Presente na paisagem habitualmente desafiadora da ZFM, o advogado e administrador Lúcio Flávio Moraes de Oliveira, aceitou o desafio que, provavelmente, é um dos maiores de sua vida: dirigir uma entidade de classe do Polo Industrial de Manaus, sob ataques que se resumem à incompreensão nacional no trato da Amazônia, tanto da mídia tradicional como do poder público. Entretanto, com uma experiência robusta no assunto que lhe conferiu o título de conselheiro emérito do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, Lúcio topou e já pôs o pé na estrada: ajudar o Amazonas e a Amazônia Ocidental, mais o Amapá, a resguardar seus empregos e manter sua base econômica.
Entrevista com Alfredo Lopes
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Coluna Follow-up
FOLLOW-Up – Depois de longos debates e premidos pela necessidade da dedicação exclusiva, o presidente Luiz Augusto Rocha, por decisão de seu Conselho Superior, após inserir os necessários ajustes nos estatutos do CIEAM, formaliza a contratação de um presidente-executivo. E essa mudança se dá em torno de um nome formado na base da entidade nas últimas três décadas: Lúcio Flávio Moraes de Oliveira, com uma bagagem singular de conhecimentos e engajamento com a Zona Franca de Manaus, a economia sustentável da Amazônia. Como você recebe essa incumbência num momento de muita inquietação no setor produtivo do Amazonas?
Lúcio Flávio Moraes de Oliveira – O momento é delicado, mas nos desafia e entusiasma. O CIEAM é uma entidade diferenciada desde suas origens nos anos 70/80, quando a economia do Amazonas e do Brasil enfrentava muitas dificuldades – a crise do petróleo – e precisava de muita mobilização do setor privado. O Dr. Mário Guerreiro e seus pares, perceberam a importância da Indústria como fator de sobrevivência da sociedade amazonense.
Desde então, a entidade tem trabalhado em mutirão para resguardar o modelo ZFM, pois dele depende, quase em 90%, a dinâmica socioeconômica do Estado. Tocar esta instituição não é um desafio qualquer. Por isso, meu respeito e admiração por aqueles que me antecederam neste cargo. Todos tocaram a orquestra simultaneamente à administração de seus empreendimentos. Com denodo e afinco. Foram e são meus mestres com suas lições e dedicação.
FUp – Na opinião de seus pares, você sempre foi um conselheiro informal que, recentemente, acabou aceitando o assento de colaborador emérito no Conselho Superior da entidade. Esta é a credencial maior de sua escolha?
LFMO – Não saberia dizer. Tive o privilégio de administrar uma empresa, por mais de três décadas, no setor de transportes. E este é, além de um gargalo para quem investe numa região remota como a Amazônia, um segmento que congrega todas as empresas em permanente troca de impressões e sugestões. Isso me obrigou, no bom sentido, a conviver com os gestores do Polo Industrial de Manaus, conhecer suas dificuldades, desafios e avanços.
Uma verdadeira escola corporativa sem diplomação. Apenas aprendizagem. Com o tempo, essa reunião diária se transformou em encontros organizados na informalidade de um almoço no meu escritório, com pauta, debates e encaminhamentos de ações repartidas. Foi minha pós-graduação.
FUp – E quais são esses gargalos e que sugestões você alinhou para equacionar em sua gestão?
LFMO – Todos precisamos de planejamento, estratégias, prioridades e agendas. Na Zona Franca de Manaus, além dessas formalidades, as entidades se transformam em escolas de bombeiros, tal a frequência de demandas de última hora. Nossas coordenadorias trabalham dia e noite, para dar conta da interferência da pressão burocrática no cotidiano das empresas. Bombeiros e borracheiros, obrigados a trocar pneu com a viatura em movimento.
Essas coordenadorias ou comissões do CIEAM são a alma da entidade: automação/logística, fiscal/tributos, meio-ambiente, recursos humanos, comércio exterior, responsabilidade social, direito. para dar conta de um formalismo extremo, que exige especialistas de plantão. É fascinante e desgastante a um só tempo. A missão do CIEAM é clara, e implica mobilização extrema para: desenvolver, integrar, fortalecer a indústria do Estado do Amazonas assegurando sua competitividade, através da afirmação de seus valores, que transformam a entidade numa instituição respeitada, influente, promotora de inovação, sustentabilidade e da competitividade.
FUp – E quais são as “novidades” operacionais de uma presidência executiva?
LFMO – Com a dedicação exclusiva, algumas iniciativas planejadas lá de trás começam a ter espaço. A primeira delas é a Comunicação. É preciso contar para a sociedade, com transparência e competência, o que fazemos com os 7,8% da contrapartida fiscal destinada à ZFM. E mostrar ainda as oportunidades que oferecemos ao país, como política de Estado, para atrair investidores para a região. Poucos que recebem incentivos fiscais fazem isso, mas os críticos da compensação tributária só enxergam a economia da ZFM.
Será por que nossos acertos são tão extraordinários? Essa comunicação, por sua vez, é condição de sobrevivência. E essa condição tem que começar internamente, da entidade com seus colaboradores, principalmente com seus associados, e melindrosamente com a mídia e suas redes sociais que não querem saber da ZFM muito menos de seu papel na proteção da Amazônia.
FUp – Prestação de contas e divulgação institucional. Isso não lhe parece muito pouco?
LFMO – Parece, mas não é. E disso depende nossa sobrevivência. E nossa comunicação não tem alcançado ou sensibilizado o poder público. É difícil conversar com quem não quer ouvir. E aí está o grande desafio. Mas além de prestar contas e dar-se a conhecer, precisamos estreitar a interlocução com nossos associados, com as entidades do setor privado de toda a Amazônia e aproximar nossa bancada parlamentar com as bancadas dos estados vizinhos. Assim, ficará mais fácil defender no Congresso, onde tudo se decide, a importância, a necessidade e os benefícios da ZFM.
FUp – E o que os associados podem esperar de uma gestão com dedicação exclusiva?
LFMO – Muito trabalho e interlocução permanente. Este ano, tivemos a oportunidade de conhecer entidades congêneres ao CIEAM para trocar experiências e acertos. Uma delas, por exemplo, foi o CIESP, Centro da Indústria do Estado de São Paulo, uma referência de serviços para os empresários daquele Estado, que reúne 30% dos estabelecimentos industriais do país. Essas aproximações já existem, agora vamos poder estreitá-las. O momento é delicado mas, repito, em lugar de inibir, nos entusiasma e desafia. Vamos retomar o planejamento estratégico e trabalhar mais de perto com os parceiros e atores locais, regionais e de todo território nacional. Temos problemas em comum e muito o que compartilhar. De mangas arregaçadas e de portas abertas.
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