O desafio para a indústria neste momento é demonstrar que o programa ZFM de redução das desigualdades regionais é também superavitário em sua contabilidade ambiental. O Eldorado é verde porque é inestimável a riqueza que se esconde no viço de uma floresta em pé, da floresta que queremos em pé.
Wilson Périco
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Enfim, uma boa notícia! Aos poucos, a compreensão de que o Eldorado na Amazônia é verde, nos permitirá manter, diversificar, expandir e regionalizar nossa floresta e demonstrar os acertos e avanços do Polo Industrial de Manaus. Este programa extraordinário de redução das desigualdades regionais – tão ignorado e distorcido em seus propósitos e importância – tem tudo para integrar-se na galeria dos acertos extraordinários da história fiscal da República e seus ainda tímidos movimentos de equilíbrio para reduzir as disparidades entre regiões do Brasil e compartilhar a lição com os demais países nesta configuração.
Vamos partir de um exemplo presente para ilustrar as oportunidades que temos ao alcance de nossas mãos. A família Möss chegou à Amazônia juntamente com outros brasileiros que se deixaram atrair pela multiplicidade de oportunidades que o programa ZFM (Zona Franca de Manaus) tem oferecido desde seus primórdios, nos anos 60. Foi criada a Madeireira Möss e muito cedo mostrou sua contribuição e integração na economia regional a partir da floresta . Como as demais madeireiras e serrarias ligadas ao Polo Industrial de Manaus, seguia o preceito de plantar 10 mudas de árvore para cada indivíduo removido, sob autorização do IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, depois transformado em IBAMA – para assegurar legalidade de seus negócios. A família Sérgio Vergueiro, Mérito CIEAM, em 2015, do empreendedor paulista que veio fazer pecuária na Amazônia, largou seu propósito ao descobrir um filão atraente de negócios com o reflorestamento da área desmatada. Semeou mais de 2 milhões de indivíduos e foi aplaudido na COP26 por sua façanha.
Pois bem: um dos remanescentes da família Möss, com uma startup de crédito de carbono, fechou negócios de US$ 10 milhões com duas vertentes de negócios. Reflorestamento e manutenção de estoques florestais de áreas protegidas da insensatez do desmatamento. E quem são seus clientes? Gol, Arezzo, IFood e C6, para citar alguns. Nem esperou a homologação da movimentação legal do Brasil – que começou a empinar em junho último na Câmara Federal no ano passado, através do parlamentar amazonense, Bosco Saraiva, que lidera a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços. Apenas seguiu a recomendação da ONU, aprovada na COP26. É o Mercado Brasileiro de Redução das Emissões, que já está precificando um valor que a Zona Franca de Manaus acumula há 55 anos e que agora vai para o mercado.
Empresas como a MotoHonda da Amazônia, uma grife industrial há 50 anos no Brasil, e quase isso de Amazônia, há muito acumula esta preciosa moeda de diversas formas, entre elas a geração de 6 mil empregos diretos – que inibe o desmatamento como mecanismo equivocado de subsistência – e uma reserva natural e intocável do patrimônio natural, que há décadas gera créditos valiosos de carbono, até então distante do novo mercado, mas ajudando o Brasil e o mundo a respirar melhor com a emissão de oxigênio de sua área.
O desafio para a indústria neste momento é demonstrar que o programa ZFM de redução das desigualdades regionais é também superavitário em sua contabilidade ambiental. Isso só precisa formalizar, segundo Niro Higuchi, pesquisador do INPA – integrante dos agraciados pelo prêmio Nobel da Paz dado aos cientistas da ONU em 2009. Ele tem os dados. Eis porque é um tiro no pé, ou no coração da ZFM, não impedir que o Amazonas esteja no sinistro segundo lugar – ao lado do Estado no Pará – no ranking dos principais desmatadores da Amazônia. O Eldorado é verde porque é inestimável a riqueza que se esconde no viço de uma floresta em pé, da floresta que queremos em pé.
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