Em reunião com pesquisadores na área do Clima, convocada pela ABC – Academia Brasileira de Ciência, para esta semana de 14 de Novembro de 2023, o climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da USP, disparou impactado. “Não tem mais volta, temos que criar soluções com urgência!”. A temperatura passou dos 40 graus no Rio de Janeiro com sensação de 58 graus, e com informações oficiais de que metade da população brasileira está sob risco severo de vida pelo calor extremo.
Em conversa com Maurício Loureiro, – conselheiro do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas, com atuação destacada nas Comissões ESG, de Comunicação, entre outras, quis saber suas posições sobre o problema na ótica do setor privado. Ele dirigiu o CIEAM e também seu Conselho Superior por vários anos, sempre levantando a bandeira do clima, do aquecimento global e da proteção da Amazônia.
Confira aqui suas ponderações para a Coluna Follow-up!
Coluna Follow-Up
Entrevista com os Maurício Loureiro – Por Alfredo Lopes do portal BrasilAmazoniaAgora
Coluna Follow-up – O assunto são as altas temperaturas. E a previsão é o agravamento delas com a escassez de água no semiárido brasileiro, região que reúne Nordeste e Sudeste (norte de Minas Gerais). O Norte já tem confirmação de vazante severa na Amazônia Ocidental. O que as empresas da ZFM pensam a respeito e estão fazendo para enfrentar o problema?
Maurício Loureiro – Este é um assunto preocupante, ainda mais pelo agravante que temos vivenciado no Brasil e em boa parte do mundo, e que, geralmente faz parte da pauta de discussão da Comissão de ESG do CIEAM, bem como, das pautas das empresas que tem, como preocupação adicional aos seus negócios, a questão ambiental. Isto, pode parecer utópico, mas na medida que vivenciamos efeitos colaterais climáticos, passamos a entender a real necessidade de se preservar o planeta em sua finitude. Não me refiro a finitude, como fim do planeta TERRA, mas de sua capacidade de oferecer tudo que o ser humano busca ter, sem se preocupar com sua preservação.
FUp – Há duas décadas você é um dos poucos líderes regionais que usaram seu newsletter pessoal, “Interessante Ler”, para alertar o problema? O que vc recomendaria a seus pares neste momento crítico?
M.L. – Sugiro muita reflexão, antes de descartarmos nossos resíduos, sugiro muita reflexão antes de derrubar uma árvore, sugiro muita reflexão antes de consumir ou desperdiçar água, sugiro reflexão em descartar alimentos, que outros poderiam ser alimentados etc. O ser humano em sua essência carece de disciplina, educação familiar, educação escolar de boa qualidade. Obviamente que não podemos generalizar, mas o mundo de hoje, e o ser humano, neste contexto, em sua maioria, precisa de melhor educação num sentido mais amplo, essencialmente de educação ambiental.
Lembro-me que em 1994, em uma reunião da Suframa, discutimos qual seria o melhor modelo de uma segunda opção para a ZFM. Naquele momento, tive a oportunidade de dizer, que a melhor opção seria a FLORESTA EM PÉ! E isso, faz sentido maior ainda hoje!
FUp – Alguns conselheiros do CIEAM, que compartilham seus alertas e inquietações, se reuniram na Comissão ESG da Entidade, onde mais fortemente estão ocorrendo debates e iniciativas. Conte as mais importantes…
M.L. – Temos tratado de vários assuntos importantes em nossa Comissão, com formação de subcomitê, cuja participação de todos e dos principais atores da indústria, poderão contribuir para que avancemos cada vez mais. Tudo isso, sob a liderança da Regia Moreira, também conselheira do Cieam, e uma entusiasta do meio ambiente e das causas sociais. Temos ideias e projetos em andamento, cujas aplicações com base na ciência, poderão contribuir com o Amazonas, com a ZFM e suas indústrias. Recentemente descobrimos através de pesquisadores do INPA, que há ciência na questão ambiental, onde a psicologia explica suas diversas fases de aplicação.
Quando se tem a oportunidade de combinar pesquisa, ciência, meio ambiente, floresta em pé, descobrimos que por mais difícil que sejam os desafios, haverá sempre caminhos a percorrer, e uma forte esperança de superação destes mesmos desafios.
FUp – Já havia apelos dramáticos para redução do aquecimento global em 1992, na Conferência da ONU, Rio-92. Na época, o grande vilão eram as queimadas da Amazônia. Depois descobrimos que 25% das emissões dos GEE, gases do efeito estufa, eram as emissões dos países desenvolvidos. Você tem opinião formada a respeito?
M.L – Tenho sim. O conjunto de questões naturais associado ao volume de seres humanos(8,2 bilhões) mais os pets e demais existentes, trazem contribuição negativa associada ao planeta terra. Penso que o espaço físico do nosso planeta nos limita naquilo que retiramos dele, sem oferecer nada em troca. Essa postura humana, já reflete a meu ver, nas consequências climáticas que estamos vivenciando em nosso planeta.
Exemplo mais recente disso, noticiado nas redes internacionais são: o outono na China está trazendo temperaturas negativas(- 4graus celsius), além da própria onda de calor extrema aqui no Brasil, que devem ser dez vezes mais frequentes do que estávamos acostumados nos últimos anos. Não podemos duvidar, de que a natureza em sua fúria começa a dar sinais aos humanos de que será preciso mudar o padrão predatório atual.
FUp – O pensador e empreendedor Samuel Benchimol, uma das estrelas da fulgurante jornada judaica na Amazônia criativa e construtiva, completaria 100 anos de neste 2023. O que você tem a dizer sobre sua contribuição no processo de desenvolvimento sob o crivo da sustentabilidade em nossos dias?
M.L. – Tive a honra de registrar minhas impressões sobre a trajetória do professor Benchimol na reedição de 2010 de sua monumental obra “Amazônia: um pouco antes além depois”, por ocasião dos 50 anos da FIEAM, a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas. Permita-me reafirmar a convicção: “Com perspicácia, o Prof. Samuel Benchimol antecipou-se aos relatórios mundiais que trouxeram a nova conexão da economia com o ambiente. A grande preocupação que o mundo hoje devota em relação a importância da Amazônia para a economia planetária encontra base na obra pioneira e premonitória do ilustre empresário e intelectual.
Líder que serviu sua comunidade de forma exemplar, o prof. Benchimol defendeu o desenvolvimento sustentável da Amazônia sob quatro condições: viabilidade econômica, adequação ecológica, equilíbrio político e justiça social. Diante das pressões que as preocupações ambientais impelem à humanidade, a obra referencial desse ilustre pensador brasileiro permanece de grande atualidade.
(Em menção a obra “Amazônia: um pouco-antes e além-depois de Samuel Benchimol“)
Maurício Loureiro é conselheiro do Centro da Indústria do Estado do Amazonas e membro da Comissão da ESG
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