Apesar da pandemia de coronavírus, que derrubou a atividade econômica e as emissões de carbono, e de um evento La Niña que, em tese, deveria ter resfriado o mundo, o ano de 2020 empatou com 2016 como como o mais quente já registrado. O dado, divulgado na última sexta-feira pelo Copernicus Climate Change Service, indicou ainda que a última década (2011-2020) se consolidou como a mais quente desde que os registros começaram a ser feitos.
A informação não chegou a causar surpresa. Em dezembro, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) já havia previsto que o ano passado alcançaria um aumento recorde de temperatura, e que esta elevação se aproximaria do limite de 1,5°C estabelecido no Acordo de Paris para evitar os piores efeitos da crise do clima. De acordo com o documento mais recente, 2020 foi 0,6°C mais quente do que o período de referência padrão de 1981-2010 e cerca de 1,25°C acima do período pré-industrial, de 1850-1900. Esses dados preocupam, pois “é preciso levar em conta que 2020 iguala o recorde de 2016, apesar de um resfriamento de La Niña”, indicou o serviço europeu de mudanças climáticas em comunicado à imprensa. O ano de 2016 havia sido marcado por um forte episódio do El Niño, fenômeno oceânico natural que provoca um aumento da temperatura e que, naquela ocasião, contribuiu para uma elevação de 0,1 a 0,2ºC.
Aqui no Brasil, os efeitos deste calor foram sentidos em diversas regiões. No início do ano, Belo Horizonte vivenciou a maior chuva de sua história. Em setembro e outubro, ondas de calor provocaram temperaturas recordes em Nova Maringá (MT) de 44,6°C e recordes históricos de temperatura em Cuiabá, Curitiba e Belo Horizonte. O destaque do relatório, no entanto, foi para a Europa, que teve seu ano mais quente já registrado, com 1,6°C acima do período de referência (1981-2010) e 0,4°C acima de 2019, que já havia sido o mais quente. Além disso, o documento destacou que o maior desvio anual de temperatura da média concentrou-se no Ártico e no norte da Sibéria, chegando a mais de 6°C acima da média.
As concentrações de CO2 ao longo de 2020 também ganharam destaque, já que elas seguiram aumentando apesar da queda drástica das atividades econômicas devido às restrições de circulação impostas pela pandemia. Vincent-Henri Peuch, Diretor do Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS), alertou que “embora as concentrações de dióxido de carbono tenham aumentado um pouco menos em 2020 do que em 2019, isso não é motivo para complacência. Até que as emissões globais líquidas sejam zeradas, o CO2 continuará a se acumular na atmosfera e impulsionar novas mudanças climáticas”.
Para Matthias Petschke, diretor de Espaço da instituição, os dados do relatório devem servir como um alerta, pois demonstram que “não temos tempo a perder. Devemos nos unir como uma comunidade global, para garantir uma transição justa para um futuro líquido zero. Será difícil, mas o custo da inação é muito alto”.
Fonte: O Eco/ Observatório do Clima
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