Ciro Gomes debateu as suas propostas para o meio ambiente e focou no combate ao desmatamento na floresta
Durante sabatina do Jornal Nacional, nesta terça-feira (23), o ex-ministro e candidato à presidência da República pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), Ciro Gomes, criticou a falta de controle sobre o território amazônico por parte do governo atual e expôs algumas das suas propostas para o que declarou ser (Law) “enforcement“, expressão traduzida de forma não literal como para “fazer a lei valer”. O assunto meio ambiente ocupou cerca de sete minutos do total dos 40 da sabatina.
O candidato do PDT apresentou o histórico de ocupação da região Amazônia como um dos vetores do descontrole do desmatamento na maior floresta tropical do mundo.
“Quarenta milhões de pessoas migraram do Sul e do Nordeste para integrar para não entregar (slogan da Ditadura Militar de 1964-84) a Amazônia. Sabe qual condição que o estado brasileiro impunha ao amazônida? Ele precisava mostrar que desmatou. Se não desmatasse, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) não dava o papel da terra. E no curso de menos de poucas décadas isso mudou e passou a ser crime hediondo. Os nossos irmãos de lá não entende”, disse.
Para o candidato apenas a repressão não resolve o problema da maior floresta tropical do mundo. “Precisamos levar para região uma base de desenvolvimento sustentável, que está na boca de muita gente, mas que não aterrissa no território. E isso pode ser dar com um zoneamento econômico e ecológico”, explicou em citação a uma das teses de um dos grandes influenciadores de seu plano de governo para as questões ambientais, o filósofo Mangabeira Unger, que chegou a tentar emplacar, sem sucesso, um projeto similar no governo Lula, em 2008, quando foi ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência e escalado para coordenar o Plano Amazônia Sustentável (PAS), um projeto para desenvolver a região de forma equilibrada.
Outros biomas
Ciro também falou de outros biomas, mas esqueceu-se de mencionar que contribuiu pouco para os esforços de proteção da Caatinga quando governou o Ceará. O estado também já foi governado, entre 2006 e 2014, por seu irmão, o ainda senador pelo Ceará, Cid Gomes.
“Às vezes, a Amazônia chama muita atenção, mas os outros biomas brasileiros estão sofrendo dos mesmos estresses. (…) a Caatinga corre risco de desaparecer”, disse.
A situação na Caatinga é crítica e tem efeito também sobre os recursos hídricos do Nordeste. Segundo estudo do Mapbiomas, as mudanças na cobertura da terra nas últimas três décadas estão agravando o risco de desertificação de partes da Caatinga. O estudo com imagens de satélite da região entre os anos de 1985 e 2020, mostrou que dos 112 municípios da Caatinga (9%) classificados como Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD) com status Muito grave e Grave tiveram uma perda de 0,3 milhões de hectares áreas naturais. Isso representa cerca de 3% de toda a vegetação nativa perdida do bioma.
Com falas muito focadas na floresta, Ciro criticou a lógica do desmatamento, porém atribuiu todo o corte de madeira ilegal à extração do mogno, espécime já quase extinta em boa parte do bioma.
O candidato explicou também algumas de suas propostas para a Amazônia. “Precisamos proteger Manaus (em referência à Zona Franca da capital do Amazonas), que esta para ser destruída pela política atual de redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), ali tem 8% da produção industrial brasileira. Mas também é preciso fazer com que a economia rural aprenda – aí é com financiamento, capacitação gerencial, acesso a mercado, marketing e apoio ao comércio exterior – que a floresta vale muito mais em pé do que derrubada”, disse.
A defesa do reflorestamento com espécies exóticas – como a teca – foi outra proposta de Ciro. “Se dar uma alternativa para produzir em bases sustentáveis, o (Law) enforcement e a repressão vale para o verdadeiro marginal”, afirmou.
Ao ser questionado em como implementaria todas as ações pretendidas em apenas quatro anos de mandato, Ciro Gomes foi taxativo, “a minha tarefa é projetar o Brasil para os próximos 30 anos”.
Mudanças Climáticas
O candidato não deixou claro se é a favor de mudanças na atual legislação ambiental. Ao falar da meta de zerar o desmatamento até 2028, assumida pelo país na Cop-21, a Conferência Mundial do Clima de Paris, Ciro afirmou que irá consultar os institutos de pesquisas da Amazônia.
A necessidade de controle sobre o território amazônico voltou ao centro do debate no final de sua argumentação sobre o meio ambiente.
“Ali na Cabeça do Cachorro (no Alto rio Negro na fronteira com a Colômbia) é território sem dono. Eu denunciei isso porque sei o que está acontecendo no território brasileiro. Eu fui processado pelo atual ministro da defesa do Bolsonaro porque disse que tal extenso domínio pelo narcotráfico, contrabando de armas, caça e pesca ilegal e desmatamento é um processo de uma holding do crime para lavagem de dinheiro. O que não aconteceria sem a conivência ou a omissão das forças armadas. O problema é que nós destruímos a estrutura de comando e controle”, finalizou.
Fonte: O Eco
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