Trechos da floresta amazônica podem estar sob condições climáticas que vão além de sua capacidade de adaptação. Maiores taxas de mortalidade tem sido registradas para espécies susceptíveis à seca nesses trechos, alterando a estrutura da floresta, apontou estudo publicado no jornal ‘Nature Communications‘.
A resposta da floresta amazônica ao aquecimento global e às interferências humanas tem profundos desdobramentos para o sistema climático. Um deles é o ciclo global de carbono. Estima-se que a Amazônia represente 12% do sumidouro de carbono terrestre do planeta, e armazenando entre 150 e 200 bilhões de toneladas de carbono.
A saúde da floresta, portanto, influencia na troca de dióxido de carbono – CO2 – entre a atmosfera e os ecossistemas terrestres. O CO2 constitui um dos principais gases do efeito estufa, e o aumento de suas concentrações atmosféricas devido às emissões de atividades humanas tem levado ao rápido aquecimento global.
Se as emissões humanas estão lançando CO2 para a atmosfera, a Amazônia tem retirado parte desse CO2 da atmosfera e o armazenando em solos, troncos, folhas, entre outros. Mas as intervenções do homem, como a degradação e o desmatamento, junto com as alterações no clima, ameaçam a floresta e sua capacidade de absorver o dióxido de carbono.
Sequestro e morte de árvores
De acordo com o estudo, a distribuição espacial do sequestro de carbono na Amazônia varia em função da taxa de mortalidade de árvores em cada região. Avaliar, portanto, como a floresta responderá às ameaças atuais e futuras dependeria de um melhor conhecimento dos fatores relacionados à mortalidade.
Em geral, duas causas principais causam a morte de árvores. A primeira delas diz respeito à falhas fisiológicas, originada, por exemplo, por estresse ou por comprometimento do transporte de água no interior da árvore. A outra causa é a falha estrutural, quando tempestades ou queda de outras árvores provocam o desenraizamento ou a quebra do tronco.
Na Amazônia, a hipótese era de que falhas estruturais representariam a principal causa de mortalidade em regiões com climas mais úmidos – e portanto com mais tempestades. Em regiões com um período de estiagem mais intenso, a principal causa seria a falha fisiológica.
Pesquisa em campo
O estudo analisou a taxa e causas da mortalidade de árvores em 189 parcelas de inventário florestal distribuídas por toda a bacia amazônica. Em cada parcela, árvores foram medidas, marcadas e identificadas até o nível de espécie. O censo florestal, de longo prazo, acompanhou a evolução das espécies de cada parcela, com registro das árvores mortas.
As regiões com as menores taxas de mortalidade foram o norte e o centro-leste da Amazônia. O oeste e o sul da bacia apresentaram taxas 50% e 100% superiores de mortalidade. No entanto, não se verificou a suposta variação regional no predomínio de uma ou outra causa de mortalidade.
Em toda a Amazônia, causas fisiológicas e estruturais responderam pela morte de árvores na mesma proporção, ainda que as taxas de mortalidade total variassem muito de uma área para outra.
Verificou-se uma forte ligação entre a taxa de crescimento médio das espécies e o risco de mortalidade. As espécies com taxa de crescimento médio maior se mostraram as mais vulneráveis. Mas entre indivíduos da mesma espécie, aqueles de crescimento mais lento ficavam expostos a um risco maior de mortalidade.
Nas bordas do sul da floresta amazônica, os resultados indicaram que a seca é um fator importante de mortalidade de árvores. O risco de morte no sul da Amazônia se revelou maior para espécies menos tolerantes à seca.
A expectativa, porém, era de que as comunidades desse trecho da Amazônia estivessem adaptadas às condições secas, uma das características do clima da região. A mortalidade seletiva de algumas espécies mais vulneráveis sugere, portanto, que a região experimenta extremos climáticos que ultrapassam as condições às quais essas espécies estão adaptadas.
O trecho sul da floresta estaria em transformação, sob a influência de alterações no clima. Os resultados contribuirão na análise da resposta da Amazônia ao aquecimento no futuro.
Fonte: Ciência e Clima
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