Enquanto seus colegas da academia entravam de férias, dois professores da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) – Augusto César Barreto Rocha e Sandro Breval Santiago – foram se esbaldar em centros avançados de pesquisa, desenvolvimento e inovação. No destino, o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos Estados Unidos, e o Centro de Inovação e Indústria de Amberg e Regensburg, na Alemanha. A intenção: aprimorar conceitos e práticas relacionadas à inovação para o PIM (Polo Industrial de Manaus) dentro do desafio de antecipar, até aqui, a utopia da Indústria 4.0.
Fizemos duas perguntas a ambos sob o critério do interesse do público nessa preciosa e instigante caminhada para um futuro que já começou. Confira.
Follow UP – Num relato sintético, como você descreve sua recente viagem aos EUA na perspectiva da instrumentação da Indústria 4.0 no Amazonas?
Augusto Barreto Rocha – As Experiências no MIT me encantam. Tenho feito o esforço ao longo dos últimos anos de ir periodicamente lá e tem sido muito valioso para as minhas atividades profissionais. Para a Instrumentação no Amazonas, poderei usar os conhecimentos e contatos para contribuir por meio da Ufam em projetos de P&D, pesquisa e desenvolvimento com as indústrias do PIM, Polo Industrial de Manaus. Também usarei as informações e literatura acadêmica para melhorar aulas de mestrado e doutorado, onde temos na Universidade muitos alunos do PIM e empresários. Entendo que a aproximação dos grandes centros globais de tecnologias ajudarão a agilizar a nossa busca pela modernização de nossas indústrias.
Sandro Breval – Dentre as tecnologias utilizadas, na Indústria 4.0, podemos observar a importância do “Digital Twin” ou seja a cópia da fábrica desenvolvida digitalmente, e que tem a possibilidade de interagir com o ambiente físico e vice-versa. A exemplo da empresa Siemens que desenvolveu essa visão para o produto, processo e performance.
De um lado temos o mundo físico com seus recursos e produção, e de outro o virtual com possibilidades de simulação, de previsão e dentre outras funcionalidades, e o mais importante suas interações, e daí surgem inúmeras possibilidades no âmbito da inteligência artificial.
Podemos desenvolver fábricas virtuais aqui no Amazonas, já que não depende de geografia, de clima e sobretudo de logística, podemos ser grande fornecedores desse tipo de solução. Veja que virtualmente podemos estar presentes, em plantas industriais em diversos continentes. O requisito para isso são escolas de alto nível de engenharia de software, computação e afins.
O exército laranja está chegando (robôs) precisamos, urgentemente, definir: se vamos controlá-los ou se vamos ser substituídos.
Follow Up – Como você pretende disseminar essas informações e quais parceiros você acha indispensáveis para dar sequência a este desafio?
Augusto Rocha – Há também uma preocupação que os modelos que adotemos em Manaus tenham uma aderência expressiva com a nossa realidade. Nos EUA, os métodos defendidos pelo MIT me pareceram muito mais aderentes com a nossa realidade que os métodos Europeus. Precisamos ter o cuidado de adequar a implantação da indústria 4.0 com a dinâmica local, com nossos problemas logísticos. É necessário que a Suframa e o Ministério da Economia se sensibilizem, com esta questão para que influenciem nossa indústria no caminho do desenvolvimento da mão de obra local e não da simples robotização cheia de caixas pretas estrangeiras, com uso de ferramentas e métodos locais.
Sandro Breval – Acredito que a academia precisa, e agora mais do que nunca, se abraçar com as indústrias e buscar o desenvolvimento de soluções, a exemplo de projetos de pesquisa e desenvolvimento, que propiciem nossa independência tecnológica. Nesse talante, a criação de um ecossistema tecnológico traz a latente necessidade do aprofundamento de nossas prioridades regionais, mas com um olhar sem fronteiras.
Em Regensburg, em uma fábrica da BMW, pude perceber que a Indústria 4.0 traz em si, uma premissa básica: aplicar tecnologia para ganho de valor adicionado. Portanto, podemos inferir que de nossa região podemos nos integrar com soluções, sem obstáculos. Por fim, vejo um importante Polo Digital nascendo com bases sólidas na virtualização para diversos setores.
(*) Augusto Barreto Rocha– Principais atividades acadêmicas Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela Ufam (1998). Possui ainda certificado em Estratégia e Inovação (2012) e Gestão & Liderança (2013) pelo Massachusets Institute of Technology-Estados Unidos. Atualmente é professor da Universidade Federal do Amazonas. Também atua como coordenador do comitê de logística do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas e diretor adjunto da mesma área na Federação da Indústria do Estado do Amazonas. Tem experiência na área de Gestão de Negócios, atuando principalmente nos seguintes temas: gestão, inovação, sistemas de informação, indicadores e logística.
(**) Sandro Breval – Principais atividades acadêmicas – Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Mestrado em Engenharia de Produção Pela Universidade do Amazonas (2009), Especialização em Gerência Financeira Empresarial e graduação em adminsitração pela Universidade Federal do Amazonas (2000). Experiência em direção e gerenciamento no segmento industrial com destaque para Metal-Mecânico, em tecnologia da informação, atuando em implantação de ERP e automação bancária. Professor da Ufam. Especialização: Universidade de Chicago (EUA) Finanças e Políticas Públicas Insead (França) Gestão Estratégica, Wharton School (EUA) Strategy and Business Innovation, Insead (Madrid) Alta performance em Liderança.
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