Foto: Arthur Lopes
“É vital e elementar debruçarmo-nos sobre a estrutura e o funcionamento da fotossíntese para conhecer esta matriz econômica que a Bioeconomia significa e que pode nos levar ao panteão mundial na produção sustentável de alimentos, energia, fármacos e toda a riqueza da dermocosmética”.
Alfredo Lopes
——Por Alfredo Lopes—–
Temos que entrar num acordo, ao menos no nível conceitual, na temporada crescente de caça às bruxas no país, sobre o que chamamos de Bioeconomia e qual a importância/emergência de sua interlocução com o Agronegócio. O termo Bioeconomia está na ordem do dia e chegou ao patamar messiânico do discurso oficial. Se não conotarmos o conceito com sobriedade e transparência, corremos o risco de seguir a reboque de um debate crucial para o adensamento e diversificação inteligente de nossa economia e resguardo de nossa sobrevivência. Não podemos minimizar a importância de eleger as condições deste novo cenário socioeconômico.
A dinâmica do carbono
O Inpa, a maior referência de investigação dos biomas tropicais, hoje é a maior autoridade global em dinâmica florestal do carbono e do papel essencial da fotossíntese para assegurar as bases da Bioeconomia. Ou seja, estamos falando da mimetização (imitação) e valoração da natureza como fonte de equilíbrio climático, matriz energética e sobretudo alimentar, tarefas rotineiras de nossa biodiversidade. Contabilizar a dinâmica do carbono, ordenar sua captura e armazenamento através do conhecimento aprofundado da Biotecnologia, é o fio da meada dessa conceituação.
É vital e elementar debruçarmo-nos sobre a estrutura e o funcionamento da fotossíntese para conhecer esta matriz econômica que a Bioeconomia significa e que pode nos levar ao panteão mundial na produção de alimentos, energia, fármacos e toda a riqueza da dermocosmética.
Debate estéril
“Falta Ciência ao debate de interlocução entre Bioeconomia e Agronegócio”, tem repetido o ex-ministro Alysson Paulinelli, responsável pela modernização da Embrapa e mentor da agricultura tropical sustentável que notabilizou o país. Apesar disso, o debate paroquial trata a Bioeconomia como panaceia para todos os males, sem clarear suas premissas nem requisitos de implantação.
Por outro lado, o Agronegócio tem sido satanizado por suas emissões supostamente descontroladas de carbono. Decididamente temos que organizar a conversa, promover sua interatividade e mapear seus benefícios à luz de nossa contribuição para o desafio de fornecer alimentos, energia e outros serviços ambientais que atendam às demandas assustadoras dos iminentes 10 bilhões de terráqueos do planeta.
O retorno à natureza
O primeiro passo, portanto, é voltar à natureza, dessacralizando seu papel. Dendrolatria, a adoração da intocabilidade florestal, é veneração equivocada. Ou aprendemos a manejá-la ou perecemos todos, de escassez e de constrangimento. Chega de tratar a floresta como entidade teológica e mitológica. À luz do esgotamento dos combustíveis fósseis, como modelagem estrutural de energia e produção de alimentos, temos que meditar sobre a dinâmica vital da fotossíntese, e sua capacidade miraculosa de transformar carbono em oxigênio para o reequilíbrio climático e, especialmente, como incremento da produção de biomassa, a expertise extraordinária de geração de riqueza, essa plataforma vitoriosa do Agronegócio. Ou seja, resta-nos manejar, com rigor científico e parcimônia inteligente, nossos recursos florestais, a exuberância socioeconômica e ambiental da Amazônia.
Agronomia tropical sustentável
Com a Embrapa, o Brasil tomou a dianteira global na sistematização da agronomia sustentável e competente no cenário global. Se persistem emissões insustentáveis isso não é tragédia é desafio. Por isso, avança a cada dia essa fecunda equação entre Lavoura, Pecuária e Floresta criada pelos agrônomos da instituição. É curioso e emblemático recordar que os laboratórios do CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia, consolidou há dez anos uma metodologia de propagação de espécies, desenvolvida na Embrapa para melhoramento e multiplicação assexuada do curauá e da ipeca, ou poaia. São duas referências amazônicas de alto valor comercial.
Caso os biotecnólogos tivessem levado os clones para plantio e utilizado toda a cadeia de propagação tão comum na agricultura de resultados, esses dois itens já teriam impulsionado outras espécies, produzidas in vitro e cultivadas em solo de qualidade. De quebra, poderiam dizer ao general Mourão que Bioeconomia deixou o status de fantasia.
A civilização predatória
Fomos açodados no desperdício dos recursos naturais. Hoje, a escassez e o risco da insegurança alimentar nos obrigam a implantar a civilização da sobriedade. Com ela podemos aprender a propagar em escala o manejo dos estoques madeireiros, essencial para adensar e renovar a floresta e vital para incrementar a produção de biomassa. Isso faz ressignificar o papel de vilão exercido pelo carbono no aquecimento global. Assim, ele passaria a denominar-se carbono do bem, para usar um jargão maniqueísta, quando ele se integrasse à produção dos insumos de que a indústria de alimentos, cosméticos, fármacos, eletricidade, calefação ou refrigeração necessitam. Dispomos desse conhecimento na Amazônia e da fotossíntese, o milagre permanente da revitalização florestal.
Tecnologias inovadoras
O que os ecologistas precisam compreender é que o desafio socioambiental é desenvolver tecnologias inovadoras e efetivas no incremento dos recursos naturais de que a humanidade padece, para construir a sociedade obrigatoriamente sustentável e parcimoniosa. Dispomos de recursos financeiros e um almoxarifado imensurável de princípios ativos e soluções para as mazelas de saúde e exclusão social. Voltaremos
(*) Alfredo é filósofo e escritor, com 11 títulos publicados sobre a Amazônia e mais de 2 mil ensaios. É Editor-Geral do portal https://brasilamazoniaagora.com.br
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