“Ao lograr sucesso nesta empreitada, todos nós amazonenses sairemos ganhando. Serão mais turistas, mais empregos, mais investimentos, mais comércio, mais serviços, mais tributos.”
Farid Mendonça Junior
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Hotel luxuoso, categoria 5 estrelas no meio da Amazônia, precisamente na cidade de Manaus. Construído pelo Grupo Varig e inaugurado em 26 de março de 1976 com a presença do então presidente Ernesto Geisel, 9 anos depois da criação da Zona Franca de Manaus (1967), acompanhando a estratégia de ocupar para não entregar a Amazônia.
Com um estilo arquitetônico colonial, o ecoresort, rodeado pela floresta, chegou a possuir 611 apartamentos, além, é claro, de diversas opções de lazer para os turistas que lá se hospedavam: piscinas de onda, quadras de tênis, de areia para voleibol e futebol, playground, salão de jogos, cyber café, restaurantes com especialidades brasileira e internacional, bar, e até mesmo um zoológico, além da possibilidade de fazer caminhadas na selva, hidroginástica, ping ping, torneio de dardos, entre outras atividades.
Por lá passaram diversas celebridades nacionais e internacionais, como foi o caso do ex-presidente Bill Clinton, ex-presidentes Michel Temer, Dilma Roussef, Lula, Fernando Henrique Cardoso. Também estiverem lá o príncipe Charles e a princesa Diana,o cantor Elton John, o jogador Pelé, as cantoras Glória Gaylor e Ivete Sangalo, entre outros.
Em maio de 2019, o hotel fechou abarrotado de dívidas que se acumularam ao longo do tempo e com uma mega estrutura que já não parecia fazer sentido nos dias atuais. Devido ao seu estado antigo e necessitando de reformas que o enquadrasse aos tempos modernos com foco em custos mais baixos, tecnologia e, principalmente, eficiência energética.
Já em falência, foram feitas três tentativas de leilões. Alarmes falsos de algumas empresas que deram o lance, ganharam, mas não garantiram o valor.
Mas hoje, 11 de novembro de 2020, a história de idas e vindas dos leilões e o estado de abandono em que o hotel se encontra parecem ter chegado ao fim. A empresa amazonense Fametro anunciou que arrematou o hotel por aproximadamente 93 milhões de reais e, baseado em declarações nas redes sociais, demonstrou que tem interesse em continuar operacionalizando o ecoresort.
Dou os parabéns ao grupo Fametro por acreditar no turismo no Amazonas e na economia do país, ainda mais neste momento difícil que o país atravessa, seja pela questão da pandemia, seja pela grave crise fiscal que assola o estado brasileiro e que poderá comprometer nosso crescimento nos próximos anos.
Ao citar o turismo, quero expressar aqui o quanto o setor foi tratado de forma subalterna ao longo das diversas administrações que já passaram pelo Estado e pela Prefeitura, além é claro do governo federal. O turismo nunca foi uma prioridade aqui no Amazonas, o projeto Zona Franca de Manaus/Polo Industrial de Manaus sempre dominou a pauta. Veja, isto não é uma crítica ao nosso modelo, que é nosso ganho pão, mas sim uma crítica ao fato de juntos como sociedade (e isto envolve o governo e grande parte dos empresários), não termos sido capazes de fazer do turismo uma atividade sólida e pujante em nossa região.
Tivemos flashes ou picos de sucesso, como foi o caso da atração de turistas para a cidade de Manaus com o intuito de fazer compras de importados na década de 1980, ou com o sucesso do hotel Ariaú na década de 1990. Fora isso uma Copa do Mundo e uma Olimpíada que nos deixaram o “elefante branco” ou estádio que praticamente só serve para dar despesas para o Estado.
Citei também a questão fiscal, haja vista que cada vez mais a bola de neve das despesas do governo federal se sobrepõem às receitas, fazendo com que o Brasil tenha que se endividar cada vez mais por meio de títulos públicos, fazendo com que o percentual da dívida sobre o PIB só cresça, podendo alcançar 100% do PIB já neste ano ou no próximo. E a conta amarga vai chegando aos poucos por meio do mercado financeiro, que desconfiado, vai deixando de investir, retira o capital do Brasil, além de aumentar as taxas de juros dos títulos públicos. Isso tudo poderá comprometer o crescimento econômico do Brasil já a partir do próximo ano.
Como acreditar então no país? Porquê decidir fazer investimentos? Porquê comprar um hotel antigo, deteriorado e que vai exigir provavelmente um valor superior ao da arrematação para colocá-lo novamente em operação?
Estas são perguntas difíceis e desafiadoras principalmente para quem está comprando. Daí o porquê também de eu ter dado os parabéns por acreditar no país e desejar boa sorte.
Não resta dúvidas de que o negócio, a arrematação em si, foi excelente. Afinal, o hotel que tinha uma avaliação de R$ 250 milhões foi arrematado por R$ 93 milhões.
Talvez, o mais fácil a se fazer seria derrubar totalmente o hotel (haja vista a estrutura antiga e velha, e sua ampla horizontalidade) e construir condomínios residenciais de luxo. Um negócio muito mais certo e com lucro praticamente garantido, haja vista a demanda de endinheirados por este tipo de empreendimento.
Mas já que a intenção é continuar com o hotel, muito provavelmente reformas serão feitas para atualizar o ecoresort para um patamar mais condizente com os dias atuais, principalmente focando em tecnologia e eficiência energética (talvez parte em energia solar), devolvendo o encanto e o charme deste resort que muito nos lembra diversos filmes de Hollywood ou filmes de James Bond, como o Cassino Royale.
Por falar em cassino, existem intenções já solidificadas inclusive em projetos de lei no Congresso Nacional, que intentam legalizar a atividade no país.
E se (what if?) a atividade for legalizada e o hotel se tornar um resort com cassino? “Veja conhecer o Eldorado Amazônico e desfrutar do cassino no Hotel Tropical”. Quem sabe?
Espero que não tenhamos chegado tarde demais. Às vezes sinto que o bonde do cassino passou. Cada vez mais o jogo online invade a casa dos “gambling lovers” e já coloca em xeque até mesmo a cidade do jogo, Las Vegas, que já vê Estados vizinhos saltarem suas receitas apenas com os denominados jogos onlines, principalmente Poker e Black Jack.
Creio que a atração turística do Estado do Amazonas deve ser a floresta amazônica, transformada em opções de lazer variados, como parques (aquáticos, temáticos, etc), cachoeiras, trilhas, museus, rituais indígenas, torres de observação, aquário, entre inúmeras outras atrações que podem ser criadas com boas doses de criatividade.
Sempre acreditei e continuo acreditando que grande parte deste trabalho de investimentos no turismo deva ser feito por meio do capital internacional, como forma de queimar etapas e criar uma ligação próxima com a fonte de onde virá os turistas.
Mas em tempos de vacas magras e com capital internacional avesso à situação do país, temos que jogar com o capital nacional, e que bom que ele existe.
A missão de colocar o Tropical de volta em operacionalização não será simples e vai demandar muito dinheiro, mas creio que o mais difícil será a sustentabilidade econômica do hotel. Afinal, são mais de 600 apartamentos. Se há muita oferta na praça, temos que ir atrás da demanda, e a Fametro não poderá e/ou deverá ficar esperando apenas políticas públicas de atração de turistas para alcançar a referida sustentabilidade. A Fametro, no meu ponto de vista, terá que ir atrás dos turistas, na fonte, fazendo propaganda maciça para atraí-los.
Ao lograr sucesso nesta empreitada, todos nós amazonenses sairemos ganhando. Serão mais turistas, mais empregos, mais investimentos, mais comércio, mais serviços, mais tributos.
Parabéns aos empreendedores e que o sucesso chegue em breve! Afinal, o turismo precisa dar certo neste Estado.
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