Na leitura dos fatos que indicam mudanças estruturais iminentes na economia do Amazonas, o presidente do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas, Wilson Périco, foi mais uma vez enfático: “O que é preocupante é que não vemos nenhuma proposta do nosso Estado para contribuir com a reforma tributária”. Que lugar ocuparemos nessa ótica da gestão liberal que anuncia um novo paradigma tributário, indiferente às demandas sociais e aos estados mais empobrecidos. “Só fazemos choramingar, reclamar, como se fôssemos coitadinhos. E não somos!”, arremata o dirigente classista. Para ele, é inaceitável que, sendo a sétima economia do Brasil, mais de 47,9% da população do Amazonas esteja abaixo da linha da pobreza, segundo o IBGE, e que a quantidade de pessoas na extrema pobreza aumentou de 13,8% para 14,4% entre 2016 e 2017.
E é claro que as pessoas nos perguntem aonde foi parar a riqueza gerada pela Indústria? Essa questão precisa ser enfrentada de uma vez por todas. Caso contrário, nunca teremos argumentos para exigir a distribuição da riqueza como determina a Lei. Hoje, 60% dos recursos aqui produzidos são para sustentar a máquina pública. É um capitalismo às avessas em que o gestor da maior parte da riqueza é o governo, voraz e insaciável. Nesta terça-feira, dados do IBGE atestam que o Amazonas é o Estado mais açoitado pelo desemprego desde 2016.
Desindustrialização e deterioração factível
Um relato de fonte segura, colhido nos corredores ministeriais, traduz o quadro delicado de sobrevivência da economia do Amazonas. “O que se vê e o que se ouve por aqui é que o governo não vai fazer nada pela ZFM, nem para destruir diretamente muito menos para resguardar sua continuidade. Nenhum técnico, praticamente, está aqui em Brasília preocupado com isso. E quando esbarram com alguém vindo de nossa região dizem apenas coisas assim: Vocês são contra a tendência da abertura comercial, da tributação, da competitividade e da inovação”. Ou seja, essa verborragia sem compromisso sinaliza equivale a um tiro na cabeça. Um tiro de misericórdia a longo prazo, no fim do qual estaríamos todos depauperados. Se não houver um alinhamento solidário e construtivo os dias ficarão sombrios ao sabor do esvaziamento progressivo.
Silêncio dos militares
Historicamente registramos uma convivência saudável e colaborativa entre as entidades de classe do setor produtivo, a Suframa e os demais órgãos Federais da região, particularmente as Forças Armadas, de onde surgiu a ideia da ZFM. Afinal, no que se refere aos militares, estamos falando dos formuladores desta economia de acertos. Temos registros dos atores/ gestores do Comando Militar da Amazônia, grandes parceiros na luta pela infraestrutura de transporte, energia e comunicação. Hoje há um silêncio expressivo das lideranças ‘O Brasil nos trata como colônia’, desabafou o general Eduardo Villas Bôas, há seis anos, numa entrevista à Folha de São Paulo. “Temos metade do nosso território a ser ocupado, integrado à dinâmica da sociedade. A Amazônia, como não está integrada ao país, não há conhecimento no sul da sua realidade, seu potencial. É como se fosse uma colônia do Brasil. Ela não é analisada, interpretada, estudada e compreendida numa visão centrada da própria Amazônia. Isso nos coloca numa posição periférica”.
Precisamos alinhar discurso e iniciativas
A União Federal tem nos tratado como cidadãos de segunda classe. O que se constata num momento é um sentimento generalizado de insegurança e o travamento de atitudes que possam encaminhar as medidas cabíveis na luta pela sobrevida econômica. A informação de que não haverá medidas combativas ao modelo ZFM- ou seja ninguém buscará nos atingir – significa sinal verde à desindustrialização progressiva, esvaziamento de projetos e um estímulo deliberado para avançarmos em direção a floresta e, com sua depredação, construir um futuro economicamente incerto, ambientalmente desastroso, politicamente aloprado e sociambientalmente trágico. Como reagir na formulação de um projeto próprio e alternativo para resguardar a economia regional se a fogueira das vaidades locais continua como pauta essencial de personagens considerados decisivos.
Economia versus Egolatria Alguns grupos setoriais, em lugar de propor um mutirão de análises, propostas e encaminhamentos, priorizam a estratégia insana do “nós contra eles”. Dedicam-se a santanizar os adversários, como se qualquer debate diferente do vade-mécum revanchista significasse a composição com os enviados do demônio. Lemos em alguns grupos que não há porque se preocupar diante da iminente reforma fiscal que esvaziará os atrativos fiscais das empresas aqui instaladas. “ Temos a floresta e seus ativos, suficientes para substituir os recursos do Polo Industrial de Manaus”. Voltar-se para a floresta com os paradigmas predatórios desta civilização destrutiva significa assumir o caminho dos caos. Perde-se a chance do entendimento na medida em que o clima eleitoreiro permanece no cotidiano de militantes ensandecidos.
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