A gravidade de nossa situação social, particularmente no que diz respeito à penúria em que se encontram 47% de nossas crianças, exige que este seja o debate da hora.
Régia Moreira Leite
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Dados do Ministério da Saúde, coletados desde 2019, revelam um quadro preocupante e em expansão do perfil nutricional das crianças de 0 a 5 anos no Brasil. Chama a atenção o fato de 47% das famílias com crianças nessa faixa etária, apresentam sintomas de grave insegurança alimentar. Ou seja, a fome e suas sequelas. Entre as deficiências estão as vitaminas e os minerais, essenciais para um desenvolvimento satisfatório. Inevitavelmente sequelas destrutivas vão se agravar, caso providências urgentes não forem tomadas. Começam assim as doenças crônicas, o retardo mental e a diminuição de muitas habilidades que dependem do equilíbrio orgânico no crescimento infantil.
Este perfil de múltiplas defasagens também se dá no âmbito da educação infantil e fundamental por conta da pandemia, que obrigou a suspensão preventiva da convivência social. As famílias com insegurança alimentar são também afetadas pela ausência de equipamentos que permitiriam a substituição improvisada das aulas presenciais por metodologias precárias da comunicação digital. O processo de socialização zero, sem a aprendizagem estimulada pelos colegas, alimentação precária do lar que a merenda escolar costumava compensar, foram alguns dos danos impostos a este segmento populacional tão frágil.
Os dados do desemprego, os danos da inflação descontrolada na rotina alimentar dos brasileiros, e a indefinição de saídas no curto prazo, tudo isso compromete o crescimento físicos, a saúde emocional, e os danos na vida sociais. Uma pandemia de transtornos afetivos, de insegurança alimentar e desarmonia familiar. Professores, assistentes sociais, gestores públicos, ainda alcançados pelos estragos de curto, médio e longo alcance provocados pela COVID-19, buscam, heroicamente, soluções criativas para enfrentamento deste cenário de caos.
Mesmo assim, notícias do desempenho das indústrias da Zona Franca de Manaus, publicadas pela Suframa, apontam, de janeiro a agosto, o mesmo resultado obtido no ano de 2020: R$100 bilhões. Não fosse a inflação, a explosão dos preços de combustíveis e alimentos, e não tivéssemos uma das moedas mais desvalorizadas do mercado global, teríamos algum motivo para fazer festa. Não temos. Os dados que foram publicados traduzem a escalada dos custos, em todos os setores de nossas atividades. Faríamos festa se a recuperação dos postos de trabalho não estivessem quase parada. E o perfil do desemprego serve para traduzir com precisão as estatísticas da desnutrição e da fome.
O que nos compete fazer numa paisagem tão adversa na economia e principalmente no exercício da cidadania? Nossa responsabilidade social, teoricamente, se esgotaria com a simples observância das leis que nos compete cumprir. Em outros momentos isso seria suficiente, entretanto no atual contexto tudo que fizermos é muito pouco. As demandas são incalculáveis e as perspectivas de atendimento preocupantes. Desde o início dessa escuridão sanitária temos buscado fazer o melhor de nós. Descobrimos, porém, à luz da gravidade dos fatos, que poderemos fazer sempre muito mais. Estender as mãos aos necessitados, em algum momento, pode ser exaustivo, mas a solidariedade sempre será gratificante.
No cumprimento de nossas responsabilidades com a sociedade, somos o conglomerado industrial que mais repassa divisas para o tecido social através do poder público. Não importa que a maledicência de alguns tente nos denegrir. O diferencial de nossa contribuição estão disponíveis no Portal da Transparência, nos sites da Fazenda estadual e da Receita federal. E porque este diferencial não tem produzido os frutos esperados? E por que não acompanhamos mais de perto a destinação de tantos recursos?
Leia mais artigos de Régia Moreira Leite como “O PIB, a inflação e construção da dignidade” e “BR-319, a vitrine da Bioeconomia sustentável da Amazônia“
Voltamos, assim, à tecla fundamental do protagonismo, por parte do setor que produz riqueza e movimenta 90% da economia amazonense. Estamos falando de protagonismo e da falta dele. Não devemos nos preocupar em responder a maledicência contumaz. Neste momento, a preocupação tem que ser o debate que esclareça os rumos que são dados a esta montanha de recursos. Na soma das contribuições estaduais e federais, iremos chegar perto de 30 bi de reais recolhidos a partir do polo industrial de Manaus em 2021.
A gravidade de nossa situação social, particularmente no que diz respeito à penúria em que se encontram 47% de nossas crianças, exige que este seja o debate da hora. Afinal, gestores públicos chegam e se vão da vida das pessoas, mas as empresas continuam fabricando recursos na rotina produtiva. Quem mais teria direito de acompanhar e participar da aplicação transparente do resultado de seu trabalho? Está aí a saída de que precisamos para melhorar o exercício da cidadania como resultado de boa gestão na economia. E, sobretudo, para oferecer às nossas crianças um amanhã sem medo, sem fome, sem pesadelo, restituindo-lhes a simplicidade de seu direito sagrado de brincar e sonhar.
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