POR UFSC
Um grupo de 36 cientistas de 17 países propõe diretrizes globais para o uso sustentável de árvores que não são nativas, as chamadas espécies exóticas, como forma de auxiliar na proteção da biodiversidade e dos ecossistemas. De acordo com os pesquisadores, as espécies exóticas, quando ocupam de forma ostensiva as áreas das espécies nativas, são chamadas de exóticas invasoras, e elas representam a terceira maior ameaça à biodiversidade, ficando atrás somente de alteração do uso do solo e das mudanças climáticas.
O artigo foi publicado na última quinta-feira, 8 de outubro, no periódico internacional NeoBiota, e tem como um dos coautores a professora Michele Dechoum, do Departamento de Ecologia e Zoologia do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O texto teve como base o Código de Conduta para Árvores Exóticas Invasoras preparado para o Conselho Europeu (Council of Europe – Bern Convention Code of Conduct on Invasive Alien Trees), que apresentou oito recomendações focadas na maximização de benefícios e na minimização de impactos negativos provocados por árvores exóticas.
As diretrizes incluem o uso de árvores nativas ou exóticas que não sejam invasoras, em vez das invasoras, e a consideração do risco de invasão e das tendências de mudança global, assim como o desenvolvimento e o apoio a redes globais, à pesquisa colaborativa e ao compartilhamento de informações sobre árvores nativas e exóticas. Os cientistas sugerem que as diretrizes são o primeiro passo para a construção de um acordo global sobre os cuidados que devem ser tomados ao se introduzir e plantar árvores exóticas, servindo para complementar requisitos já dispostos em legislação internacional e na legislação nacional de alguns países.
Segundo Michele, “há 67 espécies de árvores exóticas invasoras em todos os biomas brasileiros. Apesar de algumas delas terem relevância econômica, como é o caso de espécies de Pinus, é fundamental que medidas sejam tomadas de modo a regulamentar os tipos de uso permitidos e a minimizar a expansão a partir das áreas de plantio e os impactos negativos provocados. Somente dessa forma conseguiremos atingir nossos objetivos de desenvolvimento sustentável”.
A aplicação das diretrizes globais e o cumprimento de seus objetivos ajudarão a conservar a biodiversidade, a garantir uma silvicultura sustentável e a atingir vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas relacionados com a biodiversidade terrestre. Os cientistas alertam que, caso essas diretrizes globais não sejam cumpridas, dificilmente esses objetivos serão alcançados.
Os pesquisadores também chamam a atenção para o fato de que algumas grandes campanhas de plantio de árvores, como a 60 Million Trees Initiative, do governo de Madagascar, não especificam ou até incluem espécies exóticas no rol de árvores a serem plantadas – frequentemente para equilibrar interesses econômicos e ecológicos. Outra proposta semelhante incluiu 60 milhões de árvores plantadas na Itália – uma para cada cidadão italiano para combater as mudanças climáticas –, na qual uma mistura de árvores nativas e não nativas foi recomendada.
“Um desafio imenso é mostrar às pessoas e aos governos que ecossistemas não florestais têm um imenso valor, inclusive no enfrentamento à crise climática. Devemos ter critérios técnicos e não devemos plantar qualquer espécie de árvore em qualquer lugar. Florestas nativas também podem ser invadidas por árvores exóticas, e podem alterar completamente o funcionamento dessas florestas, impactando também os benefícios que são fundamentais ao bem estar humano”, explica Michele.
A professora complementa ainda que “as diretrizes globais oferecem recomendações gerais e fornecem uma estrutura básica e sugestões sobre ferramentas para planejar e implementar o uso sustentável de árvores exóticas. Nosso desafio vai ser adequar essas recomendações à nossa realidade, envolvendo a academia, órgãos de governo, setores econômicos, certificadoras e a sociedade como um todo. Nosso trabalho começa agora – ou melhor, já começou”.
Fonte: UFSC/Ciência e Clima
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