A nossa população observa, em termos práticos, o retorno social dos investimentos em ciência e tecnologia que o Brasil fomentou desde a segunda metade do século passado e pôde, também, conhecer muitos dos nossos brilhantes cientistas.
Paulo R. Haddad(*)
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Ao longo dos últimos meses, enquanto presenciamos a evolução da pandemia do coronavírus no Brasil e no Mundo, constatamos algumas evidências que vêm sendo escancaradas através dos meios de comunicação. Uma delas é a intensidade e a amplitude da pobreza no Brasil. Os indicadores socioeconômicos que emergem nas imagens das condições de vida dos brasileiros pobres e miseráveis são constrangedores para um país que se coloca entre as dez maiores economias do Mundo, mas é também avaliado como o sétimo mais desigual, ficando atrás apenas de países africanos.São esses brasileiros que têm uma taxa de mortalidade virótica quase três vezes maior do que a média nacional.
Razões da penúria
As razões: não dispõem de recursos para alternativas ao transporte público, não possuem poupanças ou ativos para atravessar o período epidêmico, precisam auferir renda trabalhando formal ou informalmente, têm limitado acesso à oferta de serviços modernos de saúde pública.
Ranço populista
Uma segunda imagem, que se consolida na percepção popular, é a de que temos um amplo e diversificado grupo de cientistas, situados entre os mais avançados e progressistas no Mundo e que trabalham em instituições de ensino e pesquisa de padrão internacional. A nossa população observa, em termos práticos, o retorno social dos investimentos em ciência e tecnologia que o Brasil fomentou desde a segunda metade do século passado e pôde, também, conhecer muitos dos nossos brilhantes cientistas. Imagens que se contrapõem aos governantes populistas que preferem arregimentar a população contra a informação e o conhecimento científico, quando os indicadores técnicos e as descobertas dos cientistas confrontam os seus preconceitos e ignorância.
Equívoco perverso…
Em 1798, o Reverendo Robert Malthus analisou a questão do desequilíbrio entre a expansão geométrica da população e o crescimento aritmético da produção de alimentos como uma causa inevitável da miséria de algumas classes mais pobres da sociedade. Embora tenha apresentado obstáculos positivos e obstáculos preventivos que pudessem atenuar esse desequilíbrio, acreditava que o reequilíbrio se daria pelas condições de miséria, fome e morte, que se deterioravam pela insalubridade nas moradias e nos locais de trabalho, que facilitavam a propagação de epidemias e de pestes.A história mostrou que suas projeções estavam equivocadas tanto em termos de taxas de mortalidade e de natalidade quanto na subestimativa do gigantesco progresso tecnológico da agropecuária.
Reprise oportunista
No entanto, os seus argumentos sinistros reaparecem em situações de grandes crises socioeconômicas e socioambientais, criando uma desconfiança quase fatalista e ingênua de que, em determinados contextos, alguns resultados catastróficos são inevitáveis. Essa desconfiança está presente entre aqueles que não acreditam na capacidade das políticas públicas sociais e ambientais para reverter o avanço de desastres ou colapsos nos sistemas humanos e nos sistemas naturais.Essa desconfiança torna-se uma questão crítica quando se torna presente na forma de pensar e de tomar decisões de governantes que, ao enfrentar crises socioeconômicas, não respeitam as regras profiláticas do conhecimento científico acumulado e passam a comprometer milhares de vidas humanas.
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