Além de serem vitais para a preservação e regeneração da biodiversidade planetária, as florestas caracterizam-se como uma fonte renovável de recursos naturais para diversas indústrias. Sendo assim, o monitoramento constante destes “ativos” é atividade obrigatória para as empresas de base florestal.
Segundo a Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), existem 9 milhões de hectares de florestas plantadas no país e o setor chega a movimentar anualmente R$ 97,4 bilhões, sendo um dos principais responsáveis pelo resultado positivo da balança econômica.
Nesse contexto, a greentech brasileira Treevia Forest Technologies, empresa focada no desenvolvimento de soluções para conectar as florestas na internet, agregando conceitos de BigData, Machine learning e Internet das Coisas (IOT), inova na forma como as florestas são mensuradas e monitoradas.
A empresa desenvolveu o SmartForest, um sistema que permite monitorar as fases de uma floresta e realizar mensurações sem as complicações analógicas comumente utilizadas para este tipo de trabalho. A startup foi fundada em 2016 depois do engenheiro florestal Esthevan Gasparoto, sócio-fundador e CEO, sentir a necessidade de facilitar a coleta de dados em campo e garantir informações mais confiáveis.
“Quando trabalhei com essa área em grandes empresas me senti muito inseguro ao perceber que grandes decisões estratégicas eram tomadas com base em dados quantificados de forma analógica e pouco precisos”, explicou Gasparoto, eleito pelo MIT um dos empreendedores com menos de 35 anos mais inovadores da América Latina (MIT Under 35).
Qual a quantidade de madeira na floresta? Quanto ela cresce anualmente? Este ciclo florestal é sustentável? Para que mais empresas do setor pudessem responder a esta e a outras perguntas de forma segura nasceu a sua vontade de empreender. Junto de outros dois sócios, Emily Shinzato, também engenheira florestal, e Maycow Berbert, atual CTO da empresa, ele lançou a startup com o propósito de aproximar os gestores da floresta por meio da tecnologia.
Após ganhar um prêmio de R$100 mil reais do Santander, a greentech se estruturou e passou a atuar em São José dos Campos (SP). “Nós desenvolvemos um equipamento que mede o crescimento da floresta ao alocar um sensor no tronco das árvores. Nosso modelo de negócios oferece uma ‘floresta inteligente’ para o nosso cliente, onde um sistema na web é criado para monitorar e quantificar florestas de forma 100% online, utilizando dados que podem vir do método tradicional, planilhados analogicamente ou podem vir do nosso aplicativo que acrescenta uma camada de segurança da informação mais robusta”, explica o engenheiro.
Por meio do app, o cliente pode fazer o rastreamento de toda a informação de cada dado da floresta, conferindo maior confiabilidade às informações. As empresas passam, então, a acompanhar suas florestas digitalmente: crescimento, incidência de pragas e a possibilidade de precipitação e de incêndios, entre outros.
“Nós também geramos impacto social a partir do momento em que capacitamos os profissionais que antes realizavam essas mensurações e monitoramentos analogicamente para poder instalar os nossos equipamentos e permitir o trabalho automatizado. Esses profissionais do campo se tornam parte desse processo”, constata.
Com investimento de mais de R$ 6 milhões nos últimos 5 anos e com 150% de crescimento no último ano, a Treevia trabalha hoje com empresas de base florestal, que plantam árvores para abastecer cadeias produtivas; de papel e de celulose, de chapas e painéis de madeira, bioenergia, metalúrgica, químicos e fármacos, entre outros. Entre seus clientes estão Suzano, CMPC, Cenibra, Veracel e Radix Investimentos.
Com projetos no Brasil e no Uruguai, a startup monitora florestas plantadas de Pinus, Eucalipto, Teca e Mogno Africano, possuindo milhares de sensores e hectares de florestas monitoradas em campo. Recentemente, seu trabalho com a Eldorado Brasil Celulose, garantiu o monitoramento de mais de 10 mil hectares, maior área de monitoramento por IOT do mundo, segundo Gasparoto. ”Com este projeto conseguiremos ampliar o conhecimento do efeito do clima e do manejo no crescimento dos plantios para maximizar o potencial de crescimento dos ativos florestais”, explicou Carlos Justos, gerente Geral de Planejamento e Competitividade da Eldorado.
Quando uma empresa acompanha o ritmo em que sua floresta cresce, é possível antecipar a necessidade de maiores plantios. “Por exemplo, se uma fábrica monitora seu consumo de 2 milhões de toneladas de madeira por ano e suas florestas produzem 1,5 milhões toneladas, isso dá diretrizes dos próximos passos”, explica o empreendedor.
Mercado de Carbono
Este tipo de tecnologia não é focada somente nas florestas produtivas. A demanda por esse tipo de tecnologia é global e também envolve a conservação ambiental. “Centenas de empresas estão compensando as suas emissões de carbono pela aquisição de créditos de carbono. Nosso trabalho pode andar de mãos juntas com esta tendência já que boa parte dos compradores de créditos de carbono estabelecem um compromisso de 30 anos com aquela área e nós da Treevia podemos apresentar um painel sobre o crescimento desta floresta que está sequestrando carbono”, enfatiza.
Atualmente, a empresa está passando por um processo de aceleração do governo de Singapura sendo a única startup da América Latina entre as cinco finalistas. “Por meio da nossa solução tecnológica é possível acompanhar a cadeia da floresta em que o crédito de carbono foi adquirido. É possível comprovar que ele foi mensurado e está retido de forma auditável, evitando possível greenwashing [propaganda enganosa]”, reforça Gasparoto.
Mais de 20 países já mostraram interesse na solução proposta pela Treevia para monitoramento florestal. Hoje, a empresa atua em mais de 10 estados no Brasil e espera chegar a 250 parceiros em todo o mundo até o final de 2024, chegando aos cinco continentes e a 1 milhão de sensores instalados. A empresa conta 2 mil sensores até este ano e já possui o orçamento para mais 60 mil até o próximo ano.
Fonte: Um Só Planeta
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