“Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação.”
Por Nelson Azevedo
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Esta sentença profética de Rui Barbosa, pronunciada em discurso na Suprema Corte há 130 anos, se deu num momento muito delicado do estado de direito na República do Brasil. Ela permanece atual e preocupante em nossos dias, em nossa Amazônia e no Brasil onde as leis costumam ser editadas em profusão e com frequente descaso. Como podemos pensar no futuro se estamos sempre pendurados na insegurança jurídica de nossos empreendimentos e na crescente intromissão/diversificação/expansão da ilegalidade? Pois bem: este é o nosso desafio e é de nossa responsabilidade enfrentar.
Cumplicidade, colaboração e unidade.
O que está acontecendo na Amazônia? Um dos imperativos desse desafio é se curvar com inteligência na interpretação dos problemas a equacionar. É olhar com objetividade e realismo os problemas que nos cercam. Sem otimismo ingênuo nem pessimismo derrotista. Estamos nesta embarcação chamada Zona Franca de Manaus há 55 anos e temos os instrumentos e muita disposição para consolidar e aperfeiçoar este programa. Depende só de nós. Por isso, a hora exige cumplicidade, colaboração e unidade. Os fundamentos históricos da Zona Franca supõe integrar a região ao Brasil para não entregar ela a cobiça internacional, ao crime organizado e a exploração predatória de nossos recursos naturais.
Desenvolvimento sustentável
Falamos muito de sustentabilidade e poucas vezes paramos para meditar em conjunto sobre o significado deste conceito no cotidiano de nossa atividade fabril. Invocando nosso mestre Samuel Benchimol, aprendemos que sustentabilidade é todo modo de produção economicamente viável, politicamente correto, socialmente justo e ambientalmente equilibrado. Esta tem sido nossa visão de capitalismo desde que foi decretada a instalação da Zona Franca de Manaus, pelo marechal Castelo Branco dez anos depois de sua homologação em 1957, governo JK.
Premissa de perenidade produtiva
Conscientes ou não do imperativo ambiental dos anos subsequentes, sempre respeitamos o meio ambiente, pautando nossa atividade comercial, agrícola e fabril, como referência de zelo daquilo que deveríamos integrar para não integrar à cobiça internacional: a floresta amazônica. Hoje, além de ter-se transformado no maior ativo e melhor instrumento de legitimidade nossa existência, a Amazônia, doravante, sua conservação e aproveitamento sustentável, será a garantia de nossa perenidade produtiva. E aqui estou pontuando uma referência de luta: a defesa da ZFM, seu polo industrial e seu entorno florestal amazônico é nosso ponto de partida, o âmago de nossa luta e o esteio sustentável de nossa sobrevivência e expansão produtiva.
E por falar em expansão…
Gostaria de compartilhar minha satisfação pessoal com a iniciativa ExpoAmazonia Bio&TIC 2022. E digo porquê. Trata-se de um movimento coletivo dos entes privados e públicos, conectados no desenvolvimento científico tecnológico e Biotecnológico da Amazônia. Certamente muitos de nós teremos gratas surpresas ao participarmos deste evento e a convicção de que o caminho já está traçado. As iniciativas que levaram aos produtos, empreendimentos e resultados, nasceram a partir desta economia desencadeada a partir do pólo industrial de Manaus. Nada poderá substituir no curto, médio e longo prazo este programa exitoso, no desafio da redução das desigualdades inaceitáveis entre o Norte e o Sul do Brasil.
Encrencas a eliminar
Temos, entretanto, que consolidar algumas frentes inadiáveis de trabalho, como reduzir a burocracia, exigir infraestrutura competitiva, financiadas pelas montanhas de recursos recolhidos aos cofres federais, temos também necessidade de expandir a cadeia de suprimentos das indústrias locais. Temos capacidade instalada pra isso, provamos que sabemos fazer muito mais do que supomos, é isso ficou demonstrado com a quebra do fornecimento de insumos por parte da cadeia produtiva asiática, durante a pandemia. Temos apenas 0,6% dos estabelecimentos industriais do Brasil. Dobrar esta perfomance, não implica em ameaçar o contexto socioambiental em que operamos. Pelo contrário: Sabemos gerar riqueza para impedir que a floresta se transforme em mecanismo de sobrevivência social.
Matrizes da diversificação
Isso não nos impedirá, porém, de apostar em diversificação da matriz econômica. Em investir na economia da biodiversidade, em aproveitar os insumos minerais que a natureza nos deu com extrema generosidade. Investir no turismo sustentável, na exploração inteligente e salutar do manejo dos ativos florestais. A ciência recomenda que assim o façamos para fortalecer a qualidade e o vigor de nossa floresta. E por falar em ciência, este é o caminho e no rol de saídas, diria prioritário, para expansão de nossa economia sustentável.
Bandeira da floresta em pé
Na Amazônia, a economia esteve sempre conectada com a ecologia e vai se consolidar na medida em que não apartar dos parâmetros ambientais. Esta deve ser também a bandeira de nossa representação parlamentar federal. Bandeira da floresta em pé. Não apenas a bancada do Amazonas, reduzida e guerreira, mas resta-nos o desafio de expandir essa representação parlamentar de toda a Amazônia pois temos interesses problemas e demandas em comum. É chegada a hora da união diuturna, permeada da cumplicidade de propósitos na partilha de ideias e dos recursos de que dispomos. É imperativa a adoção de uma linguagem e argumentação compartilhada que assegure a conquista dos resultados que sonhamos, dentro da Lei e da Civilidade, um novo tempo para a Amazônia, sem destruição nem barbárie!
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