Meio atordoado com as pressões interministeriais que não acabam nem ficam poucas, dessa vez obrigando a indústria de televisores a utilizar um software a partir de 2021 que nem está pronto, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, e vice-presidente da CNI, empresário Antônio Silva, não se deixa abater. “Vamos brigar contra as poderosas Emissoras de TV, e venceremos se nos mantivermos juntos”. Confira a entrevista
—- Por Alfredo Lopes ——
BrasilAmazoniaAgora: Nós estamos vivendo a eterna noite do sufoco. A última novidade é uma imposição inaceitável do governo federal em obrigar os fabricante de televisores do Polo Industrial de Manaus a incorporar, a partir do próximo ano, um software que ainda não teve concluída sua construção para essa finalidade. Qual é sua opinião a respeito?
Antônio Silva – O Polo de Eletroeletrônicos da Zona Franca de Manaus é uma de nossas maiores conquistas. Juntamente com o Polo de Duas Rodas, de Concentrados e o de Informática, ajuda a compor a força de nossa capacidade produtiva, que responde por mais de 80% de nossa economia estadual. A medida do governo vai espalhar prejuízos e mais desemprego no pós-pandemia, época em que todos estaremos juntando os pedaços do que restou dessa tragédia sanitária para reconstruir nossa rotina produtiva. Vamos ter que brigar contra as poderosas Emissoras de TV, e venceremos se nos mantivermos juntos.
BAA- E qual a origem ou a razão de mais um ataque à economia do Amazonas?
A.S. – Isso consta da Portaria Interministerial n. 40, de 24 de julho último, e decorre de uma imposição das tais Emissoras, assustadas com a queda de audiência e de anunciantes, enquanto percebem sua desvantagem crescente na guerra contra os Smartphones. Com esse software/middleware, as Emissoras vão poder interagir diretamente com seus telespectadores. Daí a pressa desesperada, a despeito dos insistentes alertas e declamatórias junto aos dois ministérios, Economia e Ciência e Tecnologia de nossas entidades, em especial da ELETROS.
BAA – Os prejuízos são imediatos e inevitáveis?
A.S.– Sem dúvidas… Isso implicou em quebra de configuração do PPB, o processo produtivo básico de televisão, feita à revelia pelo próprio governo federal. E quem não se adequar vai se quebrar, pois não terá como arcar com multas e perda toda a contrapartida fiscal. Ou seja, vão pagar os mesmos impostos de quem produz no Sudeste e sua infraestrutura de nos fazer inveja. O pior: este software/middleware não foi concluído. E ninguém sabe se a promessa de sua disponibilidade será cumprida.
BAA – O que se pode deduzir desta atitude em clima de Reforma Fiscal, com uma medida aloprada que vira as costas para o Amazonas, mais uma vez, um Estado permanentemente sobressaltado e acossado pela maledicência e difamação tão somente por utilizar 8% do total das isenções do Brasil?
A.S. – Quem sabe o que estamos passando somos apenas os que aqui trabalhamos. Os demais estão preocupados com seus quinhões. Nosso problema não é apenas a falta de uma comunicação mais ousada em horário nobre como o Agronegócio. Mais preocupante em tudo isso é a falta de brasilidade de outras regiões do país. Temos dito com insistência nossa contribuição com a geração de emprego, com os serviços ambientais, com a balança comercial ao produzir itens que outrora eram importados, mas a impressão que temos é de que nada disso importa. Por isso temos que estar mais unidos, mais ativos e mais protagonistas. Temos uma bancada parlamentar federal muito coesa e muito focada nos interesses da sociedade. Por isso, vamos contar com este apoio para reverter essa situação extremamente preocupante.
BAA – E trabalhar em conjunto sempre foi o nosso maior desafio. Isso está mudando?
A.S. – Você conjugou o verbo no tempo exato. Foi nosso maior desafio. Temos dado um exemplo, sem falsa modéstia, a todo o Brasil, nesta pandemia de como é bom e frutuoso trabalhar em conjunto e com foco. A indústria foi ágil e firme neste enfrentamento. Desde março, já já fizemos 19 Conferências no Comitê Indústria ZFM Covid-19, reunindo lideranças empresariais, com quase 100% de sugestões feitas e realizadas, tanto na direção de revisar profundamente nosso programa de desenvolvimento regional, a Zona Franca de Manaus, como principalmente arregaçar as mangas para acudir os mais atingidos, tanto pela peste como pela fome. Trouxemos os maiores especialistas locais e nacionais para debater e encaminhar problemas e soluções, e tivemos presença e apoio da nossa representação parlamentar no Congresso Nacional. E instalamos um timaço de voluntários na Ação Social Integrada para produzir EPIs – os importados que deveriam chegar da Ásia, ficaram pelo caminho – e proteger os profissionais de saúde na linha de frente da guerra contra o vírus. Tanto no Amazonas como nos Estados vizinhos. E, ato simultâneo e contínuo, coletamos junto às empresas associadas à Federação e Centro da Indústria do Estado do Amazonas, à ELETROS e ABRACICLO, entidades responsáveis pelo COMITÊ, e entre nossos fornecedores de serviços, mais de 240 toneladas de mantimentos para as populações socialmente vulneráveis da periferia de Manaus, dos Refugiados, Comunidades Indígenas, entre outras. O povo estava passando fome e, todos sabem, quem tem fome tem pressa. São quatro meses de aprendizado e de descobertas. Aprendemos a trabalhar juntos e descobrimos o óbvio: juntos, estamos mais fortes!
BAA – E quais são as perspectivas de manutenção da economia do Amazonas na Reforma Fiscal?
A.S. – Se cochilar o cachimbo cai, como diz nosso caboclo. Estamos de vigília e muito atentos. Temos clareza que uma das propostas em pauta não nos quer ver por perto. E que o Brasil do Sul não está preocupado com o Brasil do Norte. Essa proposta, a PEC-45, quer impor uma formulação fiscal tratando o Brasil como se fôssemos o Jardim Europa, da capital paulista, onde moram os magnatas. Somos pobre, não temos como pagar o mesmo imposto sobre bens e serviços pagos pelo Sudeste. Mas esta não será nossa última batalha. Teremos que vencer muitas guerras para conseguir trabalhar sossegados. A Lei está do nosso lado, mesmo vivendo num país que costuma zombar do Estatuto Legal. E isso tem nos dado vitórias e vigor. No último dia 27, no final de mais uma Conferência, o professor José Alberto Costa Machado, um colaborador desta luta, sugeriu uma grande ideia: promover os Serviços Ambientais do Amazonas ao patamar universal de reconhecimento do programa Zona Franca de Manaus, um verdadeira Política Nacional de Proteção da Amazônia, a única indústria do mundo que ajuda o mundo a respirar melhor. Este é mais um exemplo e produto de nossa união, do Comitê Indústria ZFM Covid-19, de energias boas para fazer o bem-comum: “Junte-se aos bons e serás um deles”!!!
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