No coração da Amazônia, o Vale do Javari deveria ser uma das áreas mais bem protegidas da floresta, com barreiras para a entrada de forasteiros e criminosos. Porém, o que temos é o inverso: essa região vem se consolidando como uma das mais perigosas da Amazônia Brasileira, atravessada pelas rotas internacionais de tráfico de drogas e prejudicada pela falta de interesse do poder público em fiscalizar a área e impedir a ação do crime organizado.
O Fantástico (TV Globo) trouxe um vídeo inédito do indigenista Bruno Pereira, que desapareceu há mais de uma semana nesta região junto com o jornalista Dom Phillips. Gravado durante a pandemia, o vídeo mostra o apelo de Pereira às autoridades federais por mais proteção à Terra Indígena Vale do Javari. “O primeiro passo é conseguir dar proteção do território. É conseguir que se retire desse território qualquer tipo de invasor e pessoas não autorizadas não ingressem nessa região”, disse o indigenista.
O perigo vem sendo documentado há anos pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIJAVA), para quem Bruno Pereira atuava desde de sua exoneração da coordenação de Povos Indígenas Isolados da FUNAI em 2019. O Ministério Público Federal do Amazonas, a Polícia Federal, a Força Nacional de Segurança Pública e a própria FUNAI receberam diversos relatórios da UNIJAVA documentando ameaças e agressões de criminosos contra comunidades indígenas no Vale do Javari. Em um dos casos assinalados pela Folha, a FUNAI chegou a ser formalmente acionada pelos indígenas depois de um ataque armado de criminosos, mas não recebeu qualquer resposta.
Para o prefeito de Atalaia do Norte (AM), Denis Paiva, o desaparecimento de Pereira e Phillips pode ter relação com a “máfia dos peixes”: criminosos, em conexão com quadrilhas do tráfico de drogas, que fazem pesca predatória sem autorização dentro da Terra Indígena. Este problema vinha sendo destacado pelo indigenista e pela UNIJAVA em seus relatórios recentes sobre a insegurança na região. O UOL deu mais informações sobre essa hipótese.
O único suspeito preso pela Polícia Civil do Amazonas até agora é o pescador Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”. O g1 destacou a atuação de “Pelado” como líder desses pescadores no Vale do Javari, com acusações de ataque com arma de fogo contra a base da FUNAI na Terra Indígena em 2018 e 2019. Ele também teria feito ameaças contra Pereira semanas antes de seu desaparecimento.
Nos últimos anos, ameaças e agressões a indígenas e ambientalistas têm sido frequentes na Amazônia. Encorajados por um contexto de leniência do governo federal com crimes ambientais, criminosos estão montando uma “lista de condenados” à morte – pessoas que se opõem aos interesses e à ação dessas quadrilhas na floresta. No UOL, Carlos Madeiro conversou com um ativista ameaçado de morte na região do Tapajós, no oeste do Pará. “Ele [criminoso] chegou e disse: ‘João [nome fictício], sabia que tem uma lista de ameaçados de morte? E que a gente não gosta de ONG? Tu tá nessa lista. O problema é que a tua vida tá valendo R$ 1.000, pouca gente vai querer te matar. Mas se tu continuar perturbando a gente, o preço da tua cabeça vai subir’”, relatou o ativista.
Fonte: Clima INFO
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