canalizar recursos financeiros significativos para a transição para uma economia de baixo carbono. Entretanto, a promoção de políticas adequadas e a criação de um ambiente propício para investimentos são cruciais para desbloquear o potencial verde do país e alcançar uma fatia maior do bolo no mercado global de carbono.
*Com informações UM SÓ PLANETA
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