Nossa carência de estudos e de compreensões sólidas sobre a Amazônia é tão enorme que qualquer esforço parece que solucionará tudo. Deveríamos sentir ao menos uma culpa feliz por não termos milhares de pessoas fazendo este trabalho. O problema é que não sentimos nem incômodo e nem culpa de não termos entrado nesta caminhada de usar a ciência para a construção de nosso futuro.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) tem ficado no imaginário como uma possível solução para a grande oportunidade de a bioeconomia prosperar no Amazonas e na Amazônia. É um peso excessivo para um prédio preenchido com alguns profissionais.
Nossa carência de estudos e de compreensões sólidas sobre a Amazônia é tão enorme que qualquer esforço parece que solucionará tudo. Deveríamos sentir ao menos uma culpa feliz por não termos milhares de pessoas fazendo este trabalho. O problema é que não sentimos nem incômodo e nem culpa de não termos entrado nesta caminhada de usar a ciência para a construção de nosso futuro.
É como se o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), o Museu Paraense Emílio Goeldi e tantas outras instituições que existem por aqui não integrassem este esforço. Parece uma doença brasileira: falamos muito de algumas coisas, para esquecermos do sistema que poderia apresentar a solução.
É como se um prédio pudesse remover os equívocos de décadas de negligências na operação da ciência na Amazônia. Nem culpa sentimos, porque depositamos na burocracia licitatória a culpa – como se a assinatura de um documento fosse o problema.
Se tivéssemos um mínimo de culpa, estaria nesta pauta uma discussão que teria que ter as muitas dimensões do problema – muito além do jardim ou do estacionamento do CBA: o desafio regulatório (que em si é um desafio legislativo), a oportunidade empresarial (que é uma oportunidade para o capital de risco e de empresas globais e nacionais), o desafio científico (que é uma oportunidade para todas as instituições de ciência da Amazônia), o emaranhado governamental (que passa pela esferas federal, estaduais e municipais) e ainda um desafio dos institutos tecnológicos que deveriam fazer a ponte entre os cientistas e empresários.
As falas desta semana trazem alguma esperança, após décadas de descaso. Ter o Vice-presidente, Ministro, entes federais e estaduais declarando a importância da bioeconomia é um alento, mas este fruto precisará de muito esforço sistêmico, temperado com anos de ações acertadas. O grande risco é ele ser usado como um elemento para nos distrair durante a reforma tributária que coloca em risco a Zona Franca de Manaus (ZFM).
Entre distração, falando do que não interessa, para não falar do que interessa, que são ações de construções para o futuro próspero da Amazônia, existe uma distância expressiva. Há muito mais para celebrar do que para criticar, mas é hora de começar uma jornada longa, que não pode ser percebida como fim do caminho.
Pelo menos colocamos um carro na estrada. Agora, precisaremos sentir alguma culpa minimamente feliz por não estarmos no meio da estrada. Precisaremos colocar os demais carros na caravana: INPA, ICMBio, UFAM, UFPA, UEA, Investidores, Cientistas do mundo, Legisladores e todos os demais atores necessários para construirmos um sistema de inovação e, muito mais do que isso, um sistema produtivo de empregos, impostos e produtos sustentáveis para um mundo que clama por uma Amazônia geradora de soluções e não de preocupações.
Ou entendemos que é uma caravana alegre ou seremos atropelados pela história, achando que a ciência do século XXI tem alguma relação com a do século XVIII. Que alguma Felix Culpa nos redima dos desperdícios seculares que temos. É uma época e um momento propícios.
Augusto Cesar Rocha é professor da UFAM
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