Descanse em paz, Dauro Fernandes Braga, querido amigo e irmão. Esteja certo que seu brado não foi em embalde. Eles serão retomados e sempre soarão quando os direitos civis forem aviltados e os compromissos com a cidadania sejam abusivamente esquecidos. Obrigado por seu legado de coragem, companheirismo e indignação.
Por Belmiro Vianez Filho
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Um grito de revolta, muitas vezes proferido por Dauro Fernandes Braga, um companheiro que nos deixou nesta sexta-feira, ecoará pela floresta para incomodar a quem se desconecta de suas responsabilidades civis. Perdemos nesta data um conterrâneo amazônida – de alma e de carteira de identidade com nossos propósitos de prosperidade social – que nasceu no Ceará, em 02 de dezembro de 1940. Cedo ele rumou para a floresta, na carona de tantos heróis nordestinos que fizeram e fazem o desenvolvimento desta terra que lhes pertence por coração e direito. Na II Guerra Mundial, convocados por Getúlio Vargas, no esforço de guerra para a produção de borracha nativa, vieram mais uma vez para a Amazônia e dela extrair o látex que ajudou os aliados, sob a batuta dos Estados Unidos, a derrotar o nazismo.
Líder destacado do Varejo e militante histórico da Associação Comercial e do Clube dos Dirigentes Lojistas, nome original da CDL, Dauro deixa um legado de luta e de capacidade de aglutinação em defesa da atividade comercial. Ele repetia sempre seu apreço ao papel da indústria mas não deixava de reclamar do descaso público com o Comércio, especialmente da ZFM, que ajudou a empinar a economia do Amazonas, historicamente atrofiada desde a quebra reincidente no II Ciclo da Borracha.
“Aqui encontrei tudo que um cearense precisa para fazer progresso e prosperidade. Uma Terra abençoada onde constituí família e trabalhei com resultados. Infelizmente, as autoridades ficam de costas para nossas necessidades. E isso deveria nos unir mais para fazer desta terra o orgulho de todos nós, amazonenses, cearenses e brasileiros”. Este é um de seus brados, e ele se referia exatamente à recuperação da BR-319, abandonada pelas autoridades e destruída por interesses inconfessos que entendiam equivocadamente que a estrada atrapalharia os negócios do transporte fluvial. Ledo e patológico engano.
Dauro não se deixava intimidar por carteiradas. Seu desabafo contra o Governo Federal e com o descaso crônico dos poderes constituídos em relação ao Amazonas, subiu o tom com a destruição da BR-319, e os incontáveis prejuízos para nossa gente, incluindo o direito de ir e vir de nossas famílias, negado ao nosso Estado, depois de termos experimentado viajar pelo continente afora a bordo de um fusca a partir de Manaus.
Lembro de uma resposta dada ao populismo político que reclamava de liberdade com o governo militar que tantos benefícios fez para o Amazonas, incluindo a BR-319 e a própria Zona Franca de Manaus. “No meu entender, faltava liberdade sim, para roubar recursos públicos, fazer baderna, invadir propriedades privadas e destruir prédios públicos”. Entretanto, Dauro Braga não se definia como conservador. Era um ardoroso defensor da Democracia e dos direitos civis. No final dos nos
90, com a recessão da economia e a eclosão da violência, com assaltos e furtos em expansão. Um dia, latrocidas assassinaram um companheiro do Comércio e Dauro me procurou na Associação Comercial para tomarmos providências. Resultado: fizemos uma paralisação no comercio do Centro de Manaus. As lojas fecharam suas portas em protesto contra a falta de segurança que a todos aturdia. E com a greve lojista, as duplas de Cosme e Damião, criada nos anos 50 por Gilberto Mestrinho, passaram a circular pelo Centro com resultados expressivos na redução da violência.
Descanse em paz, Dauro Fernandes Braga, querido amigo e irmão. Esteja certo que seu brado não foi em embalde. Eles serão retomados e sempre soarão quando os direitos civis forem aviltados e os compromissos com a cidadania sejam abusivamente esquecidos. Obrigado por seu legado de coragem, companheirismo e indignação.
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