*Atualizada pela última vez às 18h43 de 6 de janeiro de 2020
Apoiadores do presidente americano Donald Trump invadiram a sede do Congresso nesta quarta-feira (06/01), na capital de Washington, enquanto o processo de certificação da vitória de Joe Biden estava em andamento.
Alguns veículos da imprensa, como Associated Press, Fox News e CNN, publicaram a informação de que uma mulher foi baleada dentro do prédio do Legislativo, mas isso e seu estado de saúde ainda não foram confirmados oficialmente.
Depois de uma grande manifestação que contou com a presença de Trump em frente à Casa Branca, alguns participantes marcharam até o Capitólio para denunciar o que consideram uma fraude eleitoral — o republicano afirmou aos presentes que eles e seus apoiadores “nunca concederiam” a vitória de Biden.
Após enfrentar policiais nas entradas do Congresso, algumas pessoas conseguiram entrar no prédio, o que levou à suspensão das sessões no Senado e na Câmara e ao bloqueio de acesso aos corredores das duas casas.
Com isso, a prefeita de Washington D.C. anunciou um toque de recolher a partir de 18h no horário local (20h em Brasília).
Segundo Kayleigh McEnany, porta-voz da Casa Branca, a Guarda Nacional foi convocada para controlar a situação.
A certificação, que normalmente é uma mera cerimônia de formalização, se tornou um evento repleto de emoções e controvérsias neste ano, uma vez que Trump se recusa a reconhecer a idoneidade do processo eleitoral e sua derrota.
Vídeos postados por jornalistas nas redes sociais mostram confrontos entre policiais e manifestantes nos corredores do Capitólio.
O vice-presidente Mike Pence, que presidia a sessão de certificação, foi levado para um local seguro, enquanto outros parlamentares se abrigaram em seus gabinetes.
Funcionários do Congresso e jornalistas presentes no local relataram ter recebido ordens de se resguardar e colocar máscaras contra gás lacrimogêneo.
Os apoiadores do republicano que conseguiram entrar no Capitólio gritavam “We want Trump” (“Queremos Trump”) e tiravam fotos com estátuas e outras instalações da construção histórica.
Em um vídeo gravado na Casa Branca e publicado no Twitter, Trump pediu que os invasores do Capitólio vão para casa.
“Sei da sua dor. Sei que está machucado”, afirmou, alegando falsamente que a eleição foi “roubada”.
“Todo mundo sabe disso. Especialmente do outro lado (oponentes). Mas vocês precisam ir para casa agora.”
“Essa foi uma eleição fraudulenta, mas não podemos brincar nas mãos dessas pessoas. Temos que manter a paz.”
O pronuciamento de Trump veio minutos depois que o presidente eleito, o democrata Joe Biden, fez um discurso desde Wilmington, Delaware, pedindo que Trump desse “um passo à frente” e pedisse na TV “o fim desta ocupação”.
“Não é um protesto, é uma insurreição”, afirmou Biden, cobrando que os apoiadores de Trump “recuam e permitam que o trabalho da democracia siga em frente”.
Da festa à fúria
Há mais de uma semana, o presidente Trump havia convocado uma marcha de apoiadores em Washington D.C. para pressionar os congressistas a acatar os pedidos de objeção à vitória de Biden feitas pelos seus aliados. Milhares de pessoas, de estados como Geórgia, Michigan, Flórida, Kentucky dirigiram por horas para, como disse o empreiteiro Joe Shields, de 45 anos, “tentar impedir que roubem nossa democracia”. Shields e a mulher, Donna, carregavam uma placa na qual se lia “Trump ou Tirania”.
Eles se juntaram por volta das 9 horas da manhã, milhares de manifestantes que se reuniam em frente ao Obelisco da capital americana e entoavam cantos de “Mais quatro anos” e “Parem a roubalheira”. Embalados por músicas como ‘Macho Man’, do Village People, e agitando bandeiras americanas e da campanha trumpista, os manifestantes passaram horas ouvindo de aliados do presidente que estavam sendo enganados e que hoje seria o dia de revidar.
“Hoje é o dia em que os patriotas americanos começam a anotar nomes e detoná-los”, afirmou o deputado republicano Mo Brooks, o primeiro a oferecer uma objeção à vitória de Biden, sobre os colegas que não queriam embarcar na manobra política.
Mas o clima passou do festivo para o raivoso quando, por volta de meio-dia no horário de Wahington D.C., Trump iniciou seu discurso. O presidente retomou acusações sem provas de que a eleição foi roubada e se voltou contra os integrantes de seu próprio partido. Trump disse ao público que era preciso se “livrar de republicanos fracos”.
Via Twitter, ele foi ainda mais longe e atacou diretamente o vice-presidente Mike Pence por, a seu pedido, não alterar o resultado eleitoral, algo que legalmente ele não poderia fazer. “Mike Pence não tem coragem para fazer o que é preciso para proteger o nosso país”, escreveu o presidente.
Antes mesmo que Trump terminasse seu discurso, a multidão começou sua marcha em direção ao Congresso. Ao chegar aos arredores do prédio, souberam que do lado de dentro republicanos discursavam que acatar o pedido de Trump seria retirar a democracia do país do rumo.
O líder do partido no Senado, Mitch McConnell, afirmou que “nada diante de nós prova que houve em qualquer lugar ilegalidade próxima à escala necessária para ter definido a eleição. Nem pode a dúvida pública por si só justificar uma ruptura radical quando a própria dúvida foi incitada sem qualquer evidência”.
A partir daí, a pressão de milhares de pessoas do lado de fora do prédio não pode ser contida pela força policial.
Fonte: BBC News
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