Não foi uma vitória pequena a de Arthur Lira (PP-AL), o candidato bolsonarista eleito ontem presidente da Câmara dos Deputados. Teve 302 votos, suficientes para fechar a fatura no primeiro turno, contra 145 de seu principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP). Elegeu-se com folga e pesado apoio financeiro do Planalto e, imediatamente, voltou-se contra os adversários. Estava há minutos empossado quando anulou o ato do antecessor, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que havia reconhecido o bloco de Rossi, privando aliados do emedebista de pelo menos um dos quatro cargos a que teriam direito na Mesa Diretora. Argumentou que o PT havia se registrado como integrante do bloco derrotado com seis minutos de atraso. Maia havia perdoado, Lira escolheu ser rigoroso e formalista, ampliando seu espaço no comando da Casa. Estes outros cargos da Mesa serão preenchidos em votação hoje.
Ato contínuo, os prejudicados, em particular os partidos de esquerda, anunciaram que vão recorrer ao Supremo Tribunal Federal para anular a primeira decisão do novo presidente. O grupo é composto por PT, MDB, PSB, PSDB, PDT, PCdoB, Cidadania, PV e Rede. (G1)
Indiferente aos protestos e ameaças de judicialização, Lira comemorou a vitória com uma festa durante a madrugada numa mansão no Lago Sul. Ministros que trabalharam para a vitória do líder do Centrão confraternizavam com hoje críticos do presidente Bolsonaro, como a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). Mas a noite teve dois destaques. Um foi o karaokê, no qual Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, cantou Malandragem, sucesso de Cássia Eller — ano passado, Cristiane passou 33 dias presa por suspeita de corrupção. O outro foi uma bolsa de apostas sobre quanto tempo Lira levará para enquadrar Bolsonaro. (Folha)
Quem, eu? Rodrigo Maia (DEM-RJ) passou seu último dia como presidente da Câmara negando informações divulgadas na véspera por aliados. Segundo Maia, ele nunca “disse que assinaria o impeachment” e não pretende mudar de partido. Mais tarde, em seu discurso de despedida, ele chorou e agradeceu aos colegas. (Poder 360)
O plano imediato de Lira, acordado com o Planalto, é aprovar três projetos e reformas caras ao governo nos próximos cem dias. Na trinca entra a Reforma Administrativa. Querem carimbar em Maia a ideia de que o governo não conseguia nada porque o ex-presidente não deixava, segundo Lauro Jardim. (Globo)
No Senado, a decisão e a transição foram razoavelmente tranquilas. Com um leque de apoio que ia de Jair Bolsonaro ao PT, Rodrigo Pacheco (DEM-RJ) foi eleito com 57 votos. Abandonada até pelo próprio partido, Simone Tebet (MDB-MS) ainda conseguir 21 votos. Bolsonaro comemorou no Twitter a vitória do aliado, e aproveitou para destacar a votação em cédulas de papel. (UOL)
Falando já como presidente eleito do Senado, Pacheco disse que as reformas serão retomadas “com urgência, mas sem atropelos”. Ele também se comprometeu a reunir líderes semanalmente para construir a pauta de votações, com vaga destinada à bancada feminina. (UOL)
Quem roubou a cena no Senado foi Kátia Abreu (PP-TO), que apareceu com uma saia feita com gravatas de 30 colegas, todas com o dono original devidamente identificado. (Folha)
Direita limpinha? Não tem mais, se é que um dia teve. PT e PDT? Apoiaram a candidatura bolsonarista no Senado. Impeachment? Não tem. Gente morrendo aos milhares, aprovação do governo em queda, mas o Congresso Nacional se pôs à venda. Fecha a tampa, diz Pedro Doria no Ponto de Partida. Assista no Youtube.
Coluna do Estadão: “O DEM, que cresceu em 2020 por se colocar como partido da direita ‘ponderada’, ‘democrática’, civilizada” e ‘liberal’ em contraponto ao bolsonarismo, pode até construir narrativas para disfarçar, mas o fato é: sua direção, personificada em ACM Neto, abraçou Jair Bolsonaro no Congresso, em disputa marcada por fisiologismo desvairado e pródiga em emendas, mesmo durante forte restrição orçamentária. Para Luciano Huck, convidado a ingressar no DEM, e João Doria, esperançoso de uma aliança, fica a dica: não há confiabilidade na sigla.” (Estadão)
Igor Gielow: Vitórias de Pirro são uma constante na política brasileira desde que ela entrou em modo entrópico, no hoje distante 2013. Nesta segunda, Jair Bolsonaro colheu mais uma dessas, nas quais o preço a pagar é muito maior do que o ganho auferido. O prazo de validade dela é brevíssimo. A ideia de que a eleição de Lira representa um seguro contra impeachment não prospera nem mesmo entre bolsonaristas menos hidrófobos. A outra função básica do apoio de Bolsonaro ao deputado, a de tentar destravar iniciativas do governo, é ainda menos tangível, até pela pulverização das bancadas.” (Folha)
Ascânio Seleme: “Houve uma época na vida política nacional em que a Câmara dos Deputados subordinava-se ao eleitor. Os movimentos das massas, o clamor das ruas, o rufar dos tambores mexiam com posições enraizadas, transformavam ‘verdades absolutas’ e forçavam deputados a votar de acordo com o pleito manifesto pela maioria. Talvez a explosão das mídias sociais tenha alguma parte nisso, já que os parlamentares falam apenas com os que os apoiam, com puxa-sacos, com sua curriola nos seus estados. Não ouvem o macro, o maior, o todo. O fato é que a Câmara elegeu Lira, candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro, que abriu o cofres em favor do deputado condenado em duas instâncias por peculato e lavagem de dinheiro e denunciado por outros crimes, inclusive violência doméstica. Sua posse lembrou a de Eduardo Cunha, com a gritaria entusiasmada do Centrão e do baixo clero. Houve até foguetório na Praça dos Três Poderes ao final da sessão.” (Globo)
Ao abrir ontem a primeira sessão do ano no STF, o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, fez uma defesa enfática da ciência e criticou o negacionismo em relação à Covid-19. E provocou desconforto em Jair Bolsonaro, que estava em pé ao seu lado.
O ministro do STF Ricardo Lewandowski levantou o sigilo sobre os diálogos travados entre o então juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava-Jato. Eles são cruciais no processo em que o ex-presidente Lula pede a suspeição de Moro, que o condenou. Mônica Bérgamo reproduz a íntegra das conversas. Veja aqui. (Folha)
Ancelmo Gois: “O juiz Rafael Estrela, da Vara de Execuções Penais do Rio, negou o pedido de unificação das penas a que foi condenado o ex-governador Sérgio Cabral em três processos diferentes que se encontram em execução provisória. Cabral está condenado, como se sabe, a 267 anos de prisão.” (Globo)
Diferentemente do movimento que parou o país em 2018, a greve de caminhoneiros iniciada ontem pouco se fez notar. Sucesso mesmo fez a intensa troca de notícias falsas nos grupos da categoria no Whatsapp. (Folha)
Fonte: Meio
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