A grande maioria dos brasileiros (92%) sabe que o aquecimento global já está acontecendo e que é causado principalmente pela ação humana (77%). Para 77%, proteger o meio ambiente é importante, mesmo que isso signifique menos crescimento econômico. Esses são os alguns dos principais destaques da primeira edição da pesquisa “Mudanças climáticas na percepção dos brasileiros”, realizada pelo Ibope e lançada hoje (10/12) pelo ITS (Instituto Tecnologia e Sociedade) e pela Universidade Yale.
Os entrevistados também foram questionados sobre as queimadas na Amazônia. Setenta e quatro por cento deles discordam de que elas sejam necessárias para o crescimento da economia, e 84% concordam que elas prejudicam a imagem do país no exterior. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, considerando nível de confiança de 95%.
O Ibope ouviu 2.600 pessoas por telefone entre 24 de setembro e 16 de outubro. O questionário utilizado foi traduzido e adaptado da pesquisa nacional sobre percepção de clima dos Estados Unidos, que o Yale Climate Change Communication aplica há XX anos. A universidade americana considerou questões específicas da realidade brasileira. A pesquisa visa medir anualmente o conhecimento e a percepção dos brasileiros sobre a crise do clima, suas causas e suas consequências, e deve continuar a ser atualizada pelo ITS. Seus achados serão reunidos no site www.percepcaoclimatica.com.br.
A amostra contabilizou 53% de mulheres e 47% de homens; 24% eram da classe AB, 47% da classe C, 29% da classe DE. Quanto à escolaridade, 25% tinham até o Ensino Fundamental I, 19% o Fundamental II,35% o Ensino Médio e 21% o Ensino Superior. Sobre alinhamento político, 33% se declararam mais à direita, 25% de centro, 16% mais à esquerda. A maior parte (84%) era de usuários de internet.
Problema de agora e do futuro
Respondendo especificamente sobre aquecimento global, 78% o consideram muito importante, com destaque entre os mais jovens (86% entre 18 e 24 anos) e os mais escolarizados (87% com ensino superior). Também é alta a percepção dos prejuízos que o aumento da temperatura do planeta trará no curto e longo prazos: 72% acreditam que o aquecimento global pode prejudicar muito a eles e a suas famílias, mas uma parcela ainda maior (88%) pensa que afetará bastante as gerações futuras.
Em contrapartida, apenas 25% admitiram saber muito sobre o tema. Esse conhecimento está bastante relacionado à escolaridade e ao acesso à Internet. Na contramão do negacionismo que viceja nas redes sociais, a maioria dos entrevistados (71%) também considera que há concordância entre os cientistas sobre o tema. Tal proporção diminui entre os menos escolarizados e os mais à direita.
Os principais fatores associados ao aquecimento do planeta são aumento da poluição (19%), a destruição da camada de ozônio (16%), falta de água potável (15%), doenças respiratórias (12%) e derretimento do gelo nos polos (11%). Só 9% faz ligação com problemas sociais (como fogo e desemprego), 7% com alteração da frequência das chuvas e 4% com aumento do nível do mar.
A respeito do meio ambiente, 61% disseram estar muito preocupados. As mulheres e os mais à esquerda foram os que declararam maior preocupação (68% sexo feminino e 70% à esquerda). Algumas providências em relação ao problema aparecem já incorporadas ao dia a dia do brasileiro: 74% indicaram que costumam separar o lixo para reciclar; 59% deixaram de comprar ou usar algum produto que prejudicasse o meio ambiente, mas apenas 11% afirmaram que utilizam energia solar em sua residência, ou outro tipo de energia que não é poluente.
A solução para as mudanças climáticas é vista mais como de ordem institucional e estaria em grande parte nas mãos de governos (35%), empresas e indústrias (32%). Em seguida aparecem os próprios cidadãos (24%) e, por último, as organizações não governamentais (4%).
Prejuízo à imagem do Brasil
Durante o período da pesquisa, as queimadas se alastraram pelo país, atingindo Pantanal, Amazônia e Cerrado. No Pantanal, os incêndios foram os piores da história. Os focos aumentaram 539% em 2019 e 124% nesse ano; na Amazônia, subiram 29% e 17% nos dois últimos anos. Oito em cada dez brasileiros disse saber que a situação das queimadas no bioma amazônico piorou nesse período. E sete em cada dez sabe que a ignição começa pela ação humana.
Os responsáveis diretos pelo fogo na Amazônia seriam madeireiros (33%), seguidos por pecuaristas e criadores de animais (18%), agricultores (18%), políticos (11%) e garimpeiros (7%). A maioria dos entrevistados (92%) concorda que as queimadas na região amazônica prejudicam a qualidade de vida da população e entende (90%) que ameaçam o clima e o meio ambiente do planeta. A solução para o problema estaria a cargo do governo (54%), dos cidadãos (21%), das empresas (15%) e das ONGs (6%).
Sobre a pesquisa
Números de telefones de fixos e celulares foram selecionados aleatoriamente para a realização das entrevistas. Elas não foram presenciais por conta da pandemia de coronavírus. A amostra proporcional foi distribuída de forma a garantir a leitura independentemente dos resultados por região geográfica.
Sobre cor ou raça, 42% se declararam pardos, 39% brancos, 12% pretos, 5% outras e 1% não responderam. As faixas etárias ficaram assim divididas: 15% de 18 a 24 anos; 20% de 25 a 34; 21% de 35 a 44; 17% de 15 a 54; 28% de 55 ou mais. Os questionários foram distribuídos regionalmente, sendo 44% aplicados no Sudeste; 26%, no Nordeste; 15%, no Sul; 8%, no Centro Oeste; e 8%, no Norte do país. Quanto à condição dos municípios, 60% interior; 25% capitais; e 15% periferia.Fatores de ponderação foram calculados pelo Ibope para correção de cotas populacionais, com base em dados da PNAD-IBGE.
Fonte: O Eco/Observatório do Clima
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